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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Estórias em Maputo (31)

Mulheres de coragem hérculea há que, por receio de explusão dos pais, por recusa de paternidade ou conselho dos parceiros, por adultério ou por mero capricho, não hesitam em perfurar seus próprios úteros com agulha de tricot, engolir substâncias tóxicas, tomar cocktails de medicamentos ou aplicar, nos orgãos genitais, mistelas de raízes, folhas e outras substâncias estranhas com a firme intenção de provocar um aborto.

Número considerável, sobretudo de jovens-adolescentes, dirigi-se às unidades hospitalares que, com o firme propósito de evitar óbitos e outras sequelas de práticas incorrectas, consente esta prática mediante motivação convenientemente justificada. No entanto, há moçoilas que, como modus vivendi, vão "binando" senão mesmo "trinando", pelo que, com tal dossier, não mais podem recorrer às unidades sanitárias.

Aconselhadas por pessoas de má fé, habilitadas em domínios básicos de saúde, e que fazem disso uma fonte de rendimento, dirigem-se as farmácias e adquirem, à porta de cavalo, medicamentos que provocam contrações que levam ao aborto. Alguns desses indivíduos, sequer se dignam em requerer exames prévios para diagnosticar alguma maleita que se possa agravar com a provocação do aborto : vale tudo.

Se antes localizavam-se em zonas recôndidas, depois, com o advento das "maclinicas", na periferia da cidade, actualmente, com o gritante aumento de procura, desse tipo de serviços, as "clínicas" estabelecem-se, sob olhar impávido e sereno de seus moradores, em prédios residenciais da Grande Town. Evidentemente, esse tipo de "clinica" serve a um elitizado grupo de patricinhas que, afinal, também "brinca de mamã e papá".

domingo, 10 de janeiro de 2010

Estórias em Maputo (14)

É raro ver-se, em anúncio publicitário, a disponibilização de vagas para empregadas doméstica e é de boca em boca que a informação circula. É natural solicitar-se a uma empregada, jardineiro ou a um guarda, de créditos já firmados, a procura de alguém para o posto de empregada doméstica.

Tal como o é no processo de admissão de uma secretária, gerente ou outro profissional, para os empregados o critério favorecedor é a experiência laboral. Para responder a esse critério, ultimamente solicita-se a apresentação de uma carta de referências ou então se põe imediatamente à prova a candidata (na execução de um prato, na lavagem de uma peça de roupa, no arranjo de uma mesa, etc.) tudo depende da exigência do patrão.

Infelizmente, nem toda gente passa no teste das competências ou dispõe de alguém para passar um certificado de competências. Como que a responder a responder a essa lacuna, agências de formação das fadas-do-lar surgem timidamente no mercado da capital. Nesses locais, formam-se bábás, empregadas domésticas, mainatos, cozinheiros, etc.

Breve, ao preço que habitualmente se solicita em cursos oferecidos, aos chutos e pontapés, por tudo quanto é centro de formação, os candidatos aprendem o que é suposto uma empregada saber fazer no futuro local de emprego. Algumas madames com posses, para melhorarem os serviços domésticos em suas casas, oferecem esses cursos aos seus serviçais. Algumas recuperam o investimento em descontos no salário…

Para o caso dos débutantes, no pacote de formação da agência, figura a possibilidade de se encontrar para este o primeiro emprego. O preço desse emprego, como acontece quando é uma outra empregada a dar a dica de emprego, ao invés de uma percentagem, é a totalidade dos dois primeiros salários em favor da agência ou centro de formação.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Espectro social

A questão é polémica o quanto baste. As estatísticas são escassas, breve desconhecidas, talvez mesmo inexistentes. A voz da moral, dos bons costumes, do politicamente correcto, do ético, da religião e todos outros princípios que cada um respeita, toma forma. Mas, ainda que tapado, como a peneira faz ao sol, o espectro do aborto(?) está aí: mortal, silencioso e real.

Os pais a "podem matar" se o souberem pois o jovem responsável não está em condições de assumir uma familia, menos ainda pelo golpe da barriga. Se se trata do tio kota, que tem familia e filhos já crescidos, outro filho pode destabilizar a harmonia (?) familiar. Também pode ser que a menina (?) não saiba de quem é o filho, o que se há-de fazer? A menina está grávida!

