segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Estórias em Maputo (31)

Mulheres de coragem hérculea há que, por receio de explusão dos pais, por recusa de paternidade ou conselho dos parceiros, por adultério ou por mero capricho, não hesitam em perfurar seus próprios úteros com agulha de tricot, engolir substâncias tóxicas, tomar cocktails de medicamentos ou aplicar, nos orgãos genitais, mistelas de raízes, folhas e outras substâncias estranhas com a firme intenção de provocar um aborto.

Número considerável, sobretudo de jovens-adolescentes, dirigi-se às unidades hospitalares que, com o firme propósito de evitar óbitos e outras sequelas de práticas incorrectas, consente esta prática mediante motivação convenientemente justificada. No entanto, há moçoilas que, como modus vivendi, vão "binando" senão mesmo "trinando", pelo que, com tal dossier, não mais podem recorrer às unidades sanitárias.

Aconselhadas por pessoas de má fé, habilitadas em domínios básicos de saúde, e que fazem disso uma fonte de rendimento, dirigem-se as farmácias e adquirem, à porta de cavalo, medicamentos que provocam contrações que levam ao aborto. Alguns desses indivíduos, sequer se dignam em requerer exames prévios para diagnosticar alguma maleita que se possa agravar com a provocação do aborto : vale tudo.

Se antes localizavam-se em zonas recôndidas, depois, com o advento das "maclinicas", na periferia da cidade, actualmente, com o gritante aumento de procura, desse tipo de serviços, as "clínicas" estabelecem-se, sob olhar impávido e sereno de seus moradores, em prédios residenciais da Grande Town. Evidentemente, esse tipo de "clinica" serve a um elitizado grupo de patricinhas que, afinal, também "brinca de mamã e papá".

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Hakuhanavanuna?*

Um novo negócio, empreendido pelas manas dos biznis, floresce a olhos vistos, e tem, a cada dia, cada vez mais adeptas : os vibradores. Originários de outras paragens, onde esses objectos eróticos são tratados por "tu", os vibras, de vários feitios, tamanhos e cores, se fazem presentes em muitas casas de dono e muitos "donos de casa" disso nada sabem.

Com preços que variam entre 2500 à 9000 meticais, consoante a multiplicidade de funções e a maleabilidade do material, os vibras cohabitam clandestinamente em muitas casas pois, o mulherio, potencial comprador desses objectos, particularmente as casadas ou com companheiros de leito, fixos ou esporádicos, escondem destes a posse do dito cujo.

Contudo, mesmo as livres e soltas também escondem que possuem um vibra. Evidentemente, por detrás desse escondimento se encontram várias razões. Mas, sabido que na nossa sociedade essa prática não é corrente isso leva, certamente, a indagações. Será que os homens ja nao cumprem com os seus deveres ou hakuhanavanuna?

*Já não há homens ?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Bagatela por um talento

O programa Moçambique em Concerto, com novos atractivos, como a presença de uma banda, que mata definitivamente o playback, apresenta um novo quadro designado Parada de sucesso Talento não tem idade. Iniciativa de louvar, pois talentos há que não encontram espaço para se mostrar, a intenção macula-se pelo valor dos prémios, que se oferece aos seus candidatos, cuja soma não chega a modéstia quantia de 1000Mt.

Numa altura do campeonato, em que o metical está desvalorizado, as somas atribuídas pelo corpo de jurados, de créditos firmados reconheça-se, é de certa forma ofensivo. Decerto que para os participantes, de todas as idades e talentos, também eles diversificados, o que vale mesmo é a participação. Mas a nódoa está ali e destoa qualquer boa intenção.

Com a humildade, que é característica dos moçambicanos, ficaria muito bem se, ao invés de míseros valores monetários, se oferecesse um bouquet de flores, uma medalha ou pontos que contribuiriam, por exemplo, na pontuação para os grandes prémios do dia (no caso um forno à micro-ondas e um fogão à gás !). Talento não tem idade sim, mas tem muita dignidade !

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Estórias em Maputo (30)

A principio pequenos, insignificantes, quase que invisíveis, com o desenvolvimento da Grande Town, que ao mesmo ritmo se degrada, um contigente de seres nojentos, por todos ignorados, metamorfosea-se e, tal como muitos maputenses, multiplica-se e vive tranquilamente sem cumprir nenhuma postura camarária.

Senhores absolutos do subsolo de Maputo, os ratos ou melhor as ratazanas, alimentados pelo descaso dos legítimos habitantes desta terra, são talvez, nestes tempos de apertar mais um pouco o cinto, os únicos "citadinos" que, sem reclamar, engordam a olhos vistos.

Fossas cépticas rebentadas ou entupidas, dejectos a rolar pela cidade abaixo, lixo por tudo quanto é lado, tanto no interior como no exterior dos edificios e habitações que engalam Maputo, negligência dos citadinos e de "quem de direito", as condições para que esta população reine e impere, estão completamente garantidas.

Eleitos como cobaias, em centros de pesquisa, pela similaridade,em muitos aspectos com o ser humano, a convivência com estes seres asquerosos é prejudicial para a saúde humana pois estes são portadores de doenças transmissíveis ao Homem como, seja o Diabo surdo e mudo, a peste bubônica.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Estórias em Maputo (29)

Policia-ladrão, neca, matocozana, saltar a corda ou elástico, dançar xitsuketa, pimpar, cochê, papa-mamã, futebol, zhoto, cheia, bi-johnson, rolamento, carinhos de arame, nomes-terra, xtrês, berlindes, xinguerenguere, fisgas ou n’diokas … foram intrumentos ou brincadeiras de criança que marcaram gerações que, com nostalgia e pesar, não vêem os putos de hoje a imitarem-lhes brincadeiras tão divertidas, intrutivas e… de crianças.

As crianças de hoje não podem jogar bola nas ruas ou calçadas de Maputo tal como era nos times. Verdade é que jogar a bola na rua é um risco, mas, nem nos passeios nem quintais lá dos bairros é possivel. Se não é porque os passeios estão levantados, é porque a fossa rebentou. Se não é por essa razão, é porque os carros tanto estão no asfalto, no passeio como nos quintais e em números assustadores.

Os campinhos de futebol transformaram-se em dumbas. Os jardins públicos perderam o encanto : os seus parques apresentam esqueletos de baloiços ou de escorregas e transformaram-se em covis de marginais. A Feira, outro espaço de lazer infantil, guardou brinquedos cujos valores tornam-nos acessiveis para meninos com parentes com alguma posse.

As salas de cinema, que não davam espaço para a pirataria, sofreram mutações : templos religiosos ou centros culturais, em nada relembram a época em que todos gritavam, ao som do ruidoso, ritmado e emotivo bater do soalho, "Rússia, Rússia, Rússia…" ou "artista, artista, artista…". Ah, e no intervalo os pirulitos e os noguetes, adoçavam a festa. Ainda há dúvidas ? Já não há crianças à moda antiga !