quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Festas Felizes

Amigos e visitantes,

Com um misto de tristeza e alegria mais um ano chega ao fim, o de 2010. O balanço pessoal não é de todo positivo : muito ficou por fazer pelo que, o que tanto se fez, sabe a muito pouco. Contudo, melhores dias virão e todos os projectos terão o almejado fim, repletos de sucesso e alegria.

Neste momento, de balanço em todas as dimensões, após um tour pelos blogs, constato que a blogosfera moçambicana, após o boom das eleições, entrou, na qual não estou isenta, em profunda depressão como que a acompanhar a badalada crise económica. Que pena !

Virando a página, uma vez mais, como em ocasião semelhante, desejo a todos visitantes e fiéis seguidores, das Estórias em Maputo e outras postagens, Festas Felizes, em harmonia e paz, e que o ano de 2011 seja melhor do que os anos já passados.

Com carinho,

Ximbitane

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Estórias em Maputo (37)

A chuva que tem caído miudinha ou estrondosamente em Maputo revela as inúmeras fragilidades dos sistemas de drenagem de águas pluviais e não só. Dentro da town, o seu centro, a Baixa, do nada transforma-se num rio com ondas vinteecincosetembral. A fonte desse rio, segundo quem de direito, que muito recentemente investiram em drenos, é de que os plásticos do comércio informal entopem-nos !

Mais para cima, a meio da cidade, a água escorre solta, arrastando detritos vários no seu percurso em direcção às zonas mais baixas. Visto que, grande parte dos esgotos estão obsoletos, e na hora do dilúvio as coisas agravam-se, as suas águas negras misturam-se com as cristalinas encobrindo os habituais buracos, na via e no pavimento, que se alargam e os novos, que surgem sem nenhuma surpresa para os citadinos.

Nessa corrida desenfreada, para lado nenhum, as águas da chuva não encontram espaço no verde e denso matagal em que se transformaram as valas de drenagem. Se os cabritos aí fossem amarrados… !!! O dilúvio em Maputo não poupa mesmo nada: nem mesmo o récem inaugurado modern aeroporto internacional de Mavalane escapou a uma inundação! Talvez não palharam convenientemente e à moda chinesa…

Na periferia, a porca já nem tem rabo! É um "salve-se quem puder" pois lugares há em que o dilúvio aí desemboca e se instala : dentro ou fora das residências. Diante de nenhuma atitude máscula, de quem de direito, novas crateras tipo Julius Nyerere engalanam a nova face da Grande Town, com todos os riscos que isso acarreta. Bom, Maputo quando chuva ?!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Estórias em Maputo (36)

Há coisas para as quais o comum e pacato maputense não pode fugir no seu dia-a-dia. Dentre esses aspectos, está o uso, sobretudo nas manhãs e ao fim do dia, do transporte semi-colectivo de passageiros, vulgo chapa. Chapa 100, um antigo referente do valor a pagar pela viagem, de cuja simbologia ficaram apenas as expostas e cortantes chapas da carroçaria e o seu desventrado e perfurante interior.


Num chapa, para além do habitual encurtamento de rotas, que todos usuários vivem no bolso e na pele, ocorrem outros fenómenos stressantes : pugilato para aceder ao mesmo, velocidade vertiginosa, malabarismo na via, som com décibeis dignos de fazer inveja a muita discoteca, cobradores mal encarados, indisciplinados e arrogantes e, claro, a presença constante de guindzas que sorrateiros espreitam toda e qualquer oportunidade.


Oportunidade essa que se oferece quando o cobrador, sem modos absolutamente nenhuns, em alto e bom som, ordena e impele rudemente os passageiros a ocuparem todos os espaços, em completo desrespeito a postura do esqueleto humano. Claro, o passageiro safado aproveita-se desse arranca-acelera-vira-revira-trava para roçar e apalpar a curvatura feminina indo ao extremo, com visível prazer, de encoxar e assim realizar os seus mais profanos devaneios.


