segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Licenciados

Há alguns anos, ingressar no ensino superior era privilégio para poucos e alguns. A concurrência era muito forte e as vagas para o acesso a esse nível insuficientes para todos. Os felizes contemplados, apesar de todas as vicissitudes (bolsa insignificante, escassez de material, distância familiar, etc.), empenhavam-se para obter, no final de sua formação o diploma de Licenciatura, garante de um futuro risonho, o presente que muitos vivem actualmente.

Alimentados pela perspectiva do mesmo sonho de sucesso, de cariz pessoal ou institucional, muitos afluem às diferentes e contabilizadas 38 academias em Moçambique. O objectivo primeiro e final é licenciar-se na área à escolha, exercer a profissão e, evidentemente, ser sempre bem sucedido profissional e financeiramente, afinal ninguém planta para não colher.

Nesse contexto, em diversas áreas, no país, anualmente avoluma-se o contigente de licenciados saturando, de certa maneira, o possível espaço laboral a oferecer a estes. Por exemplo, no professorado, ao invés de se dar primazia a professores com formação psico-pedagógica completa, o espaço é ocupado por pessoal despreparado para essa tarefa por falta de cabimento orçamental.

Noutras áreas, os licenciados de tanto vaguearem à procura de emprego à altura de sua formação acabam até "fugindo" da sua própria especialização para poderem ter um emprego que ao menos os satisfaça financeiramente. Face a isto que futuro terá o exército de licenciados que anualmente é engrossado (vem mais "chumbo" esta semana) por batalhões com licença para...?

E ainda ha pouco entrou a moda da pos-graduação...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O poder do amor

Uma jovem mulher chocou meio mundo com uma decisão atipica à nossa sociedade: tentar entregar, de livre ( ?) e expontânea vontade (?), às entidades de Acção Social, sua indefesa filha de 2 meses tudo porque esta é fruto de um acto de adultério de cujo pai se desconhece o paradeiro.

Segundo a visada, em declarações aos medias, sempre in ao polemitizar certos casos sociais, a decisão surge do facto desta ser a conditio sine qua non para o perdão total de seu esposo, na altura trabalhador nas minas da África do Sul, a quem a presença da petiz por certo faz pesar os cornos.

As autoridades solicitadas por esta jovem recorreram ao Gabinete de Atendimento à Mulher e a Criança, na polícia, que prontamente "convenceu" à jovem a não deixar a petiz aos cuidados do Estado Moçambicano.

Hoje nos chapas e, segurmante, em muitos outros cenários a questão é esgrimida até a exaustão com uns a condenarem a jovem pelo assaz acto contra natura e com outros a compadecerem-se com o caso. Terá a jovem agido erradamente? E se assim não tivesse sido, como seria ?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Toalhinha(zita)s!

A moda é como a sarna, realmente não custa pegar. De repente, talvez pela sua diminuta dimensão, os lencinhos de bolso perderam lugar no seu espaço devido, o bolso e, consequentemente, ficaram desajustados da sua função primeira que deve ser assoar o nariz e, eventualmente, o limpar do rosto.

Com um à-vontade surpreendente, foram substituídos por toalhinhas, que prestam-se às mesmas e outras funções do primeiro. O exemplo parece ter vindo de cantores internacionais que deles fazem uso em seus suantes concertos. Os nossos cantarinos, maioritariamente os pseudo-rappers, primeiro andaram "numa de style" com as toalhitas penduradas nas cinturas, mas pouco depois passaram a usá-las em todo o lugar. O resto da malta, comuns e pobres mortais, seguiu-lhes a peugada.

Discretas ou coloridas, gastas ou novas, limpas ou encardidas, pequenas ou médias, as toalhinhas realmente estão à solta e, com o calor que faz por estas bandas, muitos motivos há que incentivam a que estas abandonem a intimidade das casa-de-banho e de alguns quartos ou para responder à necessidade de absorção de água em excesso em praias, ginásios e piscinas, únicos locais públicos permitidos, a favor de ambientes ou locais como a rua, o escritório, o restaurante, a discoteca, a sala de aula e outros com mesmas características.

Nesses cenários, há quem não limite o uso das toalhinhas à limpeza do rosto. Sem apelo e nem agravo, a toalhita é vigorosamente chamada para também enxaguar o pescoço, passar pelas axilas, limpar o peito e, para os grandes acrobatas, pela sua diminuta dimensão, as costas suadas. Perdoem os adeptos desta nova moda, com a sua razão, mas os ensinamentos sobre o uso desse pedaço de pano, no quarto e na casa-de-banho, provocam uma profunda impressão.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Media de nojo

Pecuinhas, fofocas e escândalos… A guerra das audiências, ainda que não declarada, já se instalou entre nós. Para além dos habituais repórteres, já existem papparazzis que, munidos de câmeras fotográficas ou de máquinas acopuladas aos telemóveis, que têm o mesmo efeito, circulam nas nites de Maputo para « checar » quem, da ala VIP (por sinal escolhida a dedo, não vão estes processá-los) ou da classe « cantarina » (potenciais vitimas), salta da linha.

Se na impressa escrita é pela via de leads altamente incendiários e imagens em tamanho quase real, que se desperta a curiosidade inata dos homens, os canais de televisão ou melhor as figuras por detrás das câmaras da televisão já se deram conta que flagrar ilustres conhecidos em tremendas saias curtas ou escavar os seus podres é uma forma de garantir maior audiência para os seus canais.

