segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Professores fast food

Nos últimos tempos universidades, escolas superiores técnicas, simples escolas, institutos, centros de formação psico-pedagógica e profissional tem vindo a crescer por forma a responder as necessidades do país, em geral, e a demanda do moçambicano, em particular. Mas será que este crescer de números esta a ser proporcionalmente acompanhado pela démarche qualité?

Após o boom de procura de escolas, derivado das movimentações da população fugindo a guerra civil que graçou o país e depois, aquando da chegada e instalação da paz, quando estas mesmas populações decidiram instalar-se definitivamente nas cidades e nas zonas periféricas a esta, houve necessidade de rever, refazer e reconstruir o sistema de ensino nacional.

Para além da adopção de um novo currículo, o SNE, uma das soluções encontradas para responder a avalanche, foi a introdução de turnos duplos, triplos e quadrúplos para lidar com a falta de salas de aulas e, ao mesmo tempo, com a falta de professores e, mesmo assim nem todos problemas encontraram solução se nos recordarmos do exercito de crianças/adolescentes e jovens que anualmente ficam fora da carteira por falta de vaga.

Outro grande problema, senão o maior, é que as sortudas crianças/adolescentes e jovens, quando finalmente conseguem um espaço na sala de aula, pois isto não garante cadeira nem mesa, muitas vezes são orientados por professores sem formação psico-pedagógica, o que se reflecte nos resultados apresentados “salvando-se” estes, em alguns casos, pela manipulação percentual “sugerida” pelas direcções de escola.

Se até três anos a formação de professores era apenas feita em aceitáveis períodos de tempo (2 e meio, 3 e 5 anos) desde 2007 a mesma processa-se a uma velocidade vertiginosa, como se de um fast food se tratasse, o que não inspira nenhuma confiança se levarmos em conta que se trata de candidatos provindos do ensino básico e secundário: trata-se das inovações 10ª+1 e 12ª+1.

Neste recente modelo de formação de professores prevê-se um projecto ambicioso por parte do Governo/MEC, com a formação anual de 5 000 professores, que visa “assegurar que todas as crianças em idade escolar possam ter acesso ao ensino até 2015”. Este processo será acompanhado pela construção de mais escolas e contratação de pessoal docente e administrativo, evidentemente.

O novo modelo de formação, que ainda não teve avaliação conhecida, já está a fazer-se sentir no sistema pois os graduados da primeira (2007/8), já estão no terreno a leccionar e os da segunda leva, vão agora estreiar. Ao contrário de muitos profissionais da actualidade, este grupo, mesmo antes dos resultados dos exames, logo tem uma guia de colocação. Por outra, mesmo que reprovem na formação, vão à sala de aulas.

Professores com tarimba, mostram-se reticentes quanto a este modelo porque para além da falta de vocação para a àrea, as lacunas pós-formação são evidentes sendo que estes não seguidos e orientados oficialmente por pessoas com experiencia.

Após esta formação expresso, os professores não são “acompanhados” por supervisores ou orientadores no seu start de carreira e, há relatos de professores fast food que passaram pelo Take Away, não foram classificados como competentes, mas já estão a leccionar aos nossos filhos. E assim vamos a caminho do ambicionado ODM (objectivos do milénio)!

9 comentários:

Reflectindo disse...

O professorado e já uma profissão em degradação.

E o que diz a ONP, já que pelo menos a Ordem dos engenheiros e dos médicos, já disseram algo quanto à formacão encurtada pela UEM?

Bayano Valy disse...

olá,
veja o primeiro plano na edição do jornal notícias de hoje. http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/505792

Anónimo disse...

http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/511918

Ximbitane disse...

Mestre, a ONP continua a fazer o que tem vindo a fazer até aos dias de hoje: fazer ouvidos de mercador e ter olhos de cego. Céus, esta organizacao esta moribunda!

Ximbitane disse...

Obrigada pela dica, Bayano e ... Anonimo!

Unknown disse...

O que vale é que os filhos dos benditos estam fora do país! este é o garrante da condução dos destinos da Pérola do indíco hoje por eles amanhã pelos filhos e nunca o filho do camponês, motorista... como o que acontece com eles que são descendentes desta classe (motoristas, camponeses, etc.) mas são competentes Planificadores, Economistas, Gestores, Pedagogos, Antropólogos etc do País hoje, não importa o amanhã!BJs

Julio Mutisse disse...

Lia há pouco um panfleto do INGC que diz numa das suas passagens, depois dos sismos,em caso de precisar recompor a casa, nunca comece pelo tecto.

Acho que esta máxima se aplica à Educação em Moçambique. Antes de pensarmos em reformas curriculares, seja a que nível for, temos que pensar em quem as vai implementar e na sua formação: o professor. Infelizmente, nesta cadeia, presta-se pouca atenção a este em detrimento de outros aspectos.

Hoje a polémica é na UEM, reforma bla bla bla. Uma das questões colocadas é se tinhamos professores para tão ambicioso projecto...

O sistema precisa ser reformado como um todo, com maior enfoque para o principal pivo desse sistema: o professor cuja formação não deve ser fast e deve ter condições para que deixe de ser turbo e faça bem o que deve fazer: ensinar.

Mutisse

Julio Mutisse disse...

Chacate meu irmão, estudar fora nem sempre significa estar melhor preparado que os que se formam aqui em Moçambique. Exemplos devem não te faltar.

Acho que devemos dismistificar essa ideia de que lá fora está o melhor e passarmos a acreditar que podemos nos formar internamente e sermos profissionais de qualidade mesmo com as dificuldades conhecidas (que devem ser enfrentadas de peito aberto e não serem um mero travão).

Muitos de nós fomos formados aqui e estamos longe de ser frustrados; estamos contentes com a nossa formação e não devemos nada a quem se formou lá fora incluindo "os filhos dos benditos". Mais, acredite que podes chegar onde quiseres; basta quereres e fazeres por isso.

Neste caso dos professores, basta que o desiderato político não seja tomado como de topo, e conduzirmos esforços no sentido de termos uma verdadeira reforma na educação no país, podemos caminhar para a qualidade.

Laude Guiry disse...

Ha uma piada que vem girando ai sobre a qualidade de educacao em Mocambique. Temos que ter muito cuidado ao copiar o que nao entendemos. Tudo tem que ser participativo. Eu escrevi algo sobre isso. De uma vista