Ainda nessa vertiginosa viagem, com destino previamente traçado, mas que pode ser subitamente alterado, por um tipoliça esfomeado, por uma paragem em sentido contrário repleta de potenciais clientes, por uma avaria ou pela incerteza que é a vida, um misto de adrenalina e medo transparece no semblante dos viajantes que, ao contrário da team que só pensa em chegar em primeiro ainda acreditam que « encher não é acomodar » e « correr não é chegar ». Chapa ntsém!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Em nome da b'leza

A vaidade feminina já não mais tem limites! Vale tudo e mais alguma coisa. O mais importante é estar-se e sentir-se: mais linda, mais sexy, mais gostosa, mais ... A lista não acaba e cada mulher com a sua merecida razão! Os atributos, bonificados pela natureza e que sempre nos caracterizaram, não mais se apresentam como realmente são tanto na cidade como nos seus arredores pois o padrão de beleza transfigurou-se.

Já não se é nem se está 100% natural! Está-se é a caminho dos 100% artificial! Tudo, em nome da beleza. Essa que nos é mostrada pelas musas de inspiração, artistas e figurantes desnundas em video clips, trazida pelas manas da South, do Brasil, da China ou da India ou ainda vendida pelos estrangeiros com raízes firmadas cá na terra e que ditam a moda das damas.

Não mais nos apresentamos com tranças “tipo” xikwenheta ou s’três. O cabelo deve estar frisado ou com apliques de mexas, tissagens e extensões. As unhas, segundo dita a regra do momento, devem ser acrilicas ou de gel e sempre com a manicure em dia. Afinal, nail art é o que está a dar, vender e a lucrar... Parece que basta? Entra no pacote roupa e acessório que devem combinar na cor, formato e material.

E, não é tudo! Enquanto que umas tentam a todo o custo diminuir o peso, com chás adelgaçantes e dietas milagrosas, as curvas femininas de mulheres com posses são turbinadas com silicone e bisturi, no estrangeiro. Outras tantas mulheres preenchem suas “insuficiências” com soutiens almofadados e com a récem saída da fábrica calcinha-bumbum! Pois é, beleza é sacrificio no bolso, na mente e no corpo!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Estórias em Maputo (35)

Em Maputo, todo e qualquer tipo de evento, seja ele de alegria ou de tristeza, termina ou tem como etapa os comeretes e os beberetes. Com essa oportunidade, única para muitos alimentarem-se do bom e do melhor, em doses que o estomago aguenta, e do que raramente figura no cardápio caseiro, abre-se também uma porta para que muitos tirem disso outros mais proveitos.

Na cozinha, os cozinheiros e pseudo-ajudantes suprimem desde ingredientes crus à própria comida já confeccionada, incluíndo nesse pacote os respectivos recipientes, para a desgraça completa de seus proprietários. Os barmen também não poupam esforços : levam até rolhas extras para compensar no momento da contagem das garrafas consumidas.

Na cauda desta procissão, aparecem aqueles que, sob pretexto de que têm cães, recolhem restos de comida. O mais engraçado é que nas tais dog bag os alimentos são incrivelmente acondicionados faltando apenas etiquetas pois não dá para juntar "carne com mariscos porque o cão é alérgico" ou "carne com osso porque tenho cães que não comem ossos". Vê se pode !

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Moçambicano é assim...*

1. Ao invés de ajudar, saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas.

2. Estaciona nos passeios, pouco se importando se o faz por cima duma fossa rebentada.

3. Suborna ou tenta subornar quando é apanhado cometendo qualquer infracção, até quando o policia pede para acender um cigarro...

4. Troca voto por futilidades: camisete ou capulana.

5. Fala ao celular enquanto conduz lentamente.

6. Pára em filas duplas ou triplas em frente às escolas dando um grande exemplo aos petizes.

7. Conduz após consumir bebidas alcoolicas em excesso e quando é apanhado com a boca na botija puxa dos canudos e exibe o seu grau honorífico.

8. Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas.