Alguns pseudo-apresentadores, assumidos « reis dos bifs », por outra fofoca, sem dó e nem piedade, com maestria de fazer inveja a muito policia de investigação criminal, escapelizam as suas vitimas até a exaustão não se importando sequer com os que podem ser manchados pelos pingos desse escândalo (cônjuges, filhos, familia e a sensibilidade da sociedade).

Para manter os telespectadores colados à telinha, tem o desplante de aguçar-lhes o voraz apetite com a promessa de um repasto requintado. Insistentes apelos para que preparem «prato, garfo e faca… porque há bifs » são a senha para queimar tempo e pôr o inconsciente telespectador ligado do principio ao fim do programa sob pena de ver a « fome » adiada para o dia seguinte.

Nessa onda, sendo eles também « estrelas » passíveis de pisar o risco, fazem-se esquecidos do tamanho de sua própria cauda e tem o despróposito de desrespeitar a liberdade/sandice dos outros acusando-os de trairem seus parceiros enquanto eles mesmos vivem também do fruto maduro e doce da traição. Que nojo !

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Estórias em Maputo (10)

Envelhecida pelo tempo, que não perdoa nenhuma dívida, Maputo celebra hoje mais um aniversário. Aniversário esse que, reconheçamos, só uma cidade pode ter o privilégio de festejar e aspirar viver muitos mais: 122 anos !

Maputo ou cidade das acácias é uma urbe com traços arquitectónicos do tempo colonial, refira-se que grande parte dos espaços habitacionais da town são disso exemplo. Entretanto, esse cenário é enriquecido pelas inúmeras construções que florescem diariamente, em vários locais dentro e na periferia da cidade, dando um toque incaracterístico a esse casamento entre o novo e o velho.

Em Maputo, como deve ser em qualquer outra cidade do mundo, é também visível o contraste gritante entre o luxo extremo que se acotovela, sem piedade e sem remorsos, com a pobreza absoluta. Não é à toa que os vira-latas equiparam as suas incursões ao lixo dos ricos como idas ao centros comerciais que, eles também, se expandem à velocidade da luz e em muitas superficies. Não é que em breve nascerá um defronte da última morada de todos nós ?

No asfalto maputense, cansado, esburacado ou remendado e, derivado disso, constantemente congestionado, não importa o período do dia, viaturas top gama "para dar mais raiva" aos demais utentes da via, circulam à velocidade da tartaruga (se assim não for como serão os seus proprietários vistos ?) enfurecendo os "Chumakers" dos chapas que disso se aproveitam para promover perigosas gincanas.

Na velha nova Maputo, as suas gentes e outras gentes, que se tornaram suas, batalham, cada um de olho no seu umbigo, dia e noite pelo seu pão. Muitos não olham meios para atingir os fins : guindzas, pirateiros e oportunistas estão em todo o lado. As pessoas são assaltadas em plena luz do dia sob o olhar impávido e sereno dos demais transeuntes ou companheiros de ocasião : socorro, é uma palavra muda, solidariedade é um sentimento inexistente.

Ainda assim, e apesar de todas as suas infindáveis estórias, longa vida Maputo !

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Estórias em Maputo (9)

Antigamente, as pseudo-bábás vinham lá da terra. Eram jovens vindas de familias humildes, geralmente vizinhas de algum familiar, cheias de respeito e com profunda gratidão pelos patrões por as terem tirado duma casa em que as vezes faltava um pedaço de mandioca para acompanhar o chá sem açucar. No contrato verbal, com os pais dessas moças, ficava sempre patente que as meninas deveriam continuar os estudos já que lá na vila estavam condenadas a um casamento com o pastor de cabritos...

Muitas dessas jovens, chegadas a grande town, emocionadas pelos feitos novelísticos, vistos durante as ausências da patroa, cedo perdiam a humildade e com a ponta dos empinados e virgens seios, partiam para o ataque ao patrão, ao irmão jovem da patroa, ao empregado do vizinho ou ao guarda do prédio. Breve, trazê-las de lá, tornou-se um investimento de risco para o "estatuto de patroa "de muita mulher. Contudo, a necessidade de ter uma bábá nunca deixou de existir, sobretudo com este corre-corre que é a vida na grande town.

Actualmente, as bábás, de lá ou de cá, têm uma vivência dura: trabalham dia e noite, fins de semana, feriados e folgam 48h por mês, distribuidos por dois domingos. Se labutam para uma mamã madame, dessas que não podem perder nenhum evento, nem faltar a um fútil encontro com as amigas, por conta de um puto chorão, das duas uma: ou as bábás ficam em casa com estes, resumindo a preocupação maternal com um "O patrãozinho está a dormir? Já comeu? ", ou são arrastadas ao evento para que toda a familia possa ver como o rebento cresceu.

Nesses eventos, as bábás devem exercer as suas habituais funções que se resumem ao cuidar do menino, folgando no exercício de outras actividades que só desenvolvem quando estão em casa (lavar a roupa, ser moça de recado, etc.). Como é evidente, nesse dia, por ver por perto a mamã madame e o papá todo enfatado e não me sujes, o menino fica muito fiteiro e dá um valente baile a bábá e, para motiva-la ainda mais, ouve um "leva o Junhinho lá para longe!". Salário que é bom? Não pode ser excepção: é aquela base!

Ah, outra coisa! Para não pôr em causa o "estatuto de patroa" as bábás e outras profissionais que labutam no espaço doméstico não podem ser jovens bonitas, elegantes, vaidosas, inteligentes, empreendedoras... sob o risco de nem sequer serem bábás!