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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Maputo, afinal é possivel?


Maputo está em polvorosa e não é à toa! Representantes de 47 países africanos encontra-se-ão na cidade das acácias para os X Jogos Africanos. Sem margem de dúvida, um evento que figurará merecidamente nos anais da história da cidade, do país, do continente e do mundo ! Afinal é possível ?

Para acolher tão altos dignatários, como sempre fez face à um grande evento, basta puxar pela memória e recordar a mobilização face à Cimeira do Chefes de Estado Africanos, que até mereceu um Centro de Conferências construído de raiz, observa-se que Maputo não só lavou seu rosto como rapou os sovacos. Subtilmente, sem que muitos se dessem conta, sob pretexto de combater a mendicidade, aos comerciantes que ofertavam dinheiro e pão, à sexta-feira, foi proibido fazê-lo. Contudo, a ajuda destes seria canalizada aos locais em que estes necessitados se encontravam evitando assim as romarias de sexta-feira. Afinal é possível ?

Outros que foram literalmente postos a correr, foram os vendedores de rua que montavam seus xidjumbas e barracas nos passeios obrigando os dignos usuários a disputar as faixas de rodagem com os veículos automóveis. Infelizmente, a corrida só atingiu aqueles que se estabeleciam nos corredores por onde passarão as ilustres visitas. Prova disso é o perimetro entre as avenidas Karl Marx, 25 de Setembro, Albert Lithuli e Amed Sekou Touré que só se distingue do campo de jogos, agora transformado em dumba nengue do Xipamanine, pela existência de prédios e de asfalto. Porque o resto, como sói dizer,é o resto. Algumas ruelas e avenidas da cidade, algumas das quais já nem mais eram cruzadas por veiculos, também beneficiaram de reparação. Que bom, afinal é possível!

À saída da cidade, afinal a vila olimpica está no perímetro suburbano da mesma, outras obras dignas de vulto apareceram e não cessam de levar os maputenses a indagar-se sobre as reais capacidades do Municipio de Maputo. O espantado "afinal é possível ?" ouve-se por toda a parte ! A praça da Toyota, como é chamada, viu ser-lhe levantado um passeio e, o mais espantoso, a vala de drenagem com vegetação verdissima, digna de fazer inveja a qualquer idealista da revolução verde, foi retirada ! A Junta também mundou. Afinal é possível ?

Diz-se ainda que ao longo do percurso para o magestoso Zimpeto, passeios que há muito deixaram de se fazer ver, ressurgiram das areias que os cobriam. Engenheirosas obras de limpeza trouxeram-nos de volta. Afinal é possível ? Bem hajam jogos africanos ! Mesmo que não ganhemos medalhas, ficamos felizes por termos ganho uma cidade de cara lavada e de sovaco rapado. Mas, o que queremos mesmo, é tomar um bom banho e limpar todo o tilhavela que não abona em nosso favor porque afinal é possivel. 

terça-feira, 24 de maio de 2011

Estorias em Maputo (41)

Está de parabéns a FEMATRO pela grandiosa frota posta a disposição dos maputenses e outros cidadãos que habitam para la da portagem, particularmente aqueles que têm neles o único meio para se deslocarem de seus locais de residência para o trabalho, para gwevar, para a escola ou mesmo hospital e no sentido inverso.


Está de parabéns a FEMATRO por ter empregue mulheres, ainda que apenas como cobradoras. Quiça como motoristas não teriam aquela delicadeza só delas para, pacientemente, esperarem que idosos, doentes e portadores de deficiência, não só entrem na viatura como também se acomodem em seus bancos ?


De toda a forma, está de parabéns a FEMATRO por colocar, pela primeira vez na história do transporte privado urbano, cobradores e motoristas fardados. Obviamente, é também positivo o facto de dar, como contrapartida, pelo pagamento, um bilhete de viagem. Constatar que as quinhentas vão para o bolso devido, faz bem a quem paga!


Está de parabéns a FEMATRO por ter proporcionado viaturas com condições para salvaguardar a integridade fisica de seus utentes. Muito raro cá na praça, sobretudo para viaturas dessa dimensão, estes "chapões" possuem cintos de segurança, mas, "essa gente pah", deve olhar para eles e pensar que uso poderão fazer noutras situações…


Está de parabéns a FEMATRO por manter os hábitos das necessidades dos passageiros : parar nas paragens por estes determinadas e por aceitar no seu interior todos os "xidjumbas" possiveis e imaginarios. Obviamente não é gratuito, mas esse gesto ja de si é de salutar.