9. Espalha fogões à carvão assando ou fritando qualquer coisa nos passeios.

10. Arranja atestados médicos sem estar doente, só para faltar ao trabalho.

11. Faz ligação clandestina de luz, de água e de tvcabo e ainda se gaba de ser o tal.

12. Regista imóveis no cartório num valor abaixo do comprado, muitas vezes irrisórios, só para pagar menos impostos.

13. Quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou 100 pede recibo de 2000.

14. Comercializa objectos doados aquando de alguma tragédia, as tais de xicalamidade.

15. Estaciona em lugares destinados para deficientes alegando que deficientes não possuem viaturas.

16. Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse novo.

17. Compra produtos pirata com a plena consciência de que o são e espalha aos quatro ventos que só veste roupa de griffe.

18. Leva do local onde trabalha, pequenos objectos como clips, envelopes, canetas, lápis.... como se isso não fosse roubo.

19. Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve, afinal apanhar não é roubar.

20. Quando volta do exterior, nunca diz a verdade quando o fiscal aduaneiro pergunta o que traz na bagagem.

* adaptado

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"'Stá" a bater!

O ano lectivo está prestes a terminar. Pelos corredores das escolas constata-se uma azáfama incomum.

Dum lado, encontram-se os professores numa correria contra o tempo; a regularizar testes dos alunos faltosos, elaborar pautas, aprender a trabalhar a todo custo com Excel, participar em conselhos de notas, afixar… e, do outro lado, como formigas atrás do açúcar, os alunos cobrem as salas dos professores e os cercam no estacionamento, nas paragens de chapa, nas portas das casas de banho, nas cantinas, nas barracas mais próximas. Tudo isso a procura de valores para passar de classe ou admitir ao exame.

Nos corredores, o cheiro de urina das toilettes foi substituído por feromonas das alunas, que circulam semi-nuas, com andares suaves, dançantes, sorrisos pálidos, prontas a negociar o seu néctar com os professores pobres em moralidade e de zipes menos seguros.

Paira no ar a luxúria, o negócio, a cumplicidade, o sexo implícito, que por momentos confunde-se com a zona quente. Nos corredores, ouvem-se ecos de risos de hienas. Nos rostos dos professores predadores, brilham olhos cristalinos, feito comerciantes prestes a consumar um negócio.

Bocas com cheiro de fome foram substituídas por arrotos de satisfação, de esperança. Afinal a profissão de professor tem lá alguns benefícios….Há alegria pelo merecido troféu que enfim vai chegar, para terminar a obra que só se move nos finais de semestre, para comprar um carro de segunda mão, um fato sonhado, colorir a mesa da família ou ser o “paga bem” na barraca da zona.

Paira injustiça nos corações dos alunos menos afortunados de corpo e agrados, pois mesmo tendo se esforçado, vão repetir o ano. Paira esperança nos olhos dos alunos afortunados, dos alunos mais queridos, que anseiam ter no ano que vem professores negociantes como os do presente ano…. E assim se faz o ensino….

Texto da autoria de F. E. Changule, in Facebook

domingo, 17 de outubro de 2010

Saldo zero !

O sistema nacional de saúde, melhorou muito, isso não se pode negar. A falta de alguns medicamentos, nas farmácias públicas é uma unha encravada e não é menos verdade que, muitas vezes, os recursos humanos falham ou demonstram uma incompreensível insensibilidade. Mas, errar é humano, não é ?

Ora, a (in)sensibilidade humana, nos nossos hospitais, é o único pão nacional ao qual não se lhe diminuem gramas, nem com intenso calor que é característico destas paragens. As unidades privadas têm também o seu pedaço de (in)sensibilidade que é servido em momentos em que a vida está literalmente por um fio.

Já nem sequer bastam as garantias de empresas de índole reputada ! Pouco importa se a pessoa está à porta da sala de operações ou se está na metade de uma medicação… Pouco importa se faltam uns míseros trocados, tão insignificantes para tamanha chantagem emocional: é saldo zero ou… !

