quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Estórias de Maputo (5)

Diz, quem está atento, que tudo se complicou quando Moçambique foi abalado pela guerra civil (?) que em nome da democracia (?) devastou todo o país. Com essa guerra, a procura de locais seguros levou a que muita gente se preocupasse em procurar segurança em casa de familiares que viviam nas grandes cidades.

As consequências dessa procura, não se fizeram tardar: superpovoada a cidade rebentou as costuras! Ao saltarem as linhas dessa costura, rebentaram-se fossas e as casas, preparadas para acolher determinado número de habitantes, começaram a acolher o dobro, o triplo e até o quadrúplo de habitantes no mesmo espaço.

Algumas pessoas, que não tinham familiares ou cujos familiares não os podiam acolher, construíram casas "à rasca" em locais inadequados para a contrução e habitação por não reunirem condições adequadas de saneamento como, por exemplo, nas duas margens do troço entre a antiga Maquinag (hoje ISDB) e a portagem de Maputo.

Na cidade de pedra, posto que algumas casas dispunham de cómodos extras para arrumos (dependências e caves) estes serviram de local de habitação. Felizmente, com o advento da paz, criaram-se condições para que cada um retornasse ao seu local de origem e alguns assim o fizeram mas, um número significativo persistiu e insistiu em viver na town.

Alguns, mais moralizados com a paz, enveredaram pela auto-construção e com isso nasceram novos bairros residenciais, alargando o território da Grande Maputo. Outros houve também que, com espirito empreendedor, enveredaram pelo mesmo caminho, deixando as suas casas da town arrendadas ou fazendo o inverso.

Na town, a bulha por um tecto continua. Visto que muitas dependências, conhecidas como "depes", são microscópicas, pois albergam famílias inteiras, os citadinos começaram a transformá-las aumentando cómodos. Mesmo em terraços, onde as depes formam-se pelo caimento do tecto, sob risco de desabarem, ocorrem transformações que as tornam flats e as valorizam no mercado imobiliário.

Também nos bairros da periferia, as depes são um negócio em alta! Se antigamente casas com quintais enormes eram admirados, hoje admiram-se as casas com maior número de dependências nos seus fundos. Bem feitas as contas, depe ou flat, humanamente modificada, o mais importante mesmo é viver na Grande town!

7 comentários:

Anónimo disse...

Quando a Frelimo tomou o poder oficial, a 25 de Junho de 1975, ninguem votou nem se realizaram eleicoes em Mocambique. Havia muita gente descontente, eu fazia parte desse grupo, mas sempre nos foi negado o direito ao voto... Nao concordo com nenhum tipo de guerras ou violencia, mas se hoje existe a democracia em Mocambique, em parte, podemos agradecer a Renamo, que lutou para isso, atraves de uma guerra civil que devastou o pais. No tempo de S. Machel vivia-se uma verdadeira opressao, uma ditadura que nao tinha limites, um clima de medo e tristeza. Quem nasceu na decada de 60 e mesmo principios de 70, deve recordar-se. Monopartidarismo nao tem funcionado em Africa. Apesar de ser simpatizante do MDM, agradeco a Renamo o facto de hoje podermos votar.
Depois da guerra terminar, o ideal seria as pessoas terem voltado as suas origens, o que nao aconteceu. Lembro-me de que as casas estavam ruindo pelas costuras, devido ao numero exagerado de habitantes, nem sequer entrarei em pormenores sobre o que acontecia em muitos predios.
Maria Helena

Ximbitane disse...

Obrigada pelo seu contributo, Maria Helena e bem hajam os que nos deram a ferramenta do voto.

Volte sempre

joaninha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
joaninha disse...

no próximo dia 29 de Setembro passará o 26º ano que deixei Maputo. Não totalmente porque um pouco do meu coração ficou por lá, bem como amigos e amor ao meu trabalho. Ensinei na Escola Secundária da Maxaquene, no Josina Machel e depois fui para as Nações Unidas (FAO) porque línguas era a minha carreira e assim fui chamada a colaborar com o Ministério da Agricultura para apoiar os cooperantes de várias línguas.
Entre 82 e Set.83 estive na OMS com funções semelhantes. Adorei.
Por razões de organização familiar vim para Portugal, minha terra natal. Não voltei a Maputo porque nada proporcionou que assim acontecesse, mas tive pena, porque quando ingressei no voluntariado como prof. numa Universidade Sénior, fui abordada para dar o meu contributo em Maputo, o que faria de alma e coração, mas desabrochou no pulmão direito um carcinoma das células pequenas... e os projectos foram-se. Tratado que ficou este, apareceu outro na supra-renal direita e uma vez mais os projectos adiados...
O texto apresentado mostra o que se começava a verificar quando vim. Gostei muito de o ler e levou-me até lá.
Deixo-te um beijo.
sem querer repeti, por isso apaguei um comentário. Bjsss

AGRY disse...

Quando a FRELIMO chegou ao Poder havia gente descontente? Certamente que sim mas, creio ,que havia muito mais gente desagradada antes da independência de Moçambique,não será?
Depois, a democracia é algo de que todos falamos e poucos sabemos do que estamos a falar.
Se falarmos de justiça social e de melhor distribuição da riqueza talvez possamos começar a entender o verdadeiro significado de democracia. Um homem com fome não é um homem livre!

Ximbitane disse...

Oh, Joaninha! Creio que umas ferias por estas paragens fariam bem a essas celulas doi-doi...

Bjinhos

Ximbitane disse...

Belas questoes, Agry! Infelizmente nao tenho resposta, era tao pequenina, do tamanho de um botao...