segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Hodi, 2010!

Caros amigos e visitantes,

A passos largos aproxima-se o dia da celebração do Natal e do Fim do Ano. Para mim, 2009 foi de profundos, ousados e inesperados desafios. Todavia, alegro-me por, apesar de chegar ao fim do ano cansada e sem energias para mover palha, manter o sorriso aberto pois venci algumas batalhas e a guerra continua.

Lamento não ter tido, por razões profissionais e pessoais, tempo para me dedicar a algo muito especial entanto que blogger: abraçar uma causa social. Aliás, no seio de alguns de nós, ficou a promessa de regressarmos à Pediatria do Hospital Geral da Machava, por ocasião do Natal. No que me diz respeito, mea culpa.

Rogo para que 2009 tenha sido tão produtivo profissionalmente quanto sentimentalmente quanto foram os calorosos os debates havidos nos blogs, de modo, geral e pela via de emails, em âmbito mais restrito.
Aceitem com carinho os meus votos de Boas Festas e sucessos em 2010!

Ximbitane

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Estórias em Maputo (12)

Que no Mercado informal se vende de tudo um pouco a preços acessíveis a todos bolsos, isso é do conhecimento geral. Nesse capítulo, o Mercado do Estrela Vermelha, por exemplo, pode-se considerar Hiper Mercado Informal. Ali vende-se realmente de tudo : produtos na boxi (novos), geralmente madin China, produtos second hand e os produtos quentes (provenientes do furto). E diz-se por aí que até a morte é lá vendida!

Entre tantas possibilidades oferecidas pelos mercados informais, em locais específicos, como o existente diante do Mercado Janete, na Vladimir Lénine, estão os serviços de venda de peixe e de outros mariscos, de frango (vivo ou congelado) e de seus derivados e também de carne de carcaça variada, incluindo as de caça. Hummm, é essa estória que vamos mandjar !

Os vendedores informais já deram provas bastante de serem conhecedores do negócio que exercem : se, por exemplo, vendem frango congelado e seus derivados (moelas, patinhas, pescoços, coxas, assas) estão munidos de "colemanes" (de Coleman’s) onde conservam os produtos. Para o caso dos produtos do mar, a venda é efectuada no final da tarde, período em que faz menos calor, o mesmo acontecendo com a carne.

Curiosamente, é no mercado informal que se verifica à venda de carnes ditas de caça e/ou de carnes habitualmente ausentes dos mostruários dos talhos que não em épocas festivas. É o caso do coelho, do carneiro, da gazela e outros. Disso se pode deduzir, entre outros, que os informais efectuam ou promovem a caça furtiva, o que leva a questionar a actividade dos inspectores da veterinária para não falar dos faltosos da vigilância sanitária…

Ora, como consequência da falta de vigilância sanitária, muito gato por lebre se tem vendido nesses locais. Especial cuidado se chama para os amantes da carne de cabrito e de caça de pequeno porte pois, hábitos conhecidos como pertença de alguns povos asiáticos têm sido levados à panela dos moçambicanos. Tudo isso porque no mundo dos negócio, até a carne de cão dá lucro !

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Estórias em Maputo (11)

Em Maputo, toda oportunidade dá negócio. Tudo vale para entrar na rota dos negócios, ou não somos empreendedores! O ditado “cabrito come onde está amarrado”, cai que nem uma luva para aqueles que não perdem oportunidades para se dar bem, mesmo que seja ao custo do suor e de lágrimas dos outros, senão mesmo dos impostos que tanto custam pagar.

Maputo é uma cidade em profundas transformações e as “oportunidades” acompanham esse crescendo. Nas obras, não importa a dimensão, se privada ou pública, se de um pacato cidadão ou de um grande empresário, oportunidade é oportunidade, ninguém a perde e, se não existe, criar é uma missão possível, haja oportunidade !

Ora, nas obras de construção, o pessoal « retira » tudo o que é susceptível de criar rendimento. Nessa rota, vale tudo : sacos de cimento, blocos, tubos, ferro, caixilhos, pregos, azuleijos, interruptores, lâmpadas, nada escapa. Por exemplo, diz-se que muito ferro para as obras do estádio serviram de alicerces para construções da zona…

Se se pensa que as « rotas » só ocorrem nas obras de construção, him him, engana-se. Na área dos transportes também há rotas ! Os motoristas dos carros de grande tonelagem, sejam eles de recolha de lixo, de transporte de materiais para obras, de bens de consumo e outros não se fazem rogados : « chupam » o combustível e põem-no na rota.
Adenda:
Um exemplo de como não se perde nenhuma oportunidade, com o decreto que determina que para evitarem o risco de acidente todas as viaturas devem possuir, entre outros, um colete de sinalização, com a aproximação do Dia D, esses coletes que antes custaram 50Mt, variam agora entre 120 e 250Mt, consoante a zona.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Licenciados

Há alguns anos, ingressar no ensino superior era privilégio para poucos e alguns. A concurrência era muito forte e as vagas para o acesso a esse nível insuficientes para todos. Os felizes contemplados, apesar de todas as vicissitudes (bolsa insignificante, escassez de material, distância familiar, etc.), empenhavam-se para obter, no final de sua formação o diploma de Licenciatura, garante de um futuro risonho, o presente que muitos vivem actualmente.

Alimentados pela perspectiva do mesmo sonho de sucesso, de cariz pessoal ou institucional, muitos afluem às diferentes e contabilizadas 38 academias em Moçambique. O objectivo primeiro e final é licenciar-se na área à escolha, exercer a profissão e, evidentemente, ser sempre bem sucedido profissional e financeiramente, afinal ninguém planta para não colher.

Nesse contexto, em diversas áreas, no país, anualmente avoluma-se o contigente de licenciados saturando, de certa maneira, o possível espaço laboral a oferecer a estes. Por exemplo, no professorado, ao invés de se dar primazia a professores com formação psico-pedagógica completa, o espaço é ocupado por pessoal despreparado para essa tarefa por falta de cabimento orçamental.

Noutras áreas, os licenciados de tanto vaguearem à procura de emprego à altura de sua formação acabam até "fugindo" da sua própria especialização para poderem ter um emprego que ao menos os satisfaça financeiramente. Face a isto que futuro terá o exército de licenciados que anualmente é engrossado (vem mais "chumbo" esta semana) por batalhões com licença para...?

E ainda ha pouco entrou a moda da pos-graduação...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O poder do amor

Uma jovem mulher chocou meio mundo com uma decisão atipica à nossa sociedade: tentar entregar, de livre ( ?) e expontânea vontade (?), às entidades de Acção Social, sua indefesa filha de 2 meses tudo porque esta é fruto de um acto de adultério de cujo pai se desconhece o paradeiro.

Segundo a visada, em declarações aos medias, sempre in ao polemitizar certos casos sociais, a decisão surge do facto desta ser a conditio sine qua non para o perdão total de seu esposo, na altura trabalhador nas minas da África do Sul, a quem a presença da petiz por certo faz pesar os cornos.

As autoridades solicitadas por esta jovem recorreram ao Gabinete de Atendimento à Mulher e a Criança, na polícia, que prontamente "convenceu" à jovem a não deixar a petiz aos cuidados do Estado Moçambicano.

Hoje nos chapas e, segurmante, em muitos outros cenários a questão é esgrimida até a exaustão com uns a condenarem a jovem pelo assaz acto contra natura e com outros a compadecerem-se com o caso. Terá a jovem agido erradamente? E se assim não tivesse sido, como seria ?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Toalhinha(zita)s!

A moda é como a sarna, realmente não custa pegar. De repente, talvez pela sua diminuta dimensão, os lencinhos de bolso perderam lugar no seu espaço devido, o bolso e, consequentemente, ficaram desajustados da sua função primeira que deve ser assoar o nariz e, eventualmente, o limpar do rosto.

Com um à-vontade surpreendente, foram substituídos por toalhinhas, que prestam-se às mesmas e outras funções do primeiro. O exemplo parece ter vindo de cantores internacionais que deles fazem uso em seus suantes concertos. Os nossos cantarinos, maioritariamente os pseudo-rappers, primeiro andaram "numa de style" com as toalhitas penduradas nas cinturas, mas pouco depois passaram a usá-las em todo o lugar. O resto da malta, comuns e pobres mortais, seguiu-lhes a peugada.

Discretas ou coloridas, gastas ou novas, limpas ou encardidas, pequenas ou médias, as toalhinhas realmente estão à solta e, com o calor que faz por estas bandas, muitos motivos há que incentivam a que estas abandonem a intimidade das casa-de-banho e de alguns quartos ou para responder à necessidade de absorção de água em excesso em praias, ginásios e piscinas, únicos locais públicos permitidos, a favor de ambientes ou locais como a rua, o escritório, o restaurante, a discoteca, a sala de aula e outros com mesmas características.

Nesses cenários, há quem não limite o uso das toalhinhas à limpeza do rosto. Sem apelo e nem agravo, a toalhita é vigorosamente chamada para também enxaguar o pescoço, passar pelas axilas, limpar o peito e, para os grandes acrobatas, pela sua diminuta dimensão, as costas suadas. Perdoem os adeptos desta nova moda, com a sua razão, mas os ensinamentos sobre o uso desse pedaço de pano, no quarto e na casa-de-banho, provocam uma profunda impressão.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Media de nojo

Pecuinhas, fofocas e escândalos… A guerra das audiências, ainda que não declarada, já se instalou entre nós. Para além dos habituais repórteres, já existem papparazzis que, munidos de câmeras fotográficas ou de máquinas acopuladas aos telemóveis, que têm o mesmo efeito, circulam nas nites de Maputo para « checar » quem, da ala VIP (por sinal escolhida a dedo, não vão estes processá-los) ou da classe « cantarina » (potenciais vitimas), salta da linha.

Se na impressa escrita é pela via de leads altamente incendiários e imagens em tamanho quase real, que se desperta a curiosidade inata dos homens, os canais de televisão ou melhor as figuras por detrás das câmaras da televisão já se deram conta que flagrar ilustres conhecidos em tremendas saias curtas ou escavar os seus podres é uma forma de garantir maior audiência para os seus canais.

Alguns pseudo-apresentadores, assumidos « reis dos bifs », por outra fofoca, sem dó e nem piedade, com maestria de fazer inveja a muito policia de investigação criminal, escapelizam as suas vitimas até a exaustão não se importando sequer com os que podem ser manchados pelos pingos desse escândalo (cônjuges, filhos, familia e a sensibilidade da sociedade).

Para manter os telespectadores colados à telinha, tem o desplante de aguçar-lhes o voraz apetite com a promessa de um repasto requintado. Insistentes apelos para que preparem «prato, garfo e faca… porque há bifs » são a senha para queimar tempo e pôr o inconsciente telespectador ligado do principio ao fim do programa sob pena de ver a « fome » adiada para o dia seguinte.

Nessa onda, sendo eles também « estrelas » passíveis de pisar o risco, fazem-se esquecidos do tamanho de sua própria cauda e tem o despróposito de desrespeitar a liberdade/sandice dos outros acusando-os de trairem seus parceiros enquanto eles mesmos vivem também do fruto maduro e doce da traição. Que nojo !