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Alerta vermelho

Qualidade e segurança são preceitos que contam bastante na escolha da escola na qual as crianças, adolescentes e jovens se (vão) forma(r)m. Na concorrência com escolas públicas, frequentemente as escolas privadas são eleitas por apresentarem, a par de outros aspectos não negligenciáveis, perfis com altos padrões de contrôle na segurança e na qualidade de ensino.

Verdade é que essas escolas transmitem tanta segurança que muitos pais se limitam, em grande parte dos casos, em manter em dia as mensalidades com alguns laivos de participação em reuniões para as quais são convocados, quando não enviam o filho, empregada ou guarda para os substituirem.

Naturalmente, o facto de estudarem em tais escola, em alguns casos, faz parecer que esses meninos são filhos de pessoas com muitas posses, o que não pode de toda a forma ser generalizado. Contudo, o meio de transporte, os casacos, o calçado e as pastas de marca, os leitores de música e telemóveis top gama, deitam por terra qualquer argumento nesse sentido.

Como há gente que não está cega a "esses argumentos", os meninos bonitinhos passam a meninos-vitimas pois outros meninos, mais vividos e "empreendedores", aproveitam-se desses sinais para os aliciarem, com sua amizade e compreensão dos problemas que caracterizam essa faixa etária, para caminhos obscuros onde impera sobretudo a poeira e o fumo.

A principio em pequenas doses, "só para experimentar" e pouco depois, quando já começa a animar, no "se quiseres mais traz lá tako, tuas sapas, algo da tua casa ou cenas do teu kota, pra gente biznar e dividir", os argumentos que reflectem o modus vivendi dos meninos bonitos transforma-os em isco do que todos sabem que existe por aí e esperam que não exista entre os muros escolares.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Estórias em Maputo (34)

As metamorfoses que correm na Grande Town, mesmo as de natural ou provocada degradação, parecem ocorrer com intuitos claramente definidos. Talvez pela dinâmica da economia do mercado, quando menos se espera, um espaço dedicado a determinada função sem aviso prévio muda de actividade, com todos os prejuízos que isso acarreta.

O mais agravante, dessas inesperadas mudanças, é que muitas vezes, já que quase todo tipo de compras, do mercado formal, se faz a base de depósitos, esses valores são perdidos dado que frequentemente os clientes não são previamente avisados e o negócio não é reposto noutro local (se o é, raramente há indicações de onde o procurar).

Algumas dessas metamorfoses, pertinentes reconheça-se, passam despercebidas. Contudo, há mudanças de magnitude tal que deixam em estado de choque os habitués dum espaço que, quando entram porta adentro, encontram outro cenário e outro leque de serviços completamente diferentes do procurado.

Por exemplo, as raízes duma das mais médiaticas flores de Maputo foram arrancadas a favor de mais um mealheiro, bem nas barbas de outros tantos. Onde foi replantada ? Para bom entendedor, meia palavra basta. Afinal, em Maputo, as coisas são assim mesmo, mudam "daqui pra qui"!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Estórias em Maputo (33)

Apos a abastança, resultado dos roubos de semana passada, consta que muitos maputenses, ladrões e consumidores dos produtos roubados, vêem-se a pega com os produtos fanados, particularmente nos contentores, cujos proprietarios são fatalmente estrangeiros africanos e que florescem a olhos vistos na periferia de Maputo.

Segundo vozes, que tudo dizem, no percurso dos chapas e nas conversas do momento, que são de rescaldo de todos os ângulos dos acontecimentos estão a acontecer coisas muito estranhas. Diz-se mesmo que muita gente esta a devolver a procedência tais produtos pois o seu consumo esta rodeado de factos sobrenaturais.

Por exemplo, se alguém pretende consumir um refrigerante, por mais que o beba, este nunca acaba. O arroz, grande vitima dos "manifestantes" ora não coze e, se coze, enche a panela até transbordar. Ha quem diga que ao abrir os sacos aparecem cobras... Vai-se la entender? De facto o crime não compensa!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Estórias em Maputo (32): Manifs et al.

