sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Alerta vermelho

Qualidade e segurança são preceitos que contam bastante na escolha da escola na qual as crianças, adolescentes e jovens se (vão) forma(r)m. Na concorrência com escolas públicas, frequentemente as escolas privadas são eleitas por apresentarem, a par de outros aspectos não negligenciáveis, perfis com altos padrões de contrôle na segurança e na qualidade de ensino.

Verdade é que essas escolas transmitem tanta segurança que muitos pais se limitam, em grande parte dos casos, em manter em dia as mensalidades com alguns laivos de participação em reuniões para as quais são convocados, quando não enviam o filho, empregada ou guarda para os substituirem.

Naturalmente, o facto de estudarem em tais escola, em alguns casos, faz parecer que esses meninos são filhos de pessoas com muitas posses, o que não pode de toda a forma ser generalizado. Contudo, o meio de transporte, os casacos, o calçado e as pastas de marca, os leitores de música e telemóveis top gama, deitam por terra qualquer argumento nesse sentido.

Como há gente que não está cega a "esses argumentos", os meninos bonitinhos passam a meninos-vitimas pois outros meninos, mais vividos e "empreendedores", aproveitam-se desses sinais para os aliciarem, com sua amizade e compreensão dos problemas que caracterizam essa faixa etária, para caminhos obscuros onde impera sobretudo a poeira e o fumo.

A principio em pequenas doses, "só para experimentar" e pouco depois, quando já começa a animar, no "se quiseres mais traz lá tako, tuas sapas, algo da tua casa ou cenas do teu kota, pra gente biznar e dividir", os argumentos que reflectem o modus vivendi dos meninos bonitos transforma-os em isco do que todos sabem que existe por aí e esperam que não exista entre os muros escolares.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Estórias em Maputo (34)

As metamorfoses que correm na Grande Town, mesmo as de natural ou provocada degradação, parecem ocorrer com intuitos claramente definidos. Talvez pela dinâmica da economia do mercado, quando menos se espera, um espaço dedicado a determinada função sem aviso prévio muda de actividade, com todos os prejuízos que isso acarreta.

O mais agravante, dessas inesperadas mudanças, é que muitas vezes, já que quase todo tipo de compras, do mercado formal, se faz a base de depósitos, esses valores são perdidos dado que frequentemente os clientes não são previamente avisados e o negócio não é reposto noutro local (se o é, raramente há indicações de onde o procurar).

Algumas dessas metamorfoses, pertinentes reconheça-se, passam despercebidas. Contudo, há mudanças de magnitude tal que deixam em estado de choque os habitués dum espaço que, quando entram porta adentro, encontram outro cenário e outro leque de serviços completamente diferentes do procurado.

Por exemplo, as raízes duma das mais médiaticas flores de Maputo foram arrancadas a favor de mais um mealheiro, bem nas barbas de outros tantos. Onde foi replantada ? Para bom entendedor, meia palavra basta. Afinal, em Maputo, as coisas são assim mesmo, mudam "daqui pra qui"!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Estórias em Maputo (33)

Apos a abastança, resultado dos roubos de semana passada, consta que muitos maputenses, ladrões e consumidores dos produtos roubados, vêem-se a pega com os produtos fanados, particularmente nos contentores, cujos proprietarios são fatalmente estrangeiros africanos e que florescem a olhos vistos na periferia de Maputo.

Segundo vozes, que tudo dizem, no percurso dos chapas e nas conversas do momento, que são de rescaldo de todos os ângulos dos acontecimentos estão a acontecer coisas muito estranhas. Diz-se mesmo que muita gente esta a devolver a procedência tais produtos pois o seu consumo esta rodeado de factos sobrenaturais.

Por exemplo, se alguém pretende consumir um refrigerante, por mais que o beba, este nunca acaba. O arroz, grande vitima dos "manifestantes" ora não coze e, se coze, enche a panela até transbordar. Ha quem diga que ao abrir os sacos aparecem cobras... Vai-se la entender? De facto o crime não compensa!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Estórias em Maputo (32): Manifs et al.

É de conhecimento geral o momento de tensão que a Grande Town e seus arredores vivem nas últimas horas. Caracterizada por cenas de puro vandalismo da coisa pública e privada, barricadas nas vias públicas de maior circulação, destruição de bens alheios, corre-corre em fuga às balas de borracha disparadas por AK47, que resultaram em inúmeros feridos e mortos, Maputo literalmente parou.

No comércio formal as portas mantiveram-se fechadas e a ausência das bancas, do comércio informal, incaracterizaram ainda mais o fuzué habitual que é Maputo. Como consequência, há falta do básico pão, um dos motes da pseudo greve, e, naturalmente, de todos outros produtos de primeira necessidade.

As imagens trazidas pelos media e retratadas nas redes sociais e blogs, mostram o quão caótica é a situação em todas as dimensões. Muitos, como que a aproveitar o momento, para rechear a sua despensa até a crise passar, são vistos na posse de sacos de arroz, caixas de frango ou carapau, e outros bens de consumo. Engane-se quem assim pensa !

Há "manifestantes" que não perdem oportunidade e alargam os cordões da bolsa. Aproveitando-se da confusão, pilham bebidas e de produtos alimentares dos contentores-loja, que florescem nesses locais e revendem-nos a metade do preço ou muito menos, seguramente, ao preço no qual gostariam de ser eles mesmo a comprar. Afinal não é essa a razão da confusão ?