É por todos sabido que o transporte urbano, e não só, é o calcanhar de Aquiles de muitas famílias. Mas sendo honestos, grande parte da culpa desta situação, sobretudo para com crianças no ensino primário do primeiro e segundo ciclo/grau, é dos próprios pais que preferem enviar seus filhos para escolhas longínquas em detrimento das que existem nas próprias zonas de residência. O exemplo claro disso, está descrito acima.
Na perspectiva de querer minimizar essa preocupação, muitas famílias optaram por entrar na onda do chapa escolar. Chapa escolar sim, porque muitas vezes trata-se de um mini bus licenciado para o transporte semi-colectivo de passageiros e que por conseguinte é desviado de sua rota para o beneficio das crianças e adolescentes estudantes longe de casa e do próprio transportador.
A verdade manda dizer que algumas escolas privadas dispõem de uma rede de transporte para os seus alunos. No entanto, nas escolas públicas, que acolhem grande universo da população escolar, isso nem em sonhos ocorre.
Os pais, cientes de suas responsabilidades de levarem os filhos à escola, entregam-nos a pessoas, algumas vezes sem escrúpulos e que não olham meios para atingir os fins: o mais importante é ganhar dinheiro fácil descurando da segurança das crianças.
Poucos são os transportadores que celebram contratos por escrito, basta apenas a palavra e o que se assiste é que crianças que saem da sala de aula e vão directo a casa-de-banho, por exemplo, são literalmente “esquecidas” pelos transportadores. As vezes a carrinha não aparece ou aparece atrasada com as consequências que disso advém.
Reconheça-se aqui também a culpa dos pais que não exigem a celebração de contratos e logo não podem questionar as atitudes e/ou não cumprimento do acordado com os transportadores! Alias, o facto de não terem celebrado contratos escritos levou a que muitos chapas não se apresentassem à porta das crianças nos primeiros dias de aula e a consequência é o que se viu: salas vazias!
O mais grave, são as deploráveis condições nas quais as crianças são transportadas: sem acompanhamento de uma figura com autoridade dentro do próprio carro (o cobrador, esse, está com o braço na janela no papo com o motorista) e estão empilhadas umas por cima das outras. Felizmente a variada oferta de rotas satisfaz a procura e os preços, esses oscilam entre os 700 a 1000 Mts/mês consoante a zona e/ou o estado do carro: luxo ou reles. Se formos a fazer as contas do mês, os chapas escolares só saem a ganhar pois trabalham menos tempo e tudo é quase lucro.
Se levarmos em conta que cada carro de 15 lugares leva 20 crianças e que existem 3 turnos no fim do mês o transportador tem entre 42.000 e 60.000 Mt. Se, por ventura, incluirmos o curso nocturno o que significará 18 pessoas, a cifra aumentará mais um pouco sabido que a tarifa varia entre 1000 e 1200 Mts/mês, resultará numa renda entre 18.000 e 21.600. Portanto, em cálculos aproximados, estaríamos a falar de qualquer coisa como 42.000 a 75.000Mts, combustível contabilizado, isto só e apenas para os carros de 15 lugares!