É de conhecimento geral o momento de tensão que a Grande Town e seus arredores vivem nas últimas horas. Caracterizada por cenas de puro vandalismo da coisa pública e privada, barricadas nas vias públicas de maior circulação, destruição de bens alheios, corre-corre em fuga às balas de borracha disparadas por AK47, que resultaram em inúmeros feridos e mortos, Maputo literalmente parou.

No comércio formal as portas mantiveram-se fechadas e a ausência das bancas, do comércio informal, incaracterizaram ainda mais o fuzué habitual que é Maputo. Como consequência, há falta do básico pão, um dos motes da pseudo greve, e, naturalmente, de todos outros produtos de primeira necessidade.

As imagens trazidas pelos media e retratadas nas redes sociais e blogs, mostram o quão caótica é a situação em todas as dimensões. Muitos, como que a aproveitar o momento, para rechear a sua despensa até a crise passar, são vistos na posse de sacos de arroz, caixas de frango ou carapau, e outros bens de consumo. Engane-se quem assim pensa !

Há "manifestantes" que não perdem oportunidade e alargam os cordões da bolsa. Aproveitando-se da confusão, pilham bebidas e de produtos alimentares dos contentores-loja, que florescem nesses locais e revendem-nos a metade do preço ou muito menos, seguramente, ao preço no qual gostariam de ser eles mesmo a comprar. Afinal não é essa a razão da confusão ?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Estórias em Maputo (31)

Mulheres de coragem hérculea há que, por receio de explusão dos pais, por recusa de paternidade ou conselho dos parceiros, por adultério ou por mero capricho, não hesitam em perfurar seus próprios úteros com agulha de tricot, engolir substâncias tóxicas, tomar cocktails de medicamentos ou aplicar, nos orgãos genitais, mistelas de raízes, folhas e outras substâncias estranhas com a firme intenção de provocar um aborto.

Número considerável, sobretudo de jovens-adolescentes, dirigi-se às unidades hospitalares que, com o firme propósito de evitar óbitos e outras sequelas de práticas incorrectas, consente esta prática mediante motivação convenientemente justificada. No entanto, há moçoilas que, como modus vivendi, vão "binando" senão mesmo "trinando", pelo que, com tal dossier, não mais podem recorrer às unidades sanitárias.

Aconselhadas por pessoas de má fé, habilitadas em domínios básicos de saúde, e que fazem disso uma fonte de rendimento, dirigem-se as farmácias e adquirem, à porta de cavalo, medicamentos que provocam contrações que levam ao aborto. Alguns desses indivíduos, sequer se dignam em requerer exames prévios para diagnosticar alguma maleita que se possa agravar com a provocação do aborto : vale tudo.

Se antes localizavam-se em zonas recôndidas, depois, com o advento das "maclinicas", na periferia da cidade, actualmente, com o gritante aumento de procura, desse tipo de serviços, as "clínicas" estabelecem-se, sob olhar impávido e sereno de seus moradores, em prédios residenciais da Grande Town. Evidentemente, esse tipo de "clinica" serve a um elitizado grupo de patricinhas que, afinal, também "brinca de mamã e papá".

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Hakuhanavanuna?*

Um novo negócio, empreendido pelas manas dos biznis, floresce a olhos vistos, e tem, a cada dia, cada vez mais adeptas : os vibradores. Originários de outras paragens, onde esses objectos eróticos são tratados por "tu", os vibras, de vários feitios, tamanhos e cores, se fazem presentes em muitas casas de dono e muitos "donos de casa" disso nada sabem.

Com preços que variam entre 2500 à 9000 meticais, consoante a multiplicidade de funções e a maleabilidade do material, os vibras cohabitam clandestinamente em muitas casas pois, o mulherio, potencial comprador desses objectos, particularmente as casadas ou com companheiros de leito, fixos ou esporádicos, escondem destes a posse do dito cujo.

