segunda-feira, 28 de junho de 2010

Estórias em Maputo (24)

É por todos sabido que, face ao elevado custo de vida, para lucrar algum valem a pena todas as ocasiões. E se for com o menor esforço, é aplaudidamente melhor. Mercearias, supermercados ou outra loja, com superficie relativamente grande, que etiquetam seus produtos com preços, são potenciais vitímas dessa onda do « tenta ! Se der, deu ! ». O « tenta ! Se der, deu ! » consiste na ida a uma loja e, pacientemente, pôr-se a descolar etiquetas, com preços baixos e colocá-los em produtos de preços altos.

Parece complicado, mas é um jogo de paciência e que tem seus lucros. Por exemplo, se o potencial tentador quiser comprar uma lata de atum de 85Mt e não tiver o valor, descola a etiqueta de uma outra lata de atum, de qualidade baixa e, consequentemente de preço baixo, e cola-o na primeira lata. Ao assim proceder, o tentador, que nada tem de ignorante, tem mais chances de escapar pois na caixa acusa sempre a compra de atum.

E evidente que em muitos casos, colar e descolar por si só não basta pois em muitos estabelecimentos comerciais os proprietários ou gerentes estão de olho. Mas, moçambicano e tentador que se preze, anda sempre em esquemas. Nele estão os controladores de fila (que muitas vezes são responsáveis pela colocação de preços), o caixa, o porteiro ou guarda… Maputo !

terça-feira, 22 de junho de 2010

Envagelho segundo quem pode

Muito recentemente assistimos, com um misto de espanto e apreensão, ao desenrolar de uma sui generis saga publicitária, que envolvia as redes de telefonia móvel moçambicana nos mass media, em outdoors e outros meios afins que serviam para a divulgação das mesmas.

Quer parecer que, a contenda, teve seu inicio, como sói dizer, com a troca dos criadores das geniosas ideias publicitárias entre as teams azul e amarelo. A verdade é que braço de ferro foi tamanho que, felizmente para todos nós, parece que os contendores entraram em acordo e as coisas voltaram a aparente normalidade.

Entretanto, outros contendores, que usam o nome do Senhor em seus actos, iniciaram um novo campeonato propagandístico que não olha meios para atingir fins. Pois, por possuirem meios de divulgação do seu latim, o que é muita vantagem, constatando a elevação dos debutantes, outrora acérrimos fiéis, adoptaram-se novas estratégias.

Essa estratégia consiste em abocanhar tudo quanto é canal de televisivo e apregoar a mesma palavra. Evidentemente, a antiguidade, a tarimba nessas lides e a riqueza, que permitem mudar qualquer claúsula contractual, são uma mais valia para os tubarões das orações com milagrosos testemunhos. Quanto aos peixinhos de aquário, coitadinhos !

terça-feira, 15 de junho de 2010

Mediatização d'espiritos e etc.

Num misto de sentimentos, assistiu-se, na capital Maputo, a um pipocar de fenómenos estranhos nos espaços escolares públicos. Esses fenómenos caracterizaram-se por manifestações também estranhas (inconsciência, transe e literal perca de sentidos) em adolescentes do sexo feminino. Os casos mais notórios, com quase 8 dezenas de vitimas, ocorreram na escola Quisse Mavota, localizada no Bairro do Zimpeto.

Muitas vozes, sobretudo a de populares e de crentes em rituais animistas, associaram o acto sui generis a espiritos de mortos, enterrados e exumados nesse espaço, e/ou a contestada atribuição do nome a referida escola. Contudo, em outras escolas reportaram-se os mesmos fenómenos e as suas causas, aparentemente, ficaram sem associação as motivações do primeiro caso.

A onda de "desmaios", como foi popularmente denominada, tornou-se manchete de alguns órgãos da comunicação social, sendo os do meio audiovisual os que mais destaque deram ao facto. Nesse entretanto, ficou patente que, na guerra de audiências, muito poucos acautelaram a questão da integridade física das adolescentes acometidas por esses fenómenos, por outras correntes designado histeria colectiva.

Aliás, essa postura tem ocorrido com relativa frequência, em outros casos, em alguns dos quais testemunhos à descoberto podem levar a actos de represália. Na ânsia de «bater» nas audiências, o rosto escondido por técnicas especiais (sombreado), de repente se vê descoberto. A voz, em princípio distorcida, facilmente é reconhecida porque ficam à mostra o timbre da empresa, os acessórios do entrevistado/denunciante, etc. Quem se importa ?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Preso por ter cão ou por não ter?

Recentemente, um jovem, que pelas vestes se fazia passar por mulher foi preso acusado de tentativa de rapto de uma criança em Marracuene. Segundo o travesti, homossexual confesso, o que tera sucedido é que este se servira da criança para indicar o paradeiro de um tio que roubara, na noite anterior, da qual haviam passado juntos, determinado valor monetario.

O tio da criança, claramente "macho que se preze", e que, por conseguinte, não podia manchar a sua macheza, prontamente refutou a acusação segundo a qual teria surripiado os valores da pseudo-mulher tendo sublinhado que nem sequer conhecia o acusador.

Supostamente apanhado com a boca na botija, numa altura em que o assunto que rola de boca em boca é o roubo de crianças, devido ao evento que decorre na terra do rand, o individuo em causa prontamente foi levado às celas. Contudo, ao invés de se teimar em esclarecer as intenções do rapaz-menina, todas correntes, incluindo a da policia, focalizavam-se nas tendencias sexuais do primeiro.

Sem perca de tempo, algumas pessoas não se coibiram em associar o acto (tentativa de roubo) com "um mal" (doença) que apoquenta o individuo. E houve mesmo quem apelasse a pena de morte, não para ladrões de crianças, mas para homossexuais. Mas afinal qual é o problema? A tentativa de roubo ou a homossexualidade do individuo? Ser homossexual é crime ou agrava o crime?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Estorias em Maputo (23)

Ah, voltando a estória das empregadas, as senhoras realmente não têm preguiça. Para além de serem bifeiras, das makas dos patrões, são engenhosas. Por exemplo, muitas empregadas têm bata ou outras vestes para usarem na hora do trabalho. Certo ! Pela manhã, quando elas chegam, trazem suas próprias vestes que, em principio, devem vestir na hora de despegar. Certo !

Ora, muitas vezes, as vestes que são trazidas vestidas, na hora de entrada, são injustamente lavadas e engomadas no local do trabalho. Algumas nem sequer se inibem em trazer um fardo de roupa para lavar e engomar as expensas dos patrões, sobretudo se esses, engolidos pela dinâmica da vida, e nem se dão ao luxo de verificar como andam as coisas lá em casa.


Algumas empregadas quando, por exemplo, têm algum evento festivo no fim-de-semana (casamentos, baptismos, lobolos, etc.), não têm as mesmas inquietações que seus patrões quanto as griffes para igual evento. Nem com os acessórios, muito menos com a maquilhagem. Só se preocupam com o penteado, só e mais nada !

Sem stress, e sobretudo se os contornos corporais forem aproximados, entre patrões e empregados, estes não se coibem em seleccionar vestes dos primeiros e fazerem-se a festa, para a admiração dos convidados concientes de suas posses, chiques de doer. Como não lhes dói mesmo nada, ao lote de vestes, incluem-se as clutchs da patroa chata, os sapatos e outros acessórios, escapando apenas a gravata da confi* do patrão!

*confiança, de estimação