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Estórias em Maputo (10)

Envelhecida pelo tempo, que não perdoa nenhuma dívida, Maputo celebra hoje mais um aniversário. Aniversário esse que, reconheçamos, só uma cidade pode ter o privilégio de festejar e aspirar viver muitos mais: 122 anos !

Maputo ou cidade das acácias é uma urbe com traços arquitectónicos do tempo colonial, refira-se que grande parte dos espaços habitacionais da town são disso exemplo. Entretanto, esse cenário é enriquecido pelas inúmeras construções que florescem diariamente, em vários locais dentro e na periferia da cidade, dando um toque incaracterístico a esse casamento entre o novo e o velho.

Em Maputo, como deve ser em qualquer outra cidade do mundo, é também visível o contraste gritante entre o luxo extremo que se acotovela, sem piedade e sem remorsos, com a pobreza absoluta. Não é à toa que os vira-latas equiparam as suas incursões ao lixo dos ricos como idas ao centros comerciais que, eles também, se expandem à velocidade da luz e em muitas superficies. Não é que em breve nascerá um defronte da última morada de todos nós ?

No asfalto maputense, cansado, esburacado ou remendado e, derivado disso, constantemente congestionado, não importa o período do dia, viaturas top gama "para dar mais raiva" aos demais utentes da via, circulam à velocidade da tartaruga (se assim não for como serão os seus proprietários vistos ?) enfurecendo os "Chumakers" dos chapas que disso se aproveitam para promover perigosas gincanas.

Na velha nova Maputo, as suas gentes e outras gentes, que se tornaram suas, batalham, cada um de olho no seu umbigo, dia e noite pelo seu pão. Muitos não olham meios para atingir os fins : guindzas, pirateiros e oportunistas estão em todo o lado. As pessoas são assaltadas em plena luz do dia sob o olhar impávido e sereno dos demais transeuntes ou companheiros de ocasião : socorro, é uma palavra muda, solidariedade é um sentimento inexistente.

Ainda assim, e apesar de todas as suas infindáveis estórias, longa vida Maputo !

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Estórias em Maputo (9)

Antigamente, as pseudo-bábás vinham lá da terra. Eram jovens vindas de familias humildes, geralmente vizinhas de algum familiar, cheias de respeito e com profunda gratidão pelos patrões por as terem tirado duma casa em que as vezes faltava um pedaço de mandioca para acompanhar o chá sem açucar. No contrato verbal, com os pais dessas moças, ficava sempre patente que as meninas deveriam continuar os estudos já que lá na vila estavam condenadas a um casamento com o pastor de cabritos...

Muitas dessas jovens, chegadas a grande town, emocionadas pelos feitos novelísticos, vistos durante as ausências da patroa, cedo perdiam a humildade e com a ponta dos empinados e virgens seios, partiam para o ataque ao patrão, ao irmão jovem da patroa, ao empregado do vizinho ou ao guarda do prédio. Breve, trazê-las de lá, tornou-se um investimento de risco para o "estatuto de patroa "de muita mulher. Contudo, a necessidade de ter uma bábá nunca deixou de existir, sobretudo com este corre-corre que é a vida na grande town.

Actualmente, as bábás, de lá ou de cá, têm uma vivência dura: trabalham dia e noite, fins de semana, feriados e folgam 48h por mês, distribuidos por dois domingos. Se labutam para uma mamã madame, dessas que não podem perder nenhum evento, nem faltar a um fútil encontro com as amigas, por conta de um puto chorão, das duas uma: ou as bábás ficam em casa com estes, resumindo a preocupação maternal com um "O patrãozinho está a dormir? Já comeu? ", ou são arrastadas ao evento para que toda a familia possa ver como o rebento cresceu.

Nesses eventos, as bábás devem exercer as suas habituais funções que se resumem ao cuidar do menino, folgando no exercício de outras actividades que só desenvolvem quando estão em casa (lavar a roupa, ser moça de recado, etc.). Como é evidente, nesse dia, por ver por perto a mamã madame e o papá todo enfatado e não me sujes, o menino fica muito fiteiro e dá um valente baile a bábá e, para motiva-la ainda mais, ouve um "leva o Junhinho lá para longe!". Salário que é bom? Não pode ser excepção: é aquela base!

Ah, outra coisa! Para não pôr em causa o "estatuto de patroa" as bábás e outras profissionais que labutam no espaço doméstico não podem ser jovens bonitas, elegantes, vaidosas, inteligentes, empreendedoras... sob o risco de nem sequer serem bábás!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Votei!

Sim, ja fiz a minha parte.
Exerci o meu dever!
Votei!

Trago na ponta do meu dedo, a marca desse meu feito em prol de um Moçambique melhor e que seja de cada um e de todos os moçambicanos.

Aguardo paciente, mas não eternamente, que a pessoa (Presidente) e os partidos (Assembleia e Provinciais), aos quais votei, correspondam as minhas expectativas e cumpram com promessas recentemente enunciadas sob pena de não reconquistarem o meu voto em 2014.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Estórias em Maputo (8)

Bancas de mercados formais quase às moscas, mercados informais ocupados por pessoas com ofícios que os obrigam a trabalhar num mesmo local (alfaiates, sapateiros, cabelereiras,...) e taxas municipais altas (?) e que, aparentemente, não beneficiam os seus contribuintes, parecem ser os motivos que levam a que muitos informais saiam dos locais pré-estabelecidos para os passeios das ruas de Maputo. Por esse motivo (?), especialmente na Baixa de Maputo, peões, que não encontram espaço nos passeios e automobilistas, que pretendem estacionar ou transitar, disputam as bermas da estrada.

Nas ruas de Maputo, se vende de tudo um pouco: produtos alimentares (arroz, batata, cebola, tomate, alho, couve, alface, óleo de cozinha às tampinhas, carne, peixe...) ou pronto a comer (badjias, mahanti, pão, sandes, arroz com caril, peixe frito...); pronto a vestir (saias, casacos, vestidos, calças, roupa interior...) e calçado (chinelos, sapatos, sapatilhas, sandálias...); para petiscar (amendoim torrado, ovo cozido, espetadas, água e sal...) e para beber (água, sumos, refrigerantes, cerveja, bebidas espirituosas...); artigos de lar (lençois, loiça, toalhas, bacias, panelas) e automóvel (sprays, tapetes...) e até ... enfim, um leque de bens passíveis, claro, de descontos de 5, 10, 15, 20, 30 ou 50%.

Em algumas zonas da Baixa de Maputo, nas avenidas Guerra Popular, Zedequias Manganhela, Filipe S. Magaia, dignos epicentros desta avalanche de vendedores informais, é mais notório. Por isso, calcorrear o passeio é uma verdadeira odisseia pois deve-se estar atento para não arrastar para o chão peneiras com amendoim ou castanha, panelas, garrafas, cadernos, CD’s, etc., sob risco de ter que os pagar ou então, entre uma esquivadela e outra, ser-se roubado por guindzas que não perdem nenhuma oportunidade de facturar com o alheio.

Na zona da Ronil, do muro do Cemitério (guarda-fatos fashion) à zona da Estátua, os passeios estão transformados em vitrines ambulantes. O pudor há muito que caiu no esgoto tanto mais que, para o desespero púdico de muitas mulheres, jovens rapazes ousam esticar, diante do nariz de senhoras e senhoritas, com muito à vontade, ou então negócios não são negócios, calcinhas e soutiens, novos e usados sem problemas. Alguns vão ao exagero de, ao escolher uma peça intima que acham servir a determinada cliente, sobretudo as mais avantajadas, excedem-se andando atrás dessa cliente sob pretexto de que "te vai servir, mana".

No entanto, porque parece que o espaço nos passeios já não chega para todos, ou porque se cansaram das corridas do tipo caça à mercadoria (!), estranhamente não ao homem, por parte da Polícia Municipal, que até ensaiou incursões com alguns espécimes caninos, ou porque o segredo para o sucesso talvez seja ser ir ao encontro dos clientes ou então porque a disputa de clientes entre os próprios vendedores é tanta que há mais prejuízo do que benefício, alguns vendedores tornaram-se ambulantes no verdadeiro sentido da palavra.

Carregados como jumentos, com mercadoria na mão, em cauxas, em cabides por eles mesmo modificados e criados, em sacolas (sujeitas a constantes questionamentos da policia, santa paciência!), carrinhas de mão ou em txovas, os vendedores deambulam de um lado para o outro da cidade. No segundo anel da cidade (entre a periferia e a zona chique), estes vendedores, aos berros anunciam o produto que têm para venda: "ximateeee, ha ximate haleno!; coco, coocooooooo...; co’ve, co’veeeeeeeeee...".

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Estórias em Maputo (7)

A título póstumo, dedico este post ao zeloso e fiel empregado Luís, que dedicou, por mais de 10 anos, todas as suas forças e energias ao serviço do meu padrinho, em particular, e de minha familia, em geral, e que foi covarde e brutalmente assassinado e enterrado no seu local de trabalho. Paz a tua alma, Lulu!

Mal o sol despontou, um cortejo de mulheres, das zonas suburbanas, se dirige apressada à paragem de chapa ou machimbombo mais próxima: o objectivo é "apanhar" os primeiros carros. Se for o autocarro, melhor, assim terão direito ao bilhete de ir e vir, que se compra imperativamente antes das 7 horas. Este exército, de jovens e mulheres maduras, tem como destino a zona de cimento e betão. São as nossas empregadas domésticas.

Conforme o contrato, fatalmente verbal, excepto raríssimas excepções por parte de estrangeiros e de alguns nacionais, os horários de entrada variam entre 6h e 7h30, de modo a que estas possam preparar o pequeno-almoço e endireitar a roupa dos patrões, preparar e acompanhar os petizes à escola ou creche ou então ficar com eles em casa visto que os pápás vão trabalhar.

Logo, logo, estas mulheres entram na roda viva que é o seu trabalho laboral: lavar, varrer, escovar, limpar, comprar, arranjar, organizar, pagar, cozinhar, engomar, coser, levar, buscar, levantar, sacudir, ... initerruptamente até, no minímo, 17h, sem pausa, sem sequer uma folga tranquila até para comer algo! Sim, senhor, não restam dúvidas, estas mulheres trabalham que se farta.

Em algumas casas, para que os patrões não se chateiem com os atrasos "por causa dos chapas ou do tráfego que era grande, sinhora", as empregadas tanto das rendodezas como lá da terra dormem no local de trabalho, não vá o Diabo tecê-las. Para esse grupo, o dia começa mais cedo ainda e só termina quando todo o mundo vai dormir. Imagine-se se a "sinhora" estuda à noite ou se o patrão, professor algures, em biscatos e tricatos, exige comida quente ao jantar!

As empregadas domésticas, por força de sua actividade, são melhor conhecedoras do lar do que as próprias donas de casa. Frases como "Dona manhane*, onde está a minha blusa bege?". Bege? Se deve questionar a empregada doméstica, é prova disso. Há também empregadas que pelo seu ganha-pão acabam chocando com as suas tradições culturais pois são literalmente obrigadas a lavar as roupas intímas da senhora, mesmo as que dona madame suja com as regras mensais, sublinhe-se, numa total falta de respeito para com estas.