Contudo, mesmo as livres e soltas também escondem que possuem um vibra. Evidentemente, por detrás desse escondimento se encontram várias razões. Mas, sabido que na nossa sociedade essa prática não é corrente isso leva, certamente, a indagações. Será que os homens ja nao cumprem com os seus deveres ou hakuhanavanuna?

*Já não há homens ?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Bagatela por um talento

O programa Moçambique em Concerto, com novos atractivos, como a presença de uma banda, que mata definitivamente o playback, apresenta um novo quadro designado Parada de sucesso Talento não tem idade. Iniciativa de louvar, pois talentos há que não encontram espaço para se mostrar, a intenção macula-se pelo valor dos prémios, que se oferece aos seus candidatos, cuja soma não chega a modéstia quantia de 1000Mt.

Numa altura do campeonato, em que o metical está desvalorizado, as somas atribuídas pelo corpo de jurados, de créditos firmados reconheça-se, é de certa forma ofensivo. Decerto que para os participantes, de todas as idades e talentos, também eles diversificados, o que vale mesmo é a participação. Mas a nódoa está ali e destoa qualquer boa intenção.

Com a humildade, que é característica dos moçambicanos, ficaria muito bem se, ao invés de míseros valores monetários, se oferecesse um bouquet de flores, uma medalha ou pontos que contribuiriam, por exemplo, na pontuação para os grandes prémios do dia (no caso um forno à micro-ondas e um fogão à gás !). Talento não tem idade sim, mas tem muita dignidade !

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Estórias em Maputo (30)

A principio pequenos, insignificantes, quase que invisíveis, com o desenvolvimento da Grande Town, que ao mesmo ritmo se degrada, um contigente de seres nojentos, por todos ignorados, metamorfosea-se e, tal como muitos maputenses, multiplica-se e vive tranquilamente sem cumprir nenhuma postura camarária.

Senhores absolutos do subsolo de Maputo, os ratos ou melhor as ratazanas, alimentados pelo descaso dos legítimos habitantes desta terra, são talvez, nestes tempos de apertar mais um pouco o cinto, os únicos "citadinos" que, sem reclamar, engordam a olhos vistos.

Fossas cépticas rebentadas ou entupidas, dejectos a rolar pela cidade abaixo, lixo por tudo quanto é lado, tanto no interior como no exterior dos edificios e habitações que engalam Maputo, negligência dos citadinos e de "quem de direito", as condições para que esta população reine e impere, estão completamente garantidas.

Eleitos como cobaias, em centros de pesquisa, pela similaridade,em muitos aspectos com o ser humano, a convivência com estes seres asquerosos é prejudicial para a saúde humana pois estes são portadores de doenças transmissíveis ao Homem como, seja o Diabo surdo e mudo, a peste bubônica.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Estórias em Maputo (29)

Policia-ladrão, neca, matocozana, saltar a corda ou elástico, dançar xitsuketa, pimpar, cochê, papa-mamã, futebol, zhoto, cheia, bi-johnson, rolamento, carinhos de arame, nomes-terra, xtrês, berlindes, xinguerenguere, fisgas ou n’diokas … foram intrumentos ou brincadeiras de criança que marcaram gerações que, com nostalgia e pesar, não vêem os putos de hoje a imitarem-lhes brincadeiras tão divertidas, intrutivas e… de crianças.

As crianças de hoje não podem jogar bola nas ruas ou calçadas de Maputo tal como era nos times. Verdade é que jogar a bola na rua é um risco, mas, nem nos passeios nem quintais lá dos bairros é possivel. Se não é porque os passeios estão levantados, é porque a fossa rebentou. Se não é por essa razão, é porque os carros tanto estão no asfalto, no passeio como nos quintais e em números assustadores.

Os campinhos de futebol transformaram-se em dumbas. Os jardins públicos perderam o encanto : os seus parques apresentam esqueletos de baloiços ou de escorregas e transformaram-se em covis de marginais. A Feira, outro espaço de lazer infantil, guardou brinquedos cujos valores tornam-nos acessiveis para meninos com parentes com alguma posse.