Há dois roteiros possíveis: o primeiro é procurar aquela enfermeira famosa, lá do bairro, que dá comprimidos, conhecida (?) pela sua discrição (?) e serviço eficiente. Ainda nesse cenário, há também aquele enfermeiro da maclinica (?) que dá injecção e já está! Caso contrário, apela-se aquela vovó que dá pós e pauzinhos que provocam muitas cólicas mas a "barriga" saí. E, em caso de desespero, com coragem e audácia fura-se o útero com uma agulha de tricot.

Noutro cenário, o do hospital, preenche-se um requerimento, o moço ou tio faz uma declaração assumindo que toma conhecimento/responsabilidade e que o aborto pode ter lugar. Paga-se o que se tem a pagar, fazem-se as análises devidas para checar se está tudo bem (?) e vem a certeira (des?)autorização do hospital.

No dia marcado, como quem vai à escola, geralmente acompanhada e encorajada por amigas, que certamente conhecem e passaram pelo sistema, tem lugar o aborto. Dia seguinte, consoante a capacidade de suporte de dor, que leva algumas a confessarem-se a seus progenitores, a menina vai ao hospital fazer a raspagem. Pronto está feito!

Após a consumação do acto, pouco ou nada é feito, excepto alguns apelos para que as meninas façam o planeamento familiar (?) e se acautelem com a possibilidade de se infectar com o HIV. Lamentavelmente, poucas acatam com os conselhos das enfermeiras e pouco depois retomam aos corredores do hospital ou de outros circuitos ilegais (?) para, com a frieza da experiência, resolverem de novo este mesmo assunto.

Relatos de mortes, que tem como causa um aborto mal feito ou outras complicações a ele relacionados, não são frequentemente comentados pois constituem vergonha para a familia e também não é menos verdade que muita moça se torna estéril como consequência disso. A sociedade, por seu turno, grita e estrebucha que o aborto é matar uma pessoa, mas no recanto da familia dessa mesma sociedade ele é cruamente real.

Tal como uma moeda, as duas faces da abordagem do aborto são polémicas, difícies de engolir/vomitar e aceitar/recusar. Mas, SIM ou NÃO ao aborto?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Produção independente

Actualmente, muitas mulheres têm conseguido vingar na carreira profissional, sendo por isso bem sucedidas, e não estão apenas preocupadas com a sua aparência, mas preocupam-se sobretudo com o seu bem-estar material e psicológico. As mulheres descobriram que podem ter uma vida de qualidade se apostarem na sua própria escolarização, nos negócios pessoais, enfim, batalhando constantemente pelo que querem sem que para isso tenham de depender de um homem.

Construir uma carreira e conquistar a independência financeira, leva o seu tempo, sobretudo na selva de dificuldades que é a vida das mulheres moçambicanas. No entanto, por melhores e maiores que sejam as condições criadas, por si próprias, chega a hora em que o relógio biológico toca, a necessidade se transforma em urgência e tardiamente se percebam que não tem com quem dividir esse sonho.

Ter um filho, para a mulher, é o apogeu da sua realização pessoal. E para o terem, muitas não olham meios para atingir objectivos. Sendo que se torna difícil encontrar homens disponíveis na praça, em particular para com ele procriar, atitudes radicais são tomadas como o desejo de fazer uma produção independente.

A ausência de um marido ou parceiro deixou de ser impedimento para as mulheres que desejam ter filhos. Muitas optam por se envolver com homens casados apenas com o intuito de com este gerar um filho. Para estas mulheres, basta apenas “a semente e o certificado de origem” pois se o “produtor” recusa reconhecer a descendência pouco importa.

Há outras que não se importam, por exemplo, de envolver-se com um estrangeiro, com ou sem dividendos, com o firme propósito de engravidar e realizar as suas fantasias de mulher-mãe. Algumas engravidam de jovens universitários ou não, que são usados, como se de touros premiados se tratassem, para as cobrirem em troca de valores monetários. O mais importante é ter o seu filho!