Noutras casas, de uma certa casta da sociedade, os empregados, para além de lá dormirem, só labutam entre a hora de levantar dos patrões (supomos 6h) e a hora de abrir a loja (imagine-se que abram às 8h30, então até às 8h). O segundo período de trabalho ocorre entre o fechar da loja (para a ida à mesquita e a pausa do almoço) e o regresso para a reabertura, no período da tarde. O terceiro e último período ocorre a partir do fecho da loja (entre 18h e 20h) até a hora em que os patrões se vão deitar (sabe-se lá a que horas!!!).

Durante esse entretanto, de ciclos de trabalho diário, os empregados por serem considerados, sem motivo comprovado, ladrões, ficam confinados à espaços limitados, geralmente varandas traseiras, vão de escadas ou na parte traseira das carrinhas dos patrões, muitas vezes sem condições para satisfazer as suas necessidades fisiológicas básicas, quer sejam as necessidades menores ou maiores como beber um copo de água. Já agora, em que dimensão fica esta última necessidade vital?

Como se não bastasse actos poucos desabonatórios para com os hábitos culturais desta gente e para além de labutar mais do que o tempo que é humanamente possível e aceitável, esta classe de trabalhadores (nem vale a pena aludir aos salários, que são uma vergonha), quando adoence, mesmo que justifique convenientemente (ainda que seja verdade que um atestado médico se compra nos hospitais), lhe é cortado o magrérrimo salário e não usufrui dos direitos morais de uma licença de parto e de férias com vencimento e de um subsídio de nojo, em caso de falecimento de familiar directo.

*fulana

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Estórias em Maputo (6)

Compras! Há quem não goste de fazer, sobretudo se isso implica procurar pela melhor oferta em vários lugares, por melhores preços. Há quem deteste ter que cheirar, pesar, repesar e penchichar mas, de forma geral, no final das compras, todos querem é encher a despensa ou guarda-fatos gastando pouco e não comprar gato por lebre.

Actualmente, fazer compras é um risco. Quer seja em grandes, médias ou pequenas superficies (supermercados, bancas na rua, mercados, mercearias e armazéns de venda à retalho), as trapaças nas compras, dependendo da sorte, subtileza e atenção do comprador, tanto podem levar ao prejuízo... como ao benefício.

Já se sabe que maior parte das balanças dos mercados está viciada. Ao invés de se pagar pela medida solicitada, paga-se o dobro e quase o triplo do produto solicitado. No Mercado do Peixe, por exemplo, os clientes se não querem comprar tripas no lugar de escamas, devem levar suas próprias balanças. No entanto, no Mercado Central não se aceitam balanças de fora: "ou compra ou deixa", como dizem as mamanas.

Outro risco, que a cada dia se amplia, ocorre nas grandes e médias superficies. Se for pagamento via cartão, debitam valores acima do que realmente comprou e no final do expediente, simulando que o cliente pagou a mais e que lhe deve ser restituido o dinheiro, no caso vivo, retiram o dinheiro da caixa para a tal compensação e este "compensa" no bolso do caixa.

Por outro lado, se se escapa da "compensa", há que estar atento aos carregadores no itinerário loja-carro, sobretudo se se tratar de muitas compras. Como defronte de quase todos estabelecimentos comerciais há vendedores ambulantes (?) e guardas de carros (?), nesse vai-e-vem, se o comprador não estiver suficientemente atento, alguns sacos correm o risco de ficar retidos pelas pessoas anteriormente citadas.

Longe de alguns dos perigos descritos, ir às compras algumas vezes é salutar para quem entra em connections bastam os passos à seguir: ir a loja, identificar o produto que lhe interessa, informa-se sobre o preço, fazer cara de escandalizado, informar ao vendedor que tem metade do valor, aceitar a infalível (?) proposta do vendedor, esperar um pouco e... comprar o produto fora da loja.

Engane-se quem pense que o connection só serve para compras pequenas, banais ou fúteis de blusas, capulanas, tecidos, carteiras e sapatos. Leitores de DVD, telemóveis, fogões com 6 bocas, geleiras, arca frigorífica de 1500l, com direito a entrega ao domicilio, fazem parte do leque de bens e produtos que podem ser adquiridos via connection...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Dia-a-dia na escola

Em nossas escolas, acontecem muitas coisas. Algumas delas testemunhamos quando o facto é narrado nos media ou então por alguém ou um familiar que vivenciou uma situação, geralmente triste. Verdade seja dita, dentro dos limites da escola vive-se muita coisa boa... má.

É de conhecimento geral que as escolas existentes, em particular na zona de pedra, foram construídas no tempo colonial. Também se sabe que essas escolas foram construídas para albergar determinado número de pessoas (estudantes, alunos e outros autores)... pois, aí a porca torce o rabo!

O superpovoamento da cidade de Maputo e consequentemente das escolas obriga a que sejam estabelecidos vários turnos para que todo mundo possa beber da fonte da sabedoria. Acrescenta-se a isso o facto de vários alunos não conseguirem lugar no período diurno o que cria condições para que existam 4 turnos.

A título de exemplo, uma escola pode englobar aproximadamente 3000 alunos, distribuídos em diferentes turnos. Entretanto, essa escola dispõe de 3 espaços sanitários: 1 para os professores (homens e mulheres), 1 para as meninas e outro para os meninos, havendo em cada um 4 cabines.

Fazendo as contas, por cada turno há uma média de 750 meninos e imaginemos que metade disso seja dividido igualmente pelos sexos. Dividindo esses meninos pelas 8 cabines, teremos uma média de 93.75 indivíduos a fazer uso das casas-de-banho em 4 horas (um turno).

Puxando de novo pela calculadora, num único dia, uma cabine sanitária recebe em média 375 alunos! Ah, sublinhe-se também que a distribuição da água, da rede geral, ocorre das 4h às 9h da manhã. Em que estado ficam os sanitários algumas horas depois? Evidentemente, por maiores e melhores que sejam as intenções, o factor higiene entra em crise.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Standlândia

Que Maputo se transformou, sobretudo para quem vive e passa frequentemente por esta cidade, não há sombra de dúvidas. Para bem dizer, na cidade de Maputo, em termos de número, parece haver mais stands de venda de carros do que escolas. Isso talvez justifique os 35 000 veiculos que atravessam diariamente a Portagem de Maputo e só nas horas de ponta.

Por exemplo, na Av. Marien N’Guabi, Av. De Angola, Av. Guerra Popular e Av. 24 de Julho, há entre 4 e 7 stands de vendas de viaturas. Na Av. 25 de Setembro, na Av. Amilcar Cabral, na Av. Vladimir Lenine, há outros tantos (entre 2 e 4). Nessas mesmas avenidas há, na Av. Marien N’Guabi 2 escolas, na Av. De Angola também 2, na Guerra Popular idem e aspas e 4 na Av. 24 de Julho (escolas ou centros de formaçäo de referencia).

Pode-se constatar, portanto, que em Maputo vende-se carro como se vendem tangerinas em Julho, amendoim torrado todos os dias e badjias frias à porta da padaria. O mais engraçado é que esses stands, tal como cogumelos selvagens ou cacana, que melhor germina em meio inapropriado para algo que se consome (latrinas), nascem e crescem em espaços täo microscópicos que as manobras säo feitas, seguramente, com uma fita métrica.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Estórias de Maputo (5)

Diz, quem está atento, que tudo se complicou quando Moçambique foi abalado pela guerra civil (?) que em nome da democracia (?) devastou todo o país. Com essa guerra, a procura de locais seguros levou a que muita gente se preocupasse em procurar segurança em casa de familiares que viviam nas grandes cidades.

As consequências dessa procura, não se fizeram tardar: superpovoada a cidade rebentou as costuras! Ao saltarem as linhas dessa costura, rebentaram-se fossas e as casas, preparadas para acolher determinado número de habitantes, começaram a acolher o dobro, o triplo e até o quadrúplo de habitantes no mesmo espaço.

Algumas pessoas, que não tinham familiares ou cujos familiares não os podiam acolher, construíram casas "à rasca" em locais inadequados para a contrução e habitação por não reunirem condições adequadas de saneamento como, por exemplo, nas duas margens do troço entre a antiga Maquinag (hoje ISDB) e a portagem de Maputo.

Na cidade de pedra, posto que algumas casas dispunham de cómodos extras para arrumos (dependências e caves) estes serviram de local de habitação. Felizmente, com o advento da paz, criaram-se condições para que cada um retornasse ao seu local de origem e alguns assim o fizeram mas, um número significativo persistiu e insistiu em viver na town.

Alguns, mais moralizados com a paz, enveredaram pela auto-construção e com isso nasceram novos bairros residenciais, alargando o território da Grande Maputo. Outros houve também que, com espirito empreendedor, enveredaram pelo mesmo caminho, deixando as suas casas da town arrendadas ou fazendo o inverso.

Na town, a bulha por um tecto continua. Visto que muitas dependências, conhecidas como "depes", são microscópicas, pois albergam famílias inteiras, os citadinos começaram a transformá-las aumentando cómodos. Mesmo em terraços, onde as depes formam-se pelo caimento do tecto, sob risco de desabarem, ocorrem transformações que as tornam flats e as valorizam no mercado imobiliário.

Também nos bairros da periferia, as depes são um negócio em alta! Se antigamente casas com quintais enormes eram admirados, hoje admiram-se as casas com maior número de dependências nos seus fundos. Bem feitas as contas, depe ou flat, humanamente modificada, o mais importante mesmo é viver na Grande town!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Estórias de Maputo (4)

Em constante metamorfose...

Pandora, já vendeu de tudo um pouco (mobiliário, vestuário, electrodómesticos, acessórios diversos, cortinado, etc).

Belita, depois de oferecer um infindável número de servicos, é agora um escritório do povo. Qualquer um pode digitar, imprimir, scannar e fotocopiar documentos.

Metamorfomizados...

John Or’s e Pigally e agora só tratam do Tako.

Colmeia, abatido por um enxame de abelhas internacionais, num cantinho juntou pastelaria-restaurante-padaria e mini-mercearia, noutro, um supermercado!

Djambu: Diz quem viveu nos tempos aureos do Djambu que aquilo era um show. Hoje o Djambu reduziu tanto o seu espaço que só resta o nome.

Metamoribundos...

Jardim Tunduro, a estufa de Maputo virou lixeira e covil de gatunos. Do antigo lago dos cisnes, ficou uma doce lembrança.

Café Continental, encerrado por ordem do Tribunal por causa de uma divida a um funcionario, perdeu-se a magia dos pastéis de nata com canela.

Vila Algarve. Casa linda que devia servir de sede da Ordem dos excelentissimos doutores advogados, mas... ainda nao esta em Ordem!

Metassassinados...

Hortofruticula de Maputo. Espaço de distribuição e venda de produtos horticulas ao Mercado Central transfere-se para a zona alta da cidade (será uma réplica do Zimpeto?)