As salas de cinema, que não davam espaço para a pirataria, sofreram mutações : templos religiosos ou centros culturais, em nada relembram a época em que todos gritavam, ao som do ruidoso, ritmado e emotivo bater do soalho, "Rússia, Rússia, Rússia…" ou "artista, artista, artista…". Ah, e no intervalo os pirulitos e os noguetes, adoçavam a festa. Ainda há dúvidas ? Já não há crianças à moda antiga !

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Estórias em Maputo (28)

Hoje, para a alegria de muitos, os locais que oferecem refeições, sobretudo a hora do almoço, período em que grande parte das pessoas se encontra distante de suas residências, já não se limitam apenas aos restaurantes que, muitas vezes, cobram valores que correspondem ao rancho de muitos moçambicanos.

Assim, em roulottes, barracas de mercados formais e informais, casas de particulares, bares de classe média e em passeios da Grande Town, para além dos serviços à domicilio, é possível encontrar uma refeição quente, morna ou fria com preço à medida das possibilidades dos diferentes bolsos.

Contudo, muitos aproveitam-se dos inúmeros eventos organizados por entidades várias como seminários, workshops, reuniões ou conselhos coordenadores para garantirem o matabicho, almoço e lanche e se "bobear" organizar uma marmita para a familia "lá em casa".

Tal facto é notório pois, nas plenárias, nos debate e nos trabalhos em grupo, grande parte dos participantes se encontra ausente. Mas, tendo estes conhecimento prévio do programa de actividades e, consequentemente, dos períodos das refeições ninguém se atrasa na hora do "tacho".

Se por um lado estão os convidados ao evento, que se ausentam da plenária e se fazem presentes a "hora do rango", a sala de refeições apresenta-se um outro grupo : o dos não-convidados que, para variar, é o primeiro a servir-se, o que obviamente deixa em prejuízo aqueles que efectivamente participam nos eventos.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Estórias em Maputo (27)

Na cidade das acácias rubras, em irreversível decadência, o adágio quem não deve não teme parece ter evoluído para outro significado pois ocorre um fenómeno curioso: os cidadãos pacatos por não terem meios para "se desculpar", entenda-se de subornar, receam a polícia, seja ela de protecção ou de trânsito, mesmo estando em situação regular.

Suspeitos, geralmente pelo aspecto que apresentam e pelo que consigo trazem (sacolas, caixas, etc.), muitos maputenses e, eventualmente muitos outros moçambicanos e estrangeiros, em outras paragens, são preferencais alvos à abater. Com ou sem a mão na massa, rarissímas vezes os suspeitos são encaminhados à esquadra. O assunto é "julgado" nesse mesmo local ou a poucos metros do mesmo se houver curiosos mirones.

O mais evidente é o beat entre chapeiros e policia municipal que só não é desmantelado por má vontade do tal de "quem de direito"! Os municipalitos, que usa a mesma técnica que os policias de trânsito, mandam os chapeiros pararem e solicitam a apresentação da documentação. Como sistematicamente os chapeiros estão em falta, zás, logo logo "prendem os documentos".

Como os chapeiros há muito alimentam esse círculo, quando indicados a parar, num road block, estacionam a alguns metros dos policias e a eles dirigem-se com os documentos, no meio dos quais há sempre um cash. Caso contrário, deixam os documentos e, na viagem de volta, "mimam" o policia que fecha os olhos a um número assustador de irregularidades.

O que mais enerva é assistir a esse espectáculo gratuito, de categoria inqualificável, no qual os tipoliça, achando-se as últimas bolachas do pacote, sujeitam-se a uns míseros 50 paus "porque só entramos agora na praça, chefe" e são alvo de chacota geral dos passageiros e da team do chapa que se vangloria de ter pago umas quinhentas. Epa, policias pah !

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Golpe das batatas ?

Recentemente, na companhia de uma colega de trabalho, decidimo-nos pelo que habitualmente fazemos questão de manter certa distância : o fast-food.

