sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Estórias em Maputo (38)

O pequeno-almoço é uma refeição que contribui grandemente na definição do que vai ser o dia de quem o toma ou não. Matabicho, como é por cá chamado, é o momento de matar o afaimado bicho que faz roncar estômagos vazios por via do chá com pão, mandioca, batata-doce ou xiquento (sobras do jantar).

Contudo, com o agudizar da crise esta refeição parece estar a perder o seu estatuto ou tradição. De refeição primeira, cada vez mais tarda em chegar à mesa do citadino. Em muitas casas, é sinónimo de almoço. Para outros tantos, que a essa hora encontram-se longe de casa mata-se o bicho com um pratão de sopa e metade de um pão, de preferência, subvencionado.

Assim, exércitos de citadinos de vários extractos sociais, chapeiros e cobradores, funcionários vários, estudantes e professores, babalazados e outros, desde as primeiras horas da manhã fazem-se as barracas para ao preço dentre 20 à 35 meticais consumirem uma sopa que se torna a cada dia que passa não o alimento da preferência matinal do Zé Povinho mas o que é possível consumir.

Inicialmente adoptada como a fórmula para "a ressureição dos mortos", entenda-se ressacados, hoje a sopa da rua tem outra dimensão : é o que, a preço baixo, melhor engana o estômago. Como o universo de consumidores de sopa aumenta substancialmente, as "sopeiras", de olho no lucro, quão ladrão que vê oportunidade criada, no lugar da batata usam farinha de milho, maputizando o prato.

Também, como a clientela é tendencialmente carnívora, as sopas são intencionalmente enriquecidas com todo tipo de desperdicio animal e ainda, num perpétuo continuum, as sopas do dia anterior enriquecem novas sopas. Isto tudo, pondo de lado a questão da higiene. De toda forma e pelo número crescente de consumidores, a sopa é uma coisa boa!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fazer mais como?

Os hábitos de leitura actuais circunscrevem-se, muitas vezes, em leituras pontuais de artigos e obras com a intenção de produzir algum trabalho denominado de pesquisa. Isso é geralmente notório no seio dos estudantes universitários e, ainda que em número infimo, de alguns estudantes do secundário que são « forçados » a procurar, em outras fontes, que não os livros escolares, matéria para a consolidação de sua aprendizagem.

O exercicio de leitura dum jornal, à excepção do que se pode ter acesso a custo zero, e que ultimamente é mais visto em motocicletas indianas do que sob os olhos de quem não os pode comprar, já não é tão banal. Se a ele não se tem acesso, por exemplo, no local de trabalho, olhos postos em jornal resume-se ao que se pode ver em manchetes disponíveis nas bancas dos ardinas.

Visitar uma livraria e de lá sair com um ou mais livros, mesmo em tempo de feira, é um gesto luxuoso para muita gente que, inevitavelmente, faz a comparação entre o preço deste com o de um saco de arroz. Ademais, se até agora muitos ainda não compraram os livros escolares de que outra postura se pode esperar relativamente a outras literaturas menos obrigatórias?

Poder-se-à pensar na opção de compra de livros em segunda mão, geralmente vendidos na rua. Esses também tem a sua estória, sobretudo no que tange a proveniência. Fruto de revenda por parte de seus legitimos proprietários, de roubo em bibliotecas ou em livrarias, esses livros não são de todo bon marché : são eles também comprados por quem pode.

Recorrer à biblioteca requer o cartão de acesso, outro custo a evitar a todo o custo, sob risco de, no local, constatar-se que as obras requeridas se ainda existem estão incompletas. Outra inquietação é que as bibliotecas estão distantes da residência/escola, o que diminui qualquer vontade hérculea de leitura face a perspectiva de que depois do lazer haverá o desprazer da luta por um espaço no chapa…