Foto Lusitano. Ainda que infíma, uma parte do "retrato" de Maputo foi engolida pelo hospital da Cruz Azul.

Metafalecidos...

Prédio Pott. Um clássico na contrução nacional (prédio com base e madeira)

Café Scala. Pastelaria e Salão de Chá servia galões que só combinavam com os pastéis de nata da moribunda Continental...

Ndjinguiritane, a loja que vestiu e alimentou alguns "Continuadores da Revolução" na década de 80, ja veste outras gerações. Quiça os antigos ndjinguiritanes, hoje adultos?

Metamorfoses maputenses...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Intermediários

Comprar, vender ou alugar um espaço, seja ele residencial ou não, para a construção ou para o exercício de uma actividade comercial, se for uma necessidade urgente, pode ser o mesmo que procurar uma agulha no palheiro se se não recorrer à entidades (imobiliárias) ou pessoas (intermediários) especializadas.

Na capital, os intermediários são as pessoas que se dedicam ao "agenciamento" de outrém na compra, venda e/ou aluguer de imóveis. Concentram-se, geralmente, na Olof Palme, entre a rua de Quionga e a avenida Eduardo Mondlane, no bar, com indicação de pastelaria, ali próximo ou empoleirados no muro, com ameaças de desabamento, de uma residência.

Os intermediários, "intermedeiam" no âmbito de tudo o que se supõe possuir um tecto e não só: vivendas, armazéns, flats ou apartamentos, armazéns, dependências, lojas, tabacarias, espaços em caves e terraços e terrenos (esses mesmos que dizem ser propriedade do Estado e que não se vendem).

Pelo número considerável de intermediários, que se vê a olho nu, parece que o negócio é muito rentável. Aliás, a eficiência(?) dos intermediários parece mesmo suplantar a das imobiliárias, que tendem a florir e que ganham espaço nos anúncios de jornais públicos e outros especializados em matéria de venda.

A vida laboral dos intermediários parece ser fácil: localizam os imóveis e/ou espaços livres vendíveis, informam-se sobre a legalidade desses locais e sobre o preço requerido pelo proprietário e põe-no no mercado. Alguns, para não serem excepção à regra, "vendem" a informação às imobiliárias lucrando algum.

Entretanto, olhando para os anúncios dos jornais, que enfatizam "Sem intermediários" pode-se supor que os intermedeias são personas non gratas nesse mercado. Porque assim será? Conta quem já vivenciou um negócio, com intermedeias à perneio, que esses tipos tanto podem ser anjos como demónios.

Por exemplo, se sicrano procura comprar uma casa Tipo 2, em zona Y e socorre-se de um intermedeia, arrisca-se a comprar essa casa avaliada em X ao preço XX. Ou seja, o intemedeia duplica o valor determinado pelo proprietário do imóvel e ainda sai a ganhar um valor de comissão pelo seu trabalho.

Se o cliente é esclarecido e apenas serve-se do intermedeia para localizar o imóvel (não restam dúvidas que quanto a isso eles são realmente bons), o negócio pode sair complicado. Ao descobrir que lhe estão a passar a perna, no negócio, o intemedeia, pessoa com altos contactos no APIE (Parque imobiliário do Estado), tudo faz para inviabilizar a questão documental desse processo.

Se a inviabilização documental não resulta, pois a máxima cabrito come onde está amarrado serve para todos, quando sicrano já é senhor e dono do imóvel, recebe frequente e ameaçadoras visitas do intermedeia, que quer a todo o custo o seu fatião de bolo.

Mas também, quando o negocio é bem sucedido, os intermedeias promovem altas farras entre eles. O mais caricato de tudo, é que não fugindo ao ditado que diz em casa de carpinteiro faltam cadeiras, muitos intermedeias vivem sem tecto proprio...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Estórias de Maputo (3)

De há uns tempos a esta parte, a cidade de Maputo tem sofrido alterações grandiosas. Algumas alterações são positivas, quanto a isso não restam dúvidas, e outras nem por isso e têm consequências profundas que, consoante a sua gravidade, se manifestarão a curto, médio e longo prazo.

Uma forma de observar o quão transformada ou em transformação está "a capital" é pelo preço de material de construção que subiu a olhos vistos, havendo até momentos em que escassea. Aliás, em termos de construção, torna-se cada vez mais dificil distinguir a zona de elite da do Zé Povão pois os primeiros tendem a florescer na periferia adentrando-se aos poucos para engolir os Zezinhos!

No centro da cidade, já é normal olhar-se para o céu e ver-se gruas ameaçadoras, maquinetas barulhentas e homens a trabalhar a todo o vapor. Espaços abandonados, já não existem e se existem têm dono. Que se tire a prova dos 9 colocando um bloco: em algum canto desse espaço está sinalizado, com tabuletas, ser propriedade de alguém e mesmo inexistente, o espaço tem dono.

Até em espaços que antes se acreditava, ou assim se propalava, não serem indicados para construção, hoje estão transformados em mansões dignas de cenas hollywodianas ou em blocos de escritórios que crescem, crescem e não param de crescer tal arranha-céus.

Nessa febre de construção citadina, muitas vezes com o intuito de pôr a render cada metro quadrado desse imóvel/edificio, não se olham a alguns pressupostos como a preservação dos espaços verdes. Por exemplo, o descampado lamancento defronte do campo do Maxaquene deu lugar a uma via pavimentada.

O Centro de Manutenção Repinga, aos poucos vai perdendo, não só as pistas e as estações de exercicio fisíco como também reduz, a velocidade alucinante, o emaranhado de eucaliptos e outro tipo de vegetação, que faziam deste um local aprazível de estar e exercitar. Em nome do modernismo, uma artéria do pulmão do centro da cidade esvai-se. Quo vadis, Maputo?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Txuna boy

Sendo que o hábito se tornou costume, pois hoje pouco se critica o titio kota que banca a menina quatorzinha, muitos dos titios, com familias formadas, como é evidente, deixam suas esposas “ao Deus dará” e essas kotas, muitas ainda na plenitude da sua feminilidade, precisam de alguém para "segurar as pontas".

Maduras e com o seu encanto, essas mulheres, respeitadas mães de familia, para suprirem as suas necessidades físicas poucas há que recorrem a outros kotas. A proximidade com os amigos dos filhos, vizinhos jovens e colegas de trabalho, alguns um pouco assanhados, trazem à flor da pele destas a necessidade e a vontade de ter um affair com os “meninos”.

No início da relação, os jovens cheios de charme e de alta calibragem, tudo fazem para conquistar e deixar de rastos a kota, geralmente tacuda pois os dividendos não se revertem apenas no acumular de novas experiências, mas também no cash que sempre é facilitado para pôr o menino a "shainar".

Empolgadas, as kotas investem seriamente no boy: pagam cursos, escola e até universidade. Griffes e gymm, afinal é preciso manter a boa forma, também entram no rol de beneses que estes boys ganham das kotas. Para alguns ficarem livres dos olhares acusadores de seus progenitores, alugam-se apartamentos e até são comprados carros.

Mas, como muitas vezes, as kotas, por serem casadas, não podem rodar publicamente com os boys, estes têm namorada, aquela que apresentam à sociedade e que por sua vez são patrocinadas com os dividendos da kota. Algumas kotas, ajudam o boy a estabelecer-se profissionalmente e até a formar familia na condição, claro, de manter o affair acesso!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Estórias de Maputo (2)

Como qualquer coisa que nos acontece na vida, os fenómenos sociais ocorrem a sua velocidade. Começou-se pelas casas, até em arranhas-céus, locais de impensável alcance escalatório, os citadinos tiveram que gradear suas varandas para evitar visitas indesejáveis. Nos muros que circundam as vivendas, foram erguidas paliçadas de ferro. Ainda assim, parece que isso não bastou.

Entrou na moda a instalação de alarmes nas residências e a guarda especializada (?) a qual aderiu quem consegu(ia)e pagar a factura e muitos tiveram que se contentar com o sô guarda. Os guindzas, aperfeiçoaram as suas técnicas de roubo, quer porque agiam muito mais rápido do que a reacção dos serviços de resposta aos alarmes quer porque começaram a fazer dos proprietários dos imóveis seus escudos protectores.

Pouco depois, mais ousados, sem sequer terem o receio de ser identificados, pelo sistema de segurança (?) que caracteriza (?) instituições bancárias e casas de câmbio, armados até aos dentes, os ladrões desafiaram tudo e todos roubando nessas instituições aterrorizando, igualmente, tudo e todos.

Em paralelo, a evolução dos sistemas de segurança também abrangia os bens móveis, no caso viaturas. Começou-se pela bengala (que era desmontada como uma banana), depois veio o alarme sonoro (que disparava depois do roubo ou nem tocava) e, ultimamente, empresas com o uso de sistemas tecnológicos trouxeram a paz para alguns citadinos (sempre e somente para os que conseguem pagar).

Por seu lado, os ladrões, na corrida contra o prejuízo, passaram a roubar os carros e a levar consigo os proprietários destes de modo a garantir a sua liberdade. Outros ladrões, menos agéis, temerosos ou semi-profissionais, preferiram limitar-se a fazer "batidas" dentro dos carros e a bazar com as "cenas" como vimos recentemente em jornal televisivo.

Com a febre do carro, que foi alimentada pelo surgimento de vários stands de venda, de esquemas e "connexions" de Durban, cedo disparou a necessidade de se repôr algumas peças e acessórios. Roubos cirúrgicos de e a viaturas, para apetrechar o mercado paralelo do Estrela Vermelha, começaram a ter lugar de forma assustadora.

No tocante ao roubo de acessórios (espelhos, reprodutores de som, colunas, twitters, tampões, símbolos da marca do carro, espelhos e até vidros), que parecia uma vasta e eficaz campanha, sem comparação para com os apelos para a doação de sangue nos períodos críticos, levou a que os carros começassem a ser marcados com a sua matrícula em tudo o que é susceptível e possível de evitar ser roubado.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Bordéis, um mal necessário?

Recentemente, numa cruzada nocturna pela cidade, após um copioso jantar com amigos, em locais estratégicos e de conhecimento de muitos, como a Julius Nyerere, Mao Tsé Tung, 24 de Julho, etc., várias mulheres expõe-se à moscas como alface, couve e magumbas num dumba-nengue. Como solucionar esta questão?

Diz um ditado, “há males que vem por bem”! Sou das poucas pessoas que concorda com algumas práticas como o aborto indiscriminado e a prostituição: Comigo ou parte ou racha, mas há momentos em que se deve pôr os pés na terra pois também “para grande males, há grandes remédios”.

A prostituição constitui um ambiente em que as mulheres têm pouco poder de auto-protecção contra o HIV e a violência fisica, até da própria Policia (damas de sexo). As raparigas forçadas ou vendidas ao trabalho de sexo, mesmo antes da puberdade, geralmente não têm consciência dos riscos relativos ao SIDA e são incapazes de fugir ou encetar acções de protecção.