Decisão tomada, sem nenhum remorso, empolgadas encaminhamo-nos ao espaço defronte da clinica ao Banco de Socorros da maior unidade sanitária do país. Chegadas ao local, pouco concorrido pela hora, 15 e picos, escolhemos o que nos se afigurava a melhor opção. Para o nosso espanto, para além da dose habitual de dois pedaços de frango foi-nos servido conjuntamente, para cada uma, sete (7) tiras de batata frita.

Antigas habituées do espaço, por inerência das funções maternalistas, em que viamos um embutimento de batatas fritas, solicitamos que nos fosse servido uma porção maior de batata, ao menos como se apresenta nos menus colados às paredes do espaço. O servente respondeu-nos que só podia servir essa quantidade (7 finas tiras de batata) por ordem do patrão e/ou gerente.

Prontamente, mas a jeito de brincadeira, manifestamos o nosso desacordo e reivindicamos uma refeição digna de pessoas adultas e famintas. O servente recusou alegando que mensalmente lhes era cortado o ordenado por servirem grandes porções de batata. De seguida, aproximou-se uma outra servente e prôpos que comprassemos uma dose extra de batata frita.

Imediatamente questionamos se essa porção extra também era composta por 7 magras tiras de batata frita… Nem esperamos pela resposta, alvitradas, batemos em retirada por acharmos injusto que se cobre por um serviço que não é condignamente honesto e nos questionamos se de facto essa directriz é válida ou se os serventes armaram o golpe das batatas para sairem a lucrar mais algum.

Na nossa perspectiva, o golpe seria simples : coloca-se pouca batata nas refeições acompanhadas com batata e, com o remanescente, criam-se pacotes extras cujo valor, seguramente, não dá entrada na caixa…

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Estórias em Maputo (26)

Um dos adágios populares, que melhor caracteriza um número considerável de maputenses, é “cabrito come onde está amarrado”. Não se engane pensando que o adágio é somente estampa dos corruptos ! Não corruptos, que se servem da máxima ao pé da letra, também ganham dividendos com a apropriação desse dito popular.

Aliado a isso, o impacto do slogan que mostra e demonstra que, para se sair da pobreza, que graça muitos compatriotas, o empreendedorismo "é a ferramenta", o enlance com o ditado cabrital é quase perfeito. Esse casamento vinga em repartições públicas que acolhem um número significativo de utentes, como centros de saúde e conservatórias de registo diverso.

Nesses e em outros locais de serviço público, funcionários com tarefas específicas, como por exemplo, de secretária ou de limpeza, trazem de suas casas bens de consumo imediato (bolinhos, pão com manteiga, sumos diluídos, água engarrafada, etc.) e, ao invés de executarem as suas tarefas primeiras, dedicam-se, em primeiro plano à venda desses produtos.

Subtilmente, percebe-se que quem não compra não é proporcionalmente atendido, criando assim um círculo vicioso. Como consequência, todo o trabalho atrasa-se e, no que tange particularmente aos sanitários, estes apresentam-se inadequados para o seu uso e o cheiro exalado é deveras incómodo para todos.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Estórias em Maputo (25)

Durante muito tempo, os cânticos da igreja foram entoados com o apoio de livros de cântico. Por força da frequência das repetições, muitos desses cânticos foram decorados. Com o passar do tempo, por força do uso, muitos desses livros foram-se desfazendo e, verdade seja dita, alguns roubados.

Com o evoluir da tecnologia, para cada missa, em função do repertório escolhido, faziam-se fotocópias. A estratégia parece não ter funcionado a contento, para muitas igrejas, posto que exigia número elevado de exemplares, logo valores, para o número de cantantes que nos dias de culto em massa se dirige às igrejas.

Na procura de soluções, algumas igrejas preferiram investir forte e feio e preferiram dotar-se de meios tecnológicos para resolver a questão das letras dos cânticos. Ora, apetrechadas com data show, algumas igrejas não só resolveram o primeiro problema como tornaram a missa num show de talentos gospel com a adoptação do karaoke!