O resto? É o resto! O que importa é que está de parabéns a FEMATRO e palmas por isso "clap, clap, clap"...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Estórias em Maputo (40)

Que não reste mais nenhum espaço para dúvida : o transporte na Grande Town é um dos casos mais bicudos de que se tem memória ! Já não se distingue hora de ponta de hora morta ! Em muitas paragens e a todo o momento, meter o pé num meio de transporte, público ou privado, é um episódio para uma longa metragem cujos capítulos finais ainda não figuram no roteiro de quem de direito !



Como se não bastasse, é absurdamente notório o grau de degradação das viaturas que transportam a grande maioria de cidadãos de suas casas para os postos de trabalho e vice-versa. Ninguém se importa ou manifesta qualquer interesse até que a tragédia, que sempre anda a espreita, ocorra. Aquele ditado que diz "prevenir é remediar" foi substituído por "deixa andar" e a fila assim anda.



Ainda por cima, numa tentativa desesperada de agarrar a primeira tábua que passa(va), optou-se por admitir que os que não têm licença para transporte de passageiros passassem a fazê-lo em períodos pré-determinados. Penso rápido na ferida, se se levar em conta que alguns dos piratas já circulavam na praça, contudo, neste caso também não foram acautelados os critérios de segurança.



Verdade é que alguns desses "piratas" dispõe de viaturas em muito bom estado, tão bom, que até mete dó vê-las a circular só "em certas horas". Mas, por outro lado, há viaturas também em bom estado criadas para o transporte de carga e que hoje transportam pessoas lembrando tempos já idos. Porém, ao contrário de suas ancestrais, as carrinhas de hoje não dispõe de lona nem de ferragem alguma que permita que os transportados se segurem a algo na viatura que não os demais passageiros, companheiros de viagem.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Estórias de Maputo (39)

A opção de incluir no currículo moçambicano a cadeira de Noções de Empreendedorismo, ao contrário da disciplina de Agropecuária, particularmente na Grande Town, está, para jovens avisados o surtir algum efeito. Uma moda muito recente, aprendida das oficinas televisivas doutros exemplos de sucesso, está a fazer furor no seio da moçada e, quem a faz, esfrega as mãos de contente.

O tal negócio é o da criação de colares e de outros acessórios feitos com base em vestuário, de preferência de algodão, aparentemente sem nenhuma serventia. Por conta disso, muitos adultos se têm queixado do desaparecimento de camisetes e não se lhes conhecem o destino... Contudo, isso são outros quinhentos !

Ora, visto que as fontes de matéria caseira tendem a revelar-se insuficientes para tamanha procura, é habitual ver-se as meninas, entre pouco menos ou pouco mais de 15 anos, envoltas em fardos de segunda mão a procura de t-shirts das mais variadas cores para a produção do negócio que está a dar.

No local de aquisição do material, a compra é feita a preços irrisórios (5Mt/unidade) se bem que, desconfiados de que algo está a acontecer, os fornecedores tendem a duplicar o preço da matéria-prima, mesmo daquela que já era dada como perdida. Ora, com ou sem essa tendência, por sua vez os colares são vendidos no ambiente escolar a preço de 100 à 125 Mt ou só a mão-de-obra se de amigas se tratarem.

As manas dos salões de cabeleireiro, que nunca estão distraídas, compram esses produtos e revendem-nos duas ou três vezes mais o preço inicial que não é de todo barato. Evidentemente, por enquanto o negócio é bom ! Mas, para as artesãs dessa arte, fascinada pelos dividendos imediatos que o corte e o retorce dos panos traz, descuram outra obrigação e dever que lhes é fundamental : estudar !

terça-feira, 1 de março de 2011

Estórias em Maputo (39)

Decidamente os guindzas estão por todo o lado e já nem aguardam a oportunidade: fazem-na! Como consequência, grades de ferro preenchem varandas do primeiro ao mais elevado andar de grande parte dos edificios da Grande Town. Barracas, quiosques e até as pequenas bancas, existentes nas ruas, são blindadas com a intenção de complicar a tarefa dos temidos visitantes do alheio. Hoje, prevenção é palavra de ordem mesmo que isso signifique bloquear acessos secundários tão necessários em momentos de aflição como os incêndios.