Mas nem toda a prostituição é forçada! Enquanto que para algumas mulheres é escolha, muitas entram para o trabalho de sexo ocasional ou permanente como alternativa à grande pobreza, trocando o sexo por bens de primeira necessidade para si e para os seus filhos. Outras há que vão por essa via para alimentarem o seu ego materialista.

Nas ruas, onde estas mulheres “se vendem”, por serem “obrigadas”, pelo ramo profissional que seguem, a exporem-se em trajes que ultrajam “a moral e os bons costumes” sofrem o desprezo da sociedade que não as vê com bons olhos e são enxovalhadas e alvo de chacota de algumas pessoas, dentre elas clientes disfarçados.

Por outro lado, muitos perigos estão a espreita: agressões físicas e orgias não consentidas, por parte de clientes sádicos ou que não pretendem pagar a conta, perda de receitas por exigirem o uso do preservativo ou mesmo para escaparem das rusgas policias, que muitas vezes resultam também em abusos sexuais.

Em 2008, as prostitutas nacionais chamaram a sociedade civil para denunciar abusos e para exigir protecção de todos os seus clientes. Um dos pedidos era de que se abrissem bordéis em que o Governo deveria instituir uma regra, a de “só com preservativo”.

Se já existem casas que oferecem quartos para o cidadão que é adepto do amantismo, porque não se pode fazer o mesmo com as mulheres que fazem do uso do sexo uma fonte de rendimentos e nos poupamos da pouca vergonha?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Estórias de Maputo (1)

6ª feira, 15h em grande parte das instituições públicas, espera-se impaciente pela hora H: 15h30, a hora de fechar as portas e partir para a gandaia, a famosa 6ª do homem. A estes junta-se um cortejo de outros tantos companheiros, bizneiros, trabalhadores de instituições privadas e estudantes nocturnos, que são "conectados" sobre o local da batida e aos poucos a turba se junta em malta.

Muitos, conforme o poder de pagamento do seu bolso, o período do mês ou do rendimento do xitique que a malta faz para o txiling, desembocam nos senta-baixo do bairro, nas barracas famosas por algum tipo de serviço qualquer que convém a malta (petisco, paga 1 leva 2, sistema de vale, etc.), nos bares, nas casas de pasto, nos bottle store e nas bombas de combustível.

Nos bottle store e nas bombas, poucos, para não dizer mesmo raros, são os que lá vão para abastecer as suas garrafeiras ou as suas viaturas, razão da existência desses lugares. E já lá vai o tempo em que se "abastecia" para uma batida na marginal! Hoje, bombas e bottles stores, tornaram-se pontos de encontro de uma malta específica e facilmente caracterizável: jovens proprietários de viaturas e seus acompanhantes.

Para além de garrafas e latas, maioritariamente de alcool, que nunca faltam nesses meetings, os beats dos "sabufas", que tocados em simultâneo, provocam mixes de fazer inveja a muitos Dj’s da praça e arredores, em alto e bom som animam a malta que globalmente não respeita as tabuletas "Não consumir bebidas neste local" ou "Alcool proibido a menores de 18 anos".

Aliado a isso, desrespeita-se completamente a postura camarária que postula que 21h é o tempo limite para excessos sonoros em espaços públicos, sob pena de se ser punido (?) nos termos dessa mesma lei. Junta-se a isso o facto de, ao perfilarem-se tantos carros, as viaturas que realmente pretendem abastecer quase que se devem "ajoelhar" aos primeiros para usufruirem desse direito.

Como se não bastasse, dizem alguns moradores das proximidades desses locais, sobretudo das bombas, que casais há que no pico da noite, refugiando-se na desculpa esfarrapada do alto(?) teor de alcool consumido, não se coibem em "comer e repartir o fruto proibido" sob o olhar impávido e sereno dos outros que aplaudem e comentam as performances do bacanal bombiano.

Por outro lado, nos bottle store, o cenário não se diferencia muito do primeiro pois até ao raiar do dia, extremamente alcoolizados, grupos de jovens se bamboleiam ao sabor do som dos carros. Aqui a coisa fede um pouco mais pois este tipo de estabelecimento a priori não oferece sequer uma das habituais e imundas toillettes nas quais seus clientes se possam aliviar dos litros de alcool consumido.

Como consequência disso, inconsciencializados pelas saborosas geladinhas, muitos perdem o pudor e a classe que tinham no início do meeting e aos olhos de qualquer um puxam da ferramenta para se aliviarem. O pior acontece quando as ladys baixam os txuna baby e mostram o inominável perdendo toda a posse de mademoiselle extensões e unhas de gel!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pernas da mentira

As autoridades nacionais de saude, no caso o MISAU, insistem e persistem em dizer que tudo(?) esta a ser feito para que a informação sobre o virus H1N1 seja difundida no seio de todos os cidadãos nacionais. Segundo estas, a sua preocupação é com as possiveis portas de entrada, entenda-se fronteiras.

Segundo o wikipedia, em seres humanos, os sintomas de gripe A (H1N1) são semelhantes aos da gripe e síndroma gripal em geral, nomeadamente calafrios, febre, garganta dolorida, dores musculares, dor de cabeça forte, tosse, fraqueza, desconforto geral, e em alguns casos, náusea, vômito e diarreia.

Reportagens efectuadas, sobretudo apos a confirmação de um infectado, aquando dos Jogos da Lusofonia, que tiveram lugar em Lisboa em Julho passado, demonstraram, apesar da tranquilização por parte da Organização do evento, que deveriamos estar mais atentos a este facto.

Um pouco depois, as reportagens efectuadas à porta do Aeroporto Internacional de Mavalane, deitaram por terra as "pernas" do MISAU pois todos os passageiros vindos de Lisboa afirmavam nem sequer ter sido abordados ou informados pelos entidades de saude no local.

Na fronteira de Ressano Garcia, local de intenso movimento de e para a Africa do Sul, local onde ja se apresentaram alguns casos, o mesmo cenario foi mostrado: ninguém foi indagado sobre o seu estado de saude ou informado sobre o virus H1N1.

Dentro da cidade, reportagens posteriores, visando o mesmo objectivo, demonstraram que o MISAU pouco ou nada tem feito para mudar este cenario, deitando por terra, uma vez mais, a tese emitida pelo Director-Adjunto da Saude, Leonardo Chavane, segundo a qual " a informação esta a ser dissiminada a nivel das unidades sanitarias". E como fica o slogan "prevenir é melhor do que remediar?"

terça-feira, 28 de julho de 2009

Espectro social

A questão é polémica o quanto baste. As estatísticas são escassas, breve desconhecidas, talvez mesmo inexistentes. A voz da moral, dos bons costumes, do politicamente correcto, do ético, da religião e todos outros princípios que cada um respeita, toma forma. Mas, ainda que tapado, como a peneira faz ao sol, o espectro do aborto(?) está aí: mortal, silencioso e real.

Os pais a "podem matar" se o souberem pois o jovem responsável não está em condições de assumir uma familia, menos ainda pelo golpe da barriga. Se se trata do tio kota, que tem familia e filhos já crescidos, outro filho pode destabilizar a harmonia (?) familiar. Também pode ser que a menina (?) não saiba de quem é o filho, o que se há-de fazer? A menina está grávida!

Há dois roteiros possíveis: o primeiro é procurar aquela enfermeira famosa, lá do bairro, que dá comprimidos, conhecida (?) pela sua discrição (?) e serviço eficiente. Ainda nesse cenário, há também aquele enfermeiro da maclinica (?) que dá injecção e já está! Caso contrário, apela-se aquela vovó que dá pós e pauzinhos que provocam muitas cólicas mas a "barriga" saí. E, em caso de desespero, com coragem e audácia fura-se o útero com uma agulha de tricot.

Noutro cenário, o do hospital, preenche-se um requerimento, o moço ou tio faz uma declaração assumindo que toma conhecimento/responsabilidade e que o aborto pode ter lugar. Paga-se o que se tem a pagar, fazem-se as análises devidas para checar se está tudo bem (?) e vem a certeira (des?)autorização do hospital.

No dia marcado, como quem vai à escola, geralmente acompanhada e encorajada por amigas, que certamente conhecem e passaram pelo sistema, tem lugar o aborto. Dia seguinte, consoante a capacidade de suporte de dor, que leva algumas a confessarem-se a seus progenitores, a menina vai ao hospital fazer a raspagem. Pronto está feito!

Após a consumação do acto, pouco ou nada é feito, excepto alguns apelos para que as meninas façam o planeamento familiar (?) e se acautelem com a possibilidade de se infectar com o HIV. Lamentavelmente, poucas acatam com os conselhos das enfermeiras e pouco depois retomam aos corredores do hospital ou de outros circuitos ilegais (?) para, com a frieza da experiência, resolverem de novo este mesmo assunto.

Relatos de mortes, que tem como causa um aborto mal feito ou outras complicações a ele relacionados, não são frequentemente comentados pois constituem vergonha para a familia e também não é menos verdade que muita moça se torna estéril como consequência disso. A sociedade, por seu turno, grita e estrebucha que o aborto é matar uma pessoa, mas no recanto da familia dessa mesma sociedade ele é cruamente real.

Tal como uma moeda, as duas faces da abordagem do aborto são polémicas, difícies de engolir/vomitar e aceitar/recusar. Mas, SIM ou NÃO ao aborto?

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ai de ti!

Tão polémico como tem sido o debate sobre a ponte da Unidade Nacional (?), so se pode falar da Lei contra a violência doméstica. apesar das feridas que levantou, a lei contra a violência foi aprovada pela Assembleia da Republica. Esta foi uma ocasião para ver as mulheres vangloriarem-se de não mais poder sofrer mazelas por parte de seus companheiros. Por seu turno, para os homens, um artiguito para não beliscar a masculinidade destes, face a violencia de suas companheiras foi anexado.

Portanto, aquele que violentar fisicamente a mulher, causando-lhe doença ou lesão que ponha em risco a vida será punido com a pena de dois a oito anos de prisão maior. A lei estabelece ainda que todo aquele que ofender voluntária e psiquicamente, por meio de ameaças, violência verbal, injúria, difamação ou calúnia a mulher com quem tem ou teve relação amorosa duradoura, laços de parentesco ou consanguinidade ou mulher com quem habite no mesmo tecto será condenado na pena de seis meses a um ano de prisão e multa correspondente.

Se a ameaça tiver sido com uso de instrumentos perigosos, a pena será de um a dois anos de prisão e multa correspondente. No que diz respeito à cópula (relações sexuais) não consentida fixa que quem a mantiver com a cônjuge, namorada, mulher com quem tem uma relação amorosa duradoura, laços de parentesco ou consanguinidade ou mulher com quem habite no mesmo espaço será punido com pena de seis meses a dois anos de prisão e multa correspondente
.