Estas atitudes revelam algum egoísmo por parte destas mulheres pois o ideal é a criança nascer e crescer com mãe e pai ao lado. Viver em família, é salutar para a saúde psicológica da criança e acima de tudo há que pensar que apesar de tudo terem conquistado na vida, o filho não é o troféu que lhes falta na prateleira do sucesso.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Gravidez: desejos, aversões e... lucro fácil

O estado de graça, vulgo gravidez, é um momento impar na vida da mulher e do homem com quem ela gerou esse filho, bom, se a gestação for consensual. Uma mulher grávida, requer especial atenção na sua saúde pelo que tudo é feito assegurar uma vinda segura ao bebé. Geralmente uma consulta de controle pré-natal é suficiente, se a futura mamã não requer outros cuidados.

Em casa, muitas vezes do lado da sograria, cuidados tradicionais e característicos da família tem que ser salvaguardados: chás de ervas e raízes, cortes no ventre, etc., cada um age conforme a sua tradição.

No que se refere a alimentação na gravidez, sobretudo no meio rural ou onde os alimentos escasseiam, por diversas razões, defende-se a tese de que se deve dar primazia a mulher no momento da distribuição das porções das refeições pois ela é guardiã de um tesouro da família.

Durante a gravidez, ocorrem várias transformações na mulher (alterações no humor, nos hábitos, enfim, cada mulher com a sua história) e a mais notável e comum em todas é, sem dúvida, o crescer do ventre.

Algumas mulheres, as sortudas, não passam por nenhum inconveniente, excepto o desconforto que o ventre enorme provoca cabendo. Por vezes, o seu parceiro passa pelas mazelas da gravidez (enjoos, desejos estranhos, problemas na pele, mau humor, etc.)e, diga-se, em abono da verdade, que homens com sintomas de mulher grávida são uma alegria para as mulheres.

Outra manifestação típica deste período é a presença dos desejos e das aversões. Quanto as aversões, a sua gestão é muito fácil: se não gosta de certa fragrância de perfume, apenas não se borrifa; se não gosta de determinado alimento, não o come. Quanto aos desejos, ai a porca torce o rabo.

Todos desejos da futura mamã são e/ou devem, segundo as tradições, ser respondidos sob o risco de o bebé nascer com cara de laranja (porque esse desejo não foi satisfeito), ou nariz de banana (outro desejo não satisfeito). Se o pedido for feito a noite e recusado, a criança nascera muito escura (?), por ai em diante. Portanto, desejo enunciado, desejo concedido!

Como grande parte dos desejos da futura mamã são geralmente alimentares, algumas delas, sobretudo as citadinas com algumas posses, estão em maior vantagem pois dispõem de um leque variado, mesmo fora de época, posto que os supermercados e casas de especialidade oferecem esses produtos e os microondas fazem o resto. Infelizmente nem todas as vontades podem ser satisfeitas e de alguma maneira têm que o ser.

Durante a gravidez, o paladar pode alterar-se e a mulher pode deixar de apreciar alimentos que gostava bastante antes de ficar grávida. Do mesmo modo, durante a gravidez, certas mulheres sentem desejos súbitos por elementos estranhos não alimentares e arriscados para a sua saúde e a do bebé como o gelo, carvão vegetal, areia, pasta de dentes, sabão, giz, cinza ou tinta!

Cá entre nós, o momento do preparo da refeição familiar é uma ocasião para devorar carvão e cinza e, geralmente, fazem-no em segredo (também seria incrível que alguém pactuasse com tamanha barbárie para com a saúde dos dois: mãe e filho), como o fazem para consumir pasta de dentes, sabão e giz!

Quanto ao negócio da areia, em crescendo por cá, merece e passa por um tratamento especial: primeiro tem que ter “certificado” de origem, apesar de não estar isento de falsificações como tudo o resto, das margens do Incomáti e depois deve ser cozida. Sim, cozida, afinal é uma iguaria, e depois é pilada e temperada!

O procedimento é simples: numa chapa torra-se a areia, para tirar as impurezas, segundo alegam vendedoras e consumidoras. Depois pila-se e deita-se caldo em pó (anteriormente servia apenas o sal) e está pronto a consumir sendo acondicionado em pedaços de papel como se faz com o amendoim torrado vendido na rua.

Os preços, por cartuchinho, variam entre 5, 10 e 15Mt, conforme a tampa que se usa para medir as porções (por vezes de desodorizantes, quem sabe até se não de insecticidas?). O negócio é chorudo e o lucro imediato tanto mais que alimenta o vulgo xitique das vendedeiras.