sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Estórias em Maputo (15)

Decididamente, Janeiro é o mês que traz à nossa memória as lembranças dos históricos momentos, que todos querem que continuem onde ficaram, da década de 80 em que sem razão aparente longas «bichas» se formavam à porta das Cooperativas de Consumo e muitas vezes só se tomava conta do que se vendia diante da porta.

No príncipio do mês, assistimos a filas longas, de marchar lento, sob o lamento de pais e mães (algumas com crianças pequenas e bébés às costas) que, com a mesma desculpa estapafúrdia de sempre, se prostraram diante das Conservatórias do Registo Civil e dos Serviços de Notariado. Motivo : registar o nascimento de crianças, grosso modo, com 6 anos ou por completar este ano, para iniciarem o percurso escolar pela primeira vez em suas vidas e autenticar documentos que são passíveis de o sê-lo nas próprias escolas.

Passado que foi este momento, em algumas escolas públicas, tidas como «as mais mais», sobretudo na zona nobre da town, pais e encarregados de educação há que, na noite ou madrugada anterior, se formaram em fila indiana para garantir uma vaga para seus petizes. Resultante de tanta procura, afinal a «bicha» isso reflectiu, grande número desses pais não conseguiu a ansiada vaga e teve, seguramente, que recorrer a outras escolas próximas que, por não gozarem de prestígio igual, andaram às moscas.

Em paralelo, outra «bicha» oculta se formou : a dos esquemas. Existem escolas que introduziram o 2° ciclo do secundário e que formaram um número desproporcional de turmas para o número de estudantes graduados do ciclo anterior. Consequência : alunos anteriormente internos acabaram externos e, sobretudo os do curso nocturno, tiveram, para continuar os seus estudos que comprar vagas, entre 2500 à 4500Mt.

Com a matrícula garantida, na ou fora da escola de eleição, «na boa» ou na porta do cavalo, o contigente de pais, encarregados de educação e estudantes, marchou em massa para a zona Baixa da cidade com o intuito de adquirir o material básico para o início do ano lectivo. Apesar de Janeiro ser o tal mês, em que as finanças roçam o chão, nesses locais, outras enchentes e filas se formaram e só valeu a pena porque onde há «bicha», os preços são acessíveis.

Ah, com a abertura do ano lectivo, que teve como ponto forte a transferência do sistema educativo da insituição de tutela (Educação) para o Municipio, «bichas» barulhentas se instalaram nos corredores das direcções das escolas. Motivo : os nomes de muitos estudantes não figuram na lista nominal das turmas já formadas quer porque os alunos, ao mudarem de ciclo, não se (re)matricularam, quer porque as vagas entraram no sistema.

Quase nenhum intervalo houve entre um acontecimento e outro, o movimento da Baixa transferiu-se para a zona alta da town. A lufa-lufa da «bicha» é agora com o fardamento que, em princípio, as tais casas levam 15 ou mais dias a costurar, numa corrida contra o relógio de algumas direcções de escola que determinaram o dia 1 de Fevereiro como data limite. Num alfaiate do dumba nengue, a farda até sai barata, mas o bolso com o timbre da escola acaba saindo ao preço de uma camisa…

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