Ainda restam duvidas? é caso para dizer: ai de ti, homem! Ai de ti!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Burla nos extraordinarios

Decorrem em todo o pais os exames extraordinarios da 10a e 12a classes. Estes exames tem a pretensao de, entre outros, dar uma oportunidade a aqueles estudantes que reprovaram em alguma seccao ou disciplina de o fazerem. Nessa boleia, tambem se penduram aqueles que procuram, nesses exames, para avancar para a classe sem a frequentar na totalidade.
Para esses exames foram criados centros de exames em escolas determinadas e a supervisao dos mesmos esta a ser assegurada por professores que actualmente se encontram em parcial gozo de ferias. Segundo testemunhos, esses professores perspectivavam receber por cada jornada de supervisao (dois exames diarios) 5ooMt. No entanto, no palco dos acontecimentos tomaram conhecimento que afinal se tratavam de 100 (miseros) meticais!


Mocambicanos (professores vigilantes e candidatos a exame) que de ignorantes pouco tem, aproveitam-se deste acontecimento academico para lucrar algum por fora e "passar" de classe num sistema de burla facilitado pelos sms. A demarche, apesar das conviccoes das chefias de que nenhuma burla eh possivel, eh simples: Apos a distribuicao do exame A aos alunos, uma copia eh entregue ao professor dessa disciplina que se encontra, evidentemente, afastado da sala.
O professor da disciplina A elabora a matriz da correccao do exame (escolha multipla) e envia as chaves por sms aos professores vigilantes. Estes, na sala de exame, copiam a chave e,consoante a "disponibilidade" do candidato, transcrevem-na na folha de rascunho que posteriormente eh entregue ao candidato que nada mais faz do que copiar na folha de exame.
PS: Desculpem-me a falta de acentos

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Apelo urgente

Recebi por email o apelo que abaixo publico (sic):

Peço a colaboração de leitores e bloguistas para publicitarem amplamente a seguinte notícia que acabei de receber:

"O Instituto do Coração vai fazer cirurgias a coração aberto a 20 crianças de 11-18 de Julho de 2009. Cada criança precisa de 10 unidades de sangue para transfusão para poder ser operada. A equipa que vai operar estas crianças vem de França especialmente para fazer estas operações. A maioria das crianças são de fora de Maputo e não tem parentes cá para doar sangue. Sendo assim, peço-vos encarecidamente para irem ao banco de sangue doar sangue. Quando chegarem ao Banco de Sangue é só dizerem que vêm doar sangue para MISSÃO CIRÚRGICA NO ICOR.

Lembrem-se:

AO DOAREM SANGUE ESTÃO A SALVAR A VIDA DUMA CRIANÇA.
Mario Songane
Instituto do Coração".


PS: Pessoal, quantas vezes não recebemos emails pedindo dinheiro para ajudar crianças em recantos distantes do mundo? Este gesto não custa e nem doi nada, é em prol das nossas crianças e dignifica quem o faz. Avante bloggers!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Acorrentados

A demência e outros males, muitas vezes genéticos, leva a que familias tomem medidas extremas para, segundo elas, salvaguardar a integridade fisica(?) dos doentes. Casos de crianças e adultos que são acorrentados por seus proprios progenitores/familiares so chocam pelas imagens deploraveis que são mostradas nos jornais televisivos mas são uma crua realidade na nossa sociedade.

Algumas vezes, pretendo acautelar-se de maus espiritos que se apossessam dessas pessoas, para além de acorrentados, alguns portadores de deficiência mental ou congénita são enclausurados em locais de dimensões reduzidas, como se de animais se tratassem, onde não raras vezes fazem as necessidades fisiologicas e são alimentados.

Mas de quem é a culpa? Desses pais/familiares que acreditam no sobrenatural ou do Estado que não oferece condições para que pessoas com tais problemas possam ter uma vida aceitavel? Continuarão estas pessoas a ser acorrentadas e os acorrentadores presos temporariamente pelo seu acto "cheio de boas intenções"?

terça-feira, 30 de junho de 2009

Pecados da lei

Quem cuida das crianças
é a mulher
Quem lava, passa e arruma
é a mulher
Quem faz as coisas todas
é a mulher
Pois é, pois é
Pois é, pois é
E o homem sem-vergonha é quem bate na mulher
Pois é, pois é
Pois é, pois é
E o homem sem-vergonha é quem bate na mulher*


Esta recordação adaptada (mal me lembro do autor, da letra integral e do titulo da musica, as minhas sinceras desculpas por tal) surge no contexto da aprovação, pela Assembleia da Republica, do Projecto de Lei contra a violência doméstica. Tendo se reconhecido a Mulher como principal vitima, esta lei peca por se ter esquecido que, actualmente, o Homem também é "batido".

* Tera sido o tio Turutão?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Agiotas

Vida fácil, ninguém tem. Meios para melhorá-la, todos procuramos e muitos há que não olham meios para atingir os seus objectivos mesmo que, a caminho disso, tenham que arrastar e prejudicar outrém.

Há, por exemplo, funcionários bancários que tendo acesso a contas de clientes, estudam a regularidade de movimentação do último e acabam fazendo uso ilicito dos rendimentos/depósitos destes para seu usufruto pessoal, em agiotagem.

Agiota é a pessoa que empresta dinheiro a outra e o faz sem a devida legalidade. Geralmente procurados por pessoas que não têm crédito na praça ou por estarem muito endividadas ou na lista dos devedores, também “servem” pessoas que não fazem parte do grupo antes referido.

Outras classes também praticam a agiotagem, como é o caso de alguns cantarinos da praça que não se coibem sequer de ter a seu soldo ex-cadastrados como “homens da cobrança coerciva”. Engane-se quem pensa(va) que se trata(va) de guarda-costas!

Por trabalharem com pessoas que estão sem alternativas, o agiota costuma cobrar juros mais altos do que os bancos e os modos de prestação do serviço basea-se, muitas vezes, em contrato verbal no qual o tomador do empréstimo é submetido a prazos de pagamento, como nos bancos.

As pessoas recorrem aos “préstimos” dos agiotas para pagar outras dividas, comprar ou arrendar flats, comprar viaturas, fazer negócios entre outros e, sendo que não tem possibilidades de recorrer a uma instituição legal, arriscam-se a “pagar as favas” por incumprimento de prazos e muitas vezes a agressão fisica faz parte.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Incesto ou no cesto?

Em Marracuene, uma vila nas barbas da Cidade de Maputo, pai é denunciado por violar três crianças, uma das quais sua filha. O vil acto, teve o apoio incondicional de uma tia das crianças que exerce o curandeirismo. Sendo a tia uma mulher e por conseguinte um ser que, pela natureza feminina, dever-se-ia preocupar com a segurança da prole, este acto choca bastante.

Ademais, em surdina, e para quem acredita no sobrenatural, ouve-se frequentemente dizer que grandes fortunas são construidas com base na "venda", pelos proprios progenitores, de filhos. Este comentario ganha condão quando numa familia mergulhada em fortunas tem no seu seio um filho com algum problema de saude ou mental. Não sera este mais um caso?

terça-feira, 16 de junho de 2009

Show off na última despedida

Em momentos de recolhimento e de profunda dor, pela perda de um ente querido, a protagonização de episódios, alguns constrangedores e outros caricatos, não param de surpreender aquando de cerimónias fúnebres.

É do conhecimento geral a existência de “padres de ocasião” que à porta do cemitério prestam serviços a familias cujo defunto não vem acompanhado por orientador espiritual por razões diversas. No final das orações, para além do habitual chá do defunto, um cachet é pago pelos serviços e requisitados outros para as missas seguintes.

Quando a morte bate a porta das elites, o chá de defunto é algo gigantesco que só pode ser comparado a alegria dos copos d’água de casamentos: chás-buffet, cadeiras com vestes de gala a condizer com as roupas da ocasião, etc, são alguns dos itens que não podem faltar.

Sabido é que quando tal desgraça nos bate a porta, fatalmente estamos desprevenidos pois, apesar de a morte é a maior certeza da vida, ninguém está preparado para a acolher! Como forma de minimizar as consequências resultantes do luto, muitas familias fazem o xitique da familia visando minimizar o impacto desta fatalidade.

No entanto, apesar de toda carga de emoção e despesa que a morte de um próximo provoca, virou moda, no dia do funeral, ver parentes próximos do finado trajados com camisetes estampadas com a imagem deste com dizeres em memória do récem-falecido como que a festejar o acontecimento.

Nessas situações, como não podia deixar de ser, vozes discordantes se manifestam, ânimos se exaltam, impropérios são lançados e, apesar de todo esse show off, lá vai, com toda a pompa e circunstância, o/a homenageado a sua última morada ...

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Bofetada de amor

Este mês é dedicado a criança, primeiro pelo Dia internacional da Criança, celebrado a 1 de Junho e pelo dia da Criança Africana celebrado a 16 de Junho. Este mês, tal como todos os outros, deve(ria) ser especialmente dedicado a demostração de afecto por todos que nutrem simpatias pelas "flores que nunca murcham".

Infelizmente, ao invés de se celebrar o mês com pompa e circunstância, so se ouvem relatos de pais que presentearam, os seus filhos com sopapos aplicados vilolentamente por razões diversas. A gestão de problemas pais-filhos é questionavel quando se aplica violência contra as crianças.

Ha quem diga que uma palmadinha não faz mal a ninguém, mas quando essas palmadinhas fazem com que as crianças tenham que ir ao hospital para ser tratadas das mazelas causadas e os seus pais a Esquadra para justificar seus actos, a coisa é muito feia.

Um miudo, sob pretexto banal, ficou na rua durante 15 dias porque seus familiares (tio e mãe) acharam que essa era a melhor solução para castigar o pretenso "pequeno gatuno". O bom do miudo é que nesse entretanto continuou a ir para a escola. Pena é que os vizinhos apesar de o alimentarem, deram uma esteira para que ele continuasse a dormir na rua...

Outro pai, com barba de impor respeito a qualquer um, espancou o seu filho porque supostamente "roubou" em uma loja. Outro pai ainda, fazendo uso da brutalidade de sua força fisica, maltratou a sua filha ao ponto de ser engessada porque "roubou" comida...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O preço da pedofilia

“Ele chamou me pelo portão e deise me para entra na casa dele para me dar chá. Estavamos na sala só nós dois, ele tirou as calças e mandou me chupar o pénis dele. Eu estava sentado e ele deitado. Ele gritou comigo para eu chupar rapidamente o pénis dele. Depois mandou-me embora e deu me 10 meticais para eu comprar coisas para comer”, refere o menor na primeira pessoa.

10 miseros meticais! Um valor tao irrisorio que mesmo os mendigos o recebem com désdem. 10 meticais, uma pechincha que os guardadores de carro recebem amuados e a contragosto. 10 meticias foi o preço pago a uma criança, pelo seu vil abusador para pagar e matar a fome de uma inocente criança.10 meticais!

PS: Não me entendam mal, não estou contra a pechincha em causa, é uma métafora contra o acto vil desse cidadao e sabe-se la quantos outros mais!!!

Chefe , sim senhor!

Já não é anormal pessoas de determinada área estarem a labutar em outras diferentes das de sua formação. Os sonhos da geração pós-independência eram ser enfermeiro, médico, professor, engenheiro, chôfero (chauffeur), veterinário, agricultor e, hoje, por contigência da conjuntura que vivemos muitos desses sonhos mudaram e se quer ser, entre outros, engenheiro em informática, jornalista, escritor e, acima de tudo, chefe.