Contudo, a necessidade de segurança ultrapassa o âmbito domiciliar e/ou empresarial. Estar na rua, é um risco. Quer seja em viatura própria ou em transportes públicos ou privados : guindza pode ser o dissimulado mendigo, que no semáforo, pede esmola ou o moço que, na gentileza da cedência duma cadeira, subtrai a carteira ou qualquer outro objecto que a sua mão sorrateira consegue alcançar. Em momento algum o cidadão se pode distrair pois o inimigo já não se veste de lobo, muito pelo contrário.

Vestidos adequadamente ao meio em que actuam, por exemplo, clássico, para o golpe em ambientes de negócios ou com fardamento, para o ambiente escolar, para além das habilidades de subtração do alheio, os guindzas de hoje têm tacto e destreza na língua. Muitas vezes, as suas vitimas são vitimadas mais pela lábia do que pelo gesto de subtração apesar de que tudo vai dar ao mesmo.

Os guindzas de hoje são tão elegantes quanto gentis : aconselham no acto de compra, ajudam a carregar as compras e acompanham o encantado cliente por tamanha prestatividade a preço duns miseros trocados. Ainda sob efeito do encantamento, na porta da viatura, nas escadas ou à porta de casa, revelam o seu verdadeiro Eu e, lamentavelmente, apenas eles saiem no lucro.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Estórias em Maputo (38)

O pequeno-almoço é uma refeição que contribui grandemente na definição do que vai ser o dia de quem o toma ou não. Matabicho, como é por cá chamado, é o momento de matar o afaimado bicho que faz roncar estômagos vazios por via do chá com pão, mandioca, batata-doce ou xiquento (sobras do jantar).

Contudo, com o agudizar da crise esta refeição parece estar a perder o seu estatuto ou tradição. De refeição primeira, cada vez mais tarda em chegar à mesa do citadino. Em muitas casas, é sinónimo de almoço. Para outros tantos, que a essa hora encontram-se longe de casa mata-se o bicho com um pratão de sopa e metade de um pão, de preferência, subvencionado.

Assim, exércitos de citadinos de vários extractos sociais, chapeiros e cobradores, funcionários vários, estudantes e professores, babalazados e outros, desde as primeiras horas da manhã fazem-se as barracas para ao preço dentre 20 à 35 meticais consumirem uma sopa que se torna a cada dia que passa não o alimento da preferência matinal do Zé Povinho mas o que é possível consumir.

Inicialmente adoptada como a fórmula para "a ressureição dos mortos", entenda-se ressacados, hoje a sopa da rua tem outra dimensão : é o que, a preço baixo, melhor engana o estômago. Como o universo de consumidores de sopa aumenta substancialmente, as "sopeiras", de olho no lucro, quão ladrão que vê oportunidade criada, no lugar da batata usam farinha de milho, maputizando o prato.

Também, como a clientela é tendencialmente carnívora, as sopas são intencionalmente enriquecidas com todo tipo de desperdicio animal e ainda, num perpétuo continuum, as sopas do dia anterior enriquecem novas sopas. Isto tudo, pondo de lado a questão da higiene. De toda forma e pelo número crescente de consumidores, a sopa é uma coisa boa!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Estórias em Maputo (37)

A chuva que tem caído miudinha ou estrondosamente em Maputo revela as inúmeras fragilidades dos sistemas de drenagem de águas pluviais e não só. Dentro da town, o seu centro, a Baixa, do nada transforma-se num rio com ondas vinteecincosetembral. A fonte desse rio, segundo quem de direito, que muito recentemente investiram em drenos, é de que os plásticos do comércio informal entopem-nos !

Mais para cima, a meio da cidade, a água escorre solta, arrastando detritos vários no seu percurso em direcção às zonas mais baixas. Visto que, grande parte dos esgotos estão obsoletos, e na hora do dilúvio as coisas agravam-se, as suas águas negras misturam-se com as cristalinas encobrindo os habituais buracos, na via e no pavimento, que se alargam e os novos, que surgem sem nenhuma surpresa para os citadinos.

