segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Estórias em Maputo (31)

Mulheres de coragem hérculea há que, por receio de explusão dos pais, por recusa de paternidade ou conselho dos parceiros, por adultério ou por mero capricho, não hesitam em perfurar seus próprios úteros com agulha de tricot, engolir substâncias tóxicas, tomar cocktails de medicamentos ou aplicar, nos orgãos genitais, mistelas de raízes, folhas e outras substâncias estranhas com a firme intenção de provocar um aborto.

Número considerável, sobretudo de jovens-adolescentes, dirigi-se às unidades hospitalares que, com o firme propósito de evitar óbitos e outras sequelas de práticas incorrectas, consente esta prática mediante motivação convenientemente justificada. No entanto, há moçoilas que, como modus vivendi, vão "binando" senão mesmo "trinando", pelo que, com tal dossier, não mais podem recorrer às unidades sanitárias.

Aconselhadas por pessoas de má fé, habilitadas em domínios básicos de saúde, e que fazem disso uma fonte de rendimento, dirigem-se as farmácias e adquirem, à porta de cavalo, medicamentos que provocam contrações que levam ao aborto. Alguns desses indivíduos, sequer se dignam em requerer exames prévios para diagnosticar alguma maleita que se possa agravar com a provocação do aborto : vale tudo.

Se antes localizavam-se em zonas recôndidas, depois, com o advento das "maclinicas", na periferia da cidade, actualmente, com o gritante aumento de procura, desse tipo de serviços, as "clínicas" estabelecem-se, sob olhar impávido e sereno de seus moradores, em prédios residenciais da Grande Town. Evidentemente, esse tipo de "clinica" serve a um elitizado grupo de patricinhas que, afinal, também "brinca de mamã e papá".

4 comentários:

Jácome D`Alva disse...

Ximbi, minha querida amiga, não sabias que as patricinhas brincam? Brincam e muito. Mas brincam mal as pobrezinhas. Não as ensinaram na escola e como papá e mamã só brincam fora de casa, aí elas tambem não aprendem nada. A unica alternativa foi aprenderem por conta e risco. Autodidatas pois claro. Claro que arriscam mas que importa se papá e mamã pagam a conta e a devolução da dignidade familiar e das aparências. E não é só na Grande Town. Muitas passam a fronteira aqui ao lado. É caro mas seguro e a nacionais de cá não pedem autorização familiar.
As de poucas ou nenhumas posses, essas recorrem á velha agulha, ás ervas milagrosas ou mesmo aos "matadouros" nas flats.
Se o Estado fizesse contas aos custos que suporta nos Serviços Públicos de Saúde a salvar vidas pós-aborto mal sucedido, por certo a Lei seria alterada e as "magarefes" responsáveis colocadas na prisão.

Sabes, ser pobre é muito complicado, agora ser pobre e mulher deve ser maningue mais...

Ximbitane disse...

Oh, claro que eu sei que as patricinhas brincam essas coisas. So que os papas/mamas delas acham que não... So quando o obvio se apresenta se dao conta que as menininhas sao mulherzinhas.

Confesso que essa de atravessar a fronteira nao conhecia, mas sei que muitas que "furam" nas flats da Grande Town, simulando ter ido a faculdade e voltado com colicas

Anónimo disse...

Sou e sempre fui pela VIDA, por isso, sou contra o aborto, contra a pena de morte, contra o suicídio, etc.
Como democrata nata que sou, acho que cada um é dono da sua própria vida e faz dela o que bem entender e achar ser o melhor para si.
Penso que na maioria das vezes as jovens recorrem ao aborto por uma questão de desespero, por não terem apoio dos Pais ou familiares e de instituições governamentais de apoio à Mãe solteira, onde a jovem recebesse toda a solidariedade necessária, o apoio financeiro, um tecto onde viver e pudesse continuar os seus estudos sabendo que terá um futuro para si e para o seu rebento.
Mas o melhor seria apostar-se em campanhas de educação sexual e de planeamento familiar gratuito.
Maria Helena

Ximbitane disse...

Maria Helena, concordo plenamente com a maxima "cada um é dono da sua própria vida e faz dela o que bem entender e achar ser o melhor para si", contudo, assusta-me a forma como muitas flats se transformam em "abortodoros".

Por outro lado, esse facto é prova valida de que os programas de prevençao as doenças de transmissao sexual e gravidez precoce so valem é para enriquecer bolsos dos que os lideram