Chefe, sim senhor! Muitos confundem o estatuto de chefe com a profissão. Todos querem ser chefes, não importa de quê muito menos onde. O mais importante e o expoente máximo da carreira profissional é ter um cargo de chefia! Crescer profissionalmente numa empresa ou instituição pública ou privada e acima de tudo na mente das pessoas é deter o poder e ser-se chefe.

Talvez impulsionados pelo ambiente domiciliar, onde há chefe da familia, chefe das 10 casas, chefe do quarteirão, chefe (secretário) do bairro e ainda há chefe de turma, logo que se começa a socialização na escola. No trabalho, chefe de grupo, chefe da comissão, chefe de secção, chefe de departamento, chefe de... Como não alimentar o sonho de ser chefe?

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sô guarda!

A estória dos agentes de segurança pública é muito conhecida por razões evidentes pois tem um sindicato que os acolhe(?) e por consequência disso a sua triste estória é conhecida e amplamente divulgada nos órgãos de comunicação social: salários baixos, atrasos no pagamento dos mesmos, inexistência de subsidios pelas horas extras e pela precaridade do exercicio de suas tarefas entre outras.

Nos seus postos de trabalho, residências, empresas e escritórios, espaços de venda e de prestação de serviços, estes homens desempenham muitas outras funções que não a que para a qual foram contratados: organizador de bichas, estafeta, servente, etc., e passam praticamente todo o dia em pé sendo “mimados”, por algumas empresas, com um pão simples para um exercicio laboral de 24 horas.

A estória menos conhecida é certamente a dos guardas de prédios e residências que não estão filiados a nenhum sindicato ou entidade que salvaguarde seus direitos. Verdadeiramente escravizados, os guardas ultrapassam as suas normais incumbências mas, ainda assim, raramente lhes é dado, pelo patrão, uma refeição quente ou uma manta ou sobretudo para se cobrirem das noites frescas.

Sempre à disposição, os guardas tudo fazem para não perder o seu magro e sacrificado pão: lavam os carros, passeiam o cão, compram o pão, vão a casa do irmão do patrão deixar ou levar alguma encomenda, sobem e descem andares com as compras da madame... Infelizmente não podem faltar porque estão doentes ou tem um familiar a deles precisar.

Sô guardaaaaaaaaaa!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Comida à kg

O serviço Comida à quilo, que já começa a ter barba na nossa cidade, surge como alternativa a tradicionalizada dose/metade ou inteira porção do prato frango grelhado com porções de batata frita e um “projecto de salada” que figura invariavelmente no menu de todos estabelecimentos que preparam e vende alimentos prontos a comer.

Comida à quilo, é portanto uma possibilidade diferente oferecida por alguns estabelecimentos comerciais da área de restauração e não só (os supermercados também entram no negócio) que oferecem refeições preparadas em que o cliente se serve ou é servido a seu bel prazer, num vasto leque de opções, pagando pelo seu peso.

Geralmente, nos locais onde se serve Comida à quilo, existe uma enorme preocupação com a variação de oferta no menu: vegetais, carnes (brancas e vermelhas) e também se procura aproximar os apetites aos hábitos caseiros moçambicanos com a confecção de pratos tipicos como a matapa, mboa, macofo e xima. Aceita 1Kg?

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Putizacao da juventude maputense*

Prostitutas sempre houve na nossa cidade. Era uma grupo relativamente pequeno, de moças e mulheres de parcos rendimentos, de familias pobres, que usavam o que Deus lhes deu e a ganância dos homens, para sobreviver economicamente. Ocupavam certos passeios, zonas de certos bairros e bares de certas ruas.
Mais recentemente, o grupo vem alargando-se, em número, em motivações, em métodos e em extractos sociais. E em género. As moças já não se prostituem só para não passarem fome. Prostituem-se para pagar a universidade. Para poderem comprar na Loja das Damas. Para poderem ir ao Coco´s. Já não trabalham só nas ruas, nos bairros da periferia ou nos bares da Rua de Bagamoyo. Passaram a ocupar mesas no Sheikh, no Mundo´s, no Lounge. Já não são pobres moças do subúrbio, são filhas da “classe média” que vivem em apartamentos pagos pelos Srs. Directores, conduzem carros pelos Srs. Directores, viajam à custa dos Srs. Directores.
Director aqui representa toda essa classe de homens bem-posicionados, para quem a prova de masculinidade passa pelo número de moças que vivem à sua custa. O facto de serem um bando de otários que acaba por sustentar não só a moça, a família da moça, mas também o namorado da moça, escapa-lhes, de tanto estarem deslumbrados pela sua recém-adquirida nova-macheza, irmã gémea da sua nova-riqueza.
Ao grupo das moças, juntou-se o grupo dos moços. São os que “servem” as kotas. As mulheres dos tais Directores. Abandonadas no lar familiar - os maridos estão sempre nas sextas-feiras do homens, bebem tanto que já são impotentes, e gastam o Viagra e o Enzoy apenas para provar às suas mocinhas que ainda são homens, e com extra cash com que os maridos compram a sua permanência no lar, saiem em busca dos moçoilos jovens, altos, fortes e sempre sedentos de cash para sustentar os vícios, as namoradas, os fins-de-semana, as roupas, os celulares da moda, etc. A kota paga cash, mas também paga o ginásio, os cursinhos, etc. Em troca, recebe a ilusão de satisfação e prazer. Uma minoria, mas crescente, desses moços já recebe carros, apartamentos e viagens ao estrangeiro.
Um fenómeno mais recente são os jovens que se vendem a sectores da comunidade gay. Este é o grupo mais prostituto. Pode argumentar-se que os outros fazem por dinheiro e benefícios materiais o que regularmente fariam na sua vida do dia-a-dia: sexo com o sexo oposto. A maioria dos jovens que se vende a membros da comunidade gay não tem apetências sexuais por homens.. Mas, hoje em dia, por dinheiro, pela quantia certa de dinheiro, vale tudo. If the price is right...
Alguns tentam manter uma risível aparência de dignidade masculina, dizendo: “eh, pá, eu só dou, não levo!”. Outros, pela quantia certa, entregam a boca e o c... e tudo o mais que o master quiser comprar. If the price is right... E até trazem outros bradas para a jaula do leão, se for preciso. Viram recrutadores. A troco de comissão. Viram os cafetinos de estimação. Têm direito a whisky, onde os outros só bebem cerveja. Têm direito a emprego, onde os os outros só recebem envelopes de dinheiro. Têm direito a cursinho, onde os outros só levam dinheiro para o fim-de-semana no Coco´s.
Infelizmente, esta minoria da comunidade gay que usa o poder do livro de cheques para adquirir a satisfação que é incapaz de conquistar por mérito próprio, essa busca interminável e inatingível do garanhão perfeito, está a criar não só um ambiente insustentável para o resto da comunidade, como emporca-lha a reputação da comunidade. Hoje em dia já é comum para qualquer caça-centavos desgraçado, qualquer aspirante a menino bem, chegar perto de alguém que ouviu dizer ser gay e perguntar: “ouve lá, pá, quanto é que me pagas para eu te f...?”! “És gay? Quanto pagas?”! Pagar o quê, para quê? Como se fosse a coisa mais óbvia que (1) todo o gay está tão desesperado por homem que f.. com qualquer um que lhe apareça à frente e (2) todo o gay paga dinheiro por sexo e só consegue sexo por dinheiro.
A situação está de tal modo, que até gays de condição económica inferior já começaram a fazer por dinheiro aquilo que sempre fizeram só por prazer. Basta que o outro gay tenha aparência de melhor posição sócio-económica. É a reprodução do modelo prostituto hetero dentro da comunidade gay. E assim vai a putização da nossa juventude!
*Autor desconhecido (artigo propagado por email)

terça-feira, 5 de maio de 2009

Sonhos do Navegador

Descobri no jornal impresso @ Verdade, o nosso companheiro de trincheira na blogsfera, lutador incansavel das causas dos injustiçados, o Navegador Solidario Agry White.

Num grito que se quer de todos exilados, inspirado na sua veia poetica, Agry fala da saudade da nossa terra. Dos seus cheiros e sabores, de suas gentes, anonimas e famosas.

Faça o download da edição de 1 de Maio e veja, na pagina 4, Sonhos de desterro.

domingo, 26 de abril de 2009

As crianças de hoje (4)

Lidar com o dinheiro

No passado, na nossa fase de criancice, ter na mão uma reluzente moeda dada pelos papás era um grande tesouro. Essas moedas, que não raras vezes eram coleccionadas e recontadas até a exaustão, serviam para comprar o Kurika (revista de banda desenhada), postais, selos, uma ida ao cinema e depois ao Carrocel na feira, um refrigerante e um bolo no Scala ou no Continental.

E as crianças de hoje? Se até bem pouco tempo pediam dinheiro para comprar rebuçados com tatuagem, não tarda muito ou já estão a pedir mola para o seu crédito, para levar a Patricinha (menina rica e mimada) ou a Mariazinha (pobre Maria lá do bairro) ao teatro, depois para lanchar e ainda comprar crédito para esta, isto sem contar “naquelas sapas que toda malta tem menos eu”, etc.

Apesar de todas as adversidades, de uma ou de outra forma, pautamos sempre por poupar algum, pois nunca se sabe o que o futuro nos reserve e nada é eterno. Será que estamos a preparar os nossos filhos para a incerteza da vida? Decerto que sim, guardando sempre que podemos ou com regularidade possivel algum dinheiro para eles na “eventualidade de...”. E o hoje e agora: como gerir?

O nosso salário, infelizmente só é pago uma vez por mês, mas as despesas, essas não param nunca: a todo o momento estamos a pagar algo e até nós mesmos nos questionamos sobre a proveniência do dinheiro para cobrir tanta despesa. E os nossos filhos? Como reagem face ao dinheiro? Como fazê-los rentabilizar o pouco que podemos dar? Dar uma semanada, uma mesada ou sempre que eles dele precisarem?

Muitas vezes, sobretudo no meio escolar, vemos crianças com elevadas quantias em dinheiro vivo. Os pais alegam que é para a garantir a opção de escolha de seus filhos no menu escolar, outros nem sequer justificações apresentam: tem tanto que já não sabem o que fazer senão dá-los aos filhos/crianças com todas as consequeências que dai advém (inveja dos outros, logo furto na carteira dos pais). Preocupação legitima mas errada.

É de salutar pais que se preocupam com o futuro de seus filhos, não só lhes garantindo uma formação como também um pé de meia para a vida futura. Mas se, neste momento, não damos a esses filhos as ferramentas de gestão destes e de outros valores como achamos que eles se portarão face a um bolo relativamente maior e inesperado? Poucos serão os sábios a ponto de o usar da mesma forma que poupam.

A quem diga que quanto mais tardio for o contacto com o dinheiro melhor é para as crianças. Mas, as nossas crianças, desde muito cedo tem contacto com o dinheiro porque vendem ou compram produtos na rua: rebuçados para o “babar” (porque o pai quer sair e o miúdo está aos berros), pão na esquina, crédito (porque é um menino moderno e tem que estar on), alface (porque a menina já sabe preparar a salada), para o chapa, etc.

Dar as crianças um valor para que elas aprendam a geri-lo é saudável para a sua educação económica. No entanto, não podemos cair no erro de fazer parecer que estamos a efectuar um pagamento por serviços ou bom comportamento, essas actividades e postura são obrigações face a familia. Mas como proceder? Dar o dinheiro e deixar o miúdo gerir a seu gosto e vontade? Quando dar? Como dar e com que objectivo? Breve, como ensinar as crianças a lidar com a mola?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Xeque-mate nas paragens

Em algumas paragens de autocarro e de chapa da cidade, como as conhecidas Electricidade, Ponto Final, Ronil, Entreposto, Laurentina e Alto Maé, grupos de jovem simulam chorudas jogatinas que atraem cidadãos distraídos pelos valores que rodam e que são ganhos: o jogo de cartas denominado Ndjombo (sorte).

A estratégia é, aparentemente, simples mas o processo é complicado. Trata-se de um jogo em que se usam 3 ases de cartas, em que se deve descobrir um dos ases vermelho, o copas ou ouro, entre os ases pretos paus e espada. Portanto, trata-se de uma escolha aleatória por vezes previsivel se se controlar o jogador.

No entanto, tendo em conta a previsibilidade de vitória por parte do apostador, o jogador na verdade faz parte duma vasta team que está por perto, sendo que o isco (apostador que aparentemente ganha nas simulações) é alguém do grupo e até mulheres participam na tramóia.
O apostador-vitima, vendo o suposto apostador-cliente a facturar, desconhecendo as jogadas obscuras e a teia tecida pela team por detrás deste simples aparente jogo de azar, muitas vezes não hesita em tentar a sorte e é ai onde as coisas começam a complicar-se.

As apostas começam baixas e conforme o apostador vai ganhando, as apostas vão subindo. Ao contrário do que o apostador pensa, tudo tem como objectivo único controlar os valores monetários de que este dispõe e alguns membros da team, os olheiros, o vão incitando para que este aumente os lances das apostas.

Quanto maiores os lances, maiores são os riscos que corre o apostador pois num só lance tudo pode ficar perdido. Entretanto, se o apostador após redobrar vitoriosamente as suas apostas decidir pela desistência, alguns dos membros da team o “acompanharão” para recuperar os valores, a pé ou no chapa e... xeque-mate!

sábado, 11 de abril de 2009

Tocaia nas escolas

Há poucos dias, uma sobrinha adolescente veio a minha casa com a camisa do fardamento sem os botões completamente transtornada e lavada em lágrimase mal abri a porta, correu para a casa de banho. Confesso que a primeira impressão foi a de que a miúda havia sido estuprada pelo que, preocupada, fui à casa de banho pois queria saber o que se tinha passado.

Entre lágrimas, disse-me que tinha sido molestada dentro da escola por moços fardados e que aos outros colegas tinham arrancado telemóveis, brincos, sapatilhas, ipod’s e outros objectos de relativo valor. Dentro da escola? Foi a minha questão, ao que ela assentiu positivamente.

Pouco depois, ela veio narrar-me o que se passava na sua escola. No periodo da tarde, jovens estudantes de outras escolas, e não só, entram sala adentro para surripiar tudo o que há de valor. Alguns professores, sobretudo mulheres, preferem abandonar a sala antes do toque com receio do que pode acontecer quase no fim do periodo de aulas.

Inicialmente, esta tocaia era feita à porta da escola, mas com a convivência de alguns alunos da própria escola, uns porque são X9’s (dedo duro) e outros porque são ameaçados pelas gang’s, estes passaram a entrar dentro do recinto escolar e daí para a sala de aula foi apenas um pulo.

Atitudes de género já foram reportadas em escolas de ensino primário de primeiro e segundo graus, mas que já tinham atacado escolas públicas do ensino pré-universitário, está foi a primeira vez e ainda por cima com estratégias de bandidagem tão avançadas.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Penteado perigoso

Recentemente desloquei-me, com certa urgência, a um salão de cabelereiro para desmanchar tranças e lavar o cabelo. Logo, tratou-se de um local ao qual não sou cliente assidua com a particularidade de ser unissexo, designação engraçada pelo facto de servir homens e mulheres.

Enquanto esperava que chegasse a minha vez, tive especial cuidado em reparar nos homens que lá estavam ou se dirigiam. A chegada, estava um jovem a fazer um corte com figuras geométricas que exigia algum traquejo do barbeiro e o trabalho final foi espectacular!

Logo de seguida, sentou-se na cadeira da barbearia, um petiz dos seus 5 anos acompanhado pela irmã de aproximadamente 8 anos. Pela aparência da cabeleira do miúdo este parecia-me ter “tinha”. Zum e vrum, em poucos instantes o miúdo ficou completamente careca, o que deixou evidente a primeira imprensão.

Mal o barbeiro varrer a sujeira feita pelos clientes anteriores, entrou na berlinda um senhor de raça branca com alguns fios de cabelo branco. Zum, vrum, aos poucos o cabelo do senhor começou a ser aparado ao seu gosto e... trás, o senhor manda um grito!

Curiosos e aflitos, todos viramo-nos para ver e perceber o que se estava a passar: uma borbulha ou mesmo pele, um pouco mais abaixo da orelha tinha sido esfolada e estava a sangrar. Aflito, o senhor apenas quis um penso rápido para estancar o sangue que escorria.

Mulher prevenida vale por..., abri a minha sacola e saquei um penso para o socorrer. Entretanto, antes de pôr o penso, o barbeiro molhou um pedaço de algodão, usado para retirar verniz, embebeu-o em alcool e passou no ferimento do preocupado cliente que não mugiu e nem tugiu.

De relance olhei para o tal alcool: nem de longe se sentia aquela fragrância forte, com o agravante de ser colorido! O penteado do cliente foi finalizado, o trabalho pago e o barbeiro pegou no mesmo pedaço de algodão já usado, o embebeu com mais um pouco de alcool e limpou a máquina. Pronto, estava esterlizado para o próximo cliente!

A minha urgência perdeu sentido! Retirei-me do salão alegando indisposição pois já era minha vez. Ah, é verdade, eis Tabela de preços da barbearia do referido salão: corte simples: 20,00Mt; corte especial: 45,00Mt; punk: 30,00Mt e juba: 10,00Mt. Agora, Pare e Pense, vale a pena correr o risco de ser contaminado por um preço tão baixo?

sexta-feira, 3 de abril de 2009

"Biznis" no machibombo

Sempre que tenho oportunidade, ao invés de me deslocar de um local para o outro do meu percurso diario, tenho especial preferência pelo autocarro vulgarmente apelidado machibombo, por garantir maior segurança apesar das contrariedades no que concerne aos horários.

Diz um ditado, “cabrito come onde está amarrado” e, tal como em muitas situacoes do nosso quotidano, no machibombo não se foge à regra. Numa dessas idas e vindas, entrei num autocarro apenas porque estava carregada pois estava a três paragens da minha, por sinal a terminal.

O autocarro estava praticamente vazio e ciente de que o percurso não seria longo, o cobrador, ao fazer a venda do bilhete perguntou-se se estava a fazer ligações, por ser hora de ponta, ou se apenas ia até a terminal. Prontamente respondi que ia até a terminal.

O cobrador recebeu o meu dinheiro e até fez os trocos mas não me entregou o bilhete. Já nos aproximavamos da paragem seguinte quando entra uma moça e reparei que também recebeu o mesmo questionamento. Sorte ou azar, esta pretendia fazer ligações.

Chamei o cobrador, pois queria o meu bilhete, comprovativo de que o tinha comprado e que em caso de entrada do revisor custar-me-ia cinquenta vezes um único bilhete. Contrariado o cobrador me passa o bilhete e pede-me que o devolva(?) na minha descida.

Devolver? Questionei surpreendida. Para que efeitos? Apesar de nunca ter trabalhado na transportadora pública de Maputo, sou esclarecida e atenta o suficiente para perceber que quando se chega a uma terminal deve-se assinalar o número de bilhetes vendidos à partir da terminal anterior.

Sem vergonha na cara, o cobrador me responde que “assim poderei revender o bilhete para comprar cigarros!”. Ainda por cima cigarros? Ignorei-o completamente e na minha descida anotei o número telefónico que vem na parte traseira dos machibombos para avaliar se estes são bem ou mal conduzidos e a respectiva matricula.

Qual não foi o meu espanto? Disseram-me que esse tipo de denúncia não era assunto daquela linha e que nem sequer podiam me remeter a uma outra linha pois não existe. Se eu quissesse, deveria ir sede da transportadora para fazer essa denúncia preenchedo o livro de reclamações! Tardiamente descobri que os TPM tem página web...

domingo, 29 de março de 2009

Capim para cabrito

Paulatinamente, assiste-se a modernização e a embelezamento de algumas instituições como agências bancárias, centros comerciais, lojas e boutiques tudo com o intuito de atrair maior clientela. Por exemplo, alguns estabelecimentos oferecem serviços de baby sitting ou parques de lazer para que as compras sejam feitas com tranqüilidade enquanto as crianças se divertem.

Instituições públicas, como os aeroportos, Águas de Moçambique e Eletricidade de Moçambique, não fogem a essa regra, apesar da obrigatoriedade de ter que se fazer presente nos dois últimos. Diz um velho ditado “cabrito come onde está amarrado” e cá entre nós essa máxima espelha uma triste realidade: o cabrito realmente come onde é amarrado.

A agência-mãe da EDM em Maputo, modernizou-se recentemente e, acredito, que já houve mais do que tempo para nos habituarmos às “modernices” que nos são apresentadas por esta empresa nacional como é o caso da máquina de distribuição de senhas que visa evitar, entre outros, os antigos conflitos nas “bichas”, ou melhor filas.

A manipulação da distribuição de senhas é simples se se tiver um mínimo de escolaridade ou indicação prévia. Por exemplo, a tecla A é para as senhas da caixa de pagamento, a B para os contratos, a C para atender os clientes do Credelec, D e E para clientes de baixa e alta tensão respectivamente pelo que um simples aperto no botão da opção escolhida habilita-o a estar na fila do serviço que pretende.

No entanto, este simples “click” revela-se um exercício complicado por duas razões: não é o utente quem o executa (são, como em algumas Atm’s os seguranças) e quando o faz acaba ficando num número muito aquém do que se espera, pois alguns “cabritos madrugadores” (seguranças incluídos) açambarcam as senhas que depois são revendidas ao preço de 10Mt nos períodos de cobrança normal e 15 ou 20Mt quando o período de cobranças está próximo do período final.

Resumindo: retirando a sua senha pela própria mão, você incorre ao risco de ficar num número da casa das centenas (131) e ser surpreendido por estarem a chamar (e não a aparecer no painel, como deveria ser) os números das dezenas (78). Como se não bastasse, a lógica, de ser o 79 a ser chamado a seguir, não é seguido e, de repente, um número das unidades (3), o tal da cabritagem, é chamado.