Nessa corrida desenfreada, para lado nenhum, as águas da chuva não encontram espaço no verde e denso matagal em que se transformaram as valas de drenagem. Se os cabritos aí fossem amarrados… !!! O dilúvio em Maputo não poupa mesmo nada: nem mesmo o récem inaugurado modern aeroporto internacional de Mavalane escapou a uma inundação! Talvez não palharam convenientemente e à moda chinesa…

Na periferia, a porca já nem tem rabo! É um "salve-se quem puder" pois lugares há em que o dilúvio aí desemboca e se instala : dentro ou fora das residências. Diante de nenhuma atitude máscula, de quem de direito, novas crateras tipo Julius Nyerere engalanam a nova face da Grande Town, com todos os riscos que isso acarreta. Bom, Maputo quando chuva ?!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Estórias em Maputo (36)

Há coisas para as quais o comum e pacato maputense não pode fugir no seu dia-a-dia. Dentre esses aspectos, está o uso, sobretudo nas manhãs e ao fim do dia, do transporte semi-colectivo de passageiros, vulgo chapa. Chapa 100, um antigo referente do valor a pagar pela viagem, de cuja simbologia ficaram apenas as expostas e cortantes chapas da carroçaria e o seu desventrado e perfurante interior.


Num chapa, para além do habitual encurtamento de rotas, que todos usuários vivem no bolso e na pele, ocorrem outros fenómenos stressantes : pugilato para aceder ao mesmo, velocidade vertiginosa, malabarismo na via, som com décibeis dignos de fazer inveja a muita discoteca, cobradores mal encarados, indisciplinados e arrogantes e, claro, a presença constante de guindzas que sorrateiros espreitam toda e qualquer oportunidade.


Oportunidade essa que se oferece quando o cobrador, sem modos absolutamente nenhuns, em alto e bom som, ordena e impele rudemente os passageiros a ocuparem todos os espaços, em completo desrespeito a postura do esqueleto humano. Claro, o passageiro safado aproveita-se desse arranca-acelera-vira-revira-trava para roçar e apalpar a curvatura feminina indo ao extremo, com visível prazer, de encoxar e assim realizar os seus mais profanos devaneios.


Ainda nessa vertiginosa viagem, com destino previamente traçado, mas que pode ser subitamente alterado, por um tipoliça esfomeado, por uma paragem em sentido contrário repleta de potenciais clientes, por uma avaria ou pela incerteza que é a vida, um misto de adrenalina e medo transparece no semblante dos viajantes que, ao contrário da team que só pensa em chegar em primeiro ainda acreditam que « encher não é acomodar » e « correr não é chegar ». Chapa ntsém!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Estórias em Maputo (35)

Em Maputo, todo e qualquer tipo de evento, seja ele de alegria ou de tristeza, termina ou tem como etapa os comeretes e os beberetes. Com essa oportunidade, única para muitos alimentarem-se do bom e do melhor, em doses que o estomago aguenta, e do que raramente figura no cardápio caseiro, abre-se também uma porta para que muitos tirem disso outros mais proveitos.

Na cozinha, os cozinheiros e pseudo-ajudantes suprimem desde ingredientes crus à própria comida já confeccionada, incluíndo nesse pacote os respectivos recipientes, para a desgraça completa de seus proprietários. Os barmen também não poupam esforços : levam até rolhas extras para compensar no momento da contagem das garrafas consumidas.

Na cauda desta procissão, aparecem aqueles que, sob pretexto de que têm cães, recolhem restos de comida. O mais engraçado é que nas tais dog bag os alimentos são incrivelmente acondicionados faltando apenas etiquetas pois não dá para juntar "carne com mariscos porque o cão é alérgico" ou "carne com osso porque tenho cães que não comem ossos". Vê se pode !

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"'Stá" a bater!

O ano lectivo está prestes a terminar. Pelos corredores das escolas constata-se uma azáfama incomum.

Dum lado, encontram-se os professores numa correria contra o tempo; a regularizar testes dos alunos faltosos, elaborar pautas, aprender a trabalhar a todo custo com Excel, participar em conselhos de notas, afixar… e, do outro lado, como formigas atrás do açúcar, os alunos cobrem as salas dos professores e os cercam no estacionamento, nas paragens de chapa, nas portas das casas de banho, nas cantinas, nas barracas mais próximas. Tudo isso a procura de valores para passar de classe ou admitir ao exame.

Nos corredores, o cheiro de urina das toilettes foi substituído por feromonas das alunas, que circulam semi-nuas, com andares suaves, dançantes, sorrisos pálidos, prontas a negociar o seu néctar com os professores pobres em moralidade e de zipes menos seguros.

Paira no ar a luxúria, o negócio, a cumplicidade, o sexo implícito, que por momentos confunde-se com a zona quente. Nos corredores, ouvem-se ecos de risos de hienas. Nos rostos dos professores predadores, brilham olhos cristalinos, feito comerciantes prestes a consumar um negócio.

Bocas com cheiro de fome foram substituídas por arrotos de satisfação, de esperança. Afinal a profissão de professor tem lá alguns benefícios….Há alegria pelo merecido troféu que enfim vai chegar, para terminar a obra que só se move nos finais de semestre, para comprar um carro de segunda mão, um fato sonhado, colorir a mesa da família ou ser o “paga bem” na barraca da zona.

Paira injustiça nos corações dos alunos menos afortunados de corpo e agrados, pois mesmo tendo se esforçado, vão repetir o ano. Paira esperança nos olhos dos alunos afortunados, dos alunos mais queridos, que anseiam ter no ano que vem professores negociantes como os do presente ano…. E assim se faz o ensino….

Texto da autoria de F. E. Changule, in Facebook

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Estórias em Maputo (34)

As metamorfoses que correm na Grande Town, mesmo as de natural ou provocada degradação, parecem ocorrer com intuitos claramente definidos. Talvez pela dinâmica da economia do mercado, quando menos se espera, um espaço dedicado a determinada função sem aviso prévio muda de actividade, com todos os prejuízos que isso acarreta.

O mais agravante, dessas inesperadas mudanças, é que muitas vezes, já que quase todo tipo de compras, do mercado formal, se faz a base de depósitos, esses valores são perdidos dado que frequentemente os clientes não são previamente avisados e o negócio não é reposto noutro local (se o é, raramente há indicações de onde o procurar).

Algumas dessas metamorfoses, pertinentes reconheça-se, passam despercebidas. Contudo, há mudanças de magnitude tal que deixam em estado de choque os habitués dum espaço que, quando entram porta adentro, encontram outro cenário e outro leque de serviços completamente diferentes do procurado.

Por exemplo, as raízes duma das mais médiaticas flores de Maputo foram arrancadas a favor de mais um mealheiro, bem nas barbas de outros tantos. Onde foi replantada ? Para bom entendedor, meia palavra basta. Afinal, em Maputo, as coisas são assim mesmo, mudam "daqui pra qui"!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Estórias em Maputo (33)

Apos a abastança, resultado dos roubos de semana passada, consta que muitos maputenses, ladrões e consumidores dos produtos roubados, vêem-se a pega com os produtos fanados, particularmente nos contentores, cujos proprietarios são fatalmente estrangeiros africanos e que florescem a olhos vistos na periferia de Maputo.

Segundo vozes, que tudo dizem, no percurso dos chapas e nas conversas do momento, que são de rescaldo de todos os ângulos dos acontecimentos estão a acontecer coisas muito estranhas. Diz-se mesmo que muita gente esta a devolver a procedência tais produtos pois o seu consumo esta rodeado de factos sobrenaturais.

Por exemplo, se alguém pretende consumir um refrigerante, por mais que o beba, este nunca acaba. O arroz, grande vitima dos "manifestantes" ora não coze e, se coze, enche a panela até transbordar. Ha quem diga que ao abrir os sacos aparecem cobras... Vai-se la entender? De facto o crime não compensa!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Estórias em Maputo (32): Manifs et al.

É de conhecimento geral o momento de tensão que a Grande Town e seus arredores vivem nas últimas horas. Caracterizada por cenas de puro vandalismo da coisa pública e privada, barricadas nas vias públicas de maior circulação, destruição de bens alheios, corre-corre em fuga às balas de borracha disparadas por AK47, que resultaram em inúmeros feridos e mortos, Maputo literalmente parou.

No comércio formal as portas mantiveram-se fechadas e a ausência das bancas, do comércio informal, incaracterizaram ainda mais o fuzué habitual que é Maputo. Como consequência, há falta do básico pão, um dos motes da pseudo greve, e, naturalmente, de todos outros produtos de primeira necessidade.

As imagens trazidas pelos media e retratadas nas redes sociais e blogs, mostram o quão caótica é a situação em todas as dimensões. Muitos, como que a aproveitar o momento, para rechear a sua despensa até a crise passar, são vistos na posse de sacos de arroz, caixas de frango ou carapau, e outros bens de consumo. Engane-se quem assim pensa !

Há "manifestantes" que não perdem oportunidade e alargam os cordões da bolsa. Aproveitando-se da confusão, pilham bebidas e de produtos alimentares dos contentores-loja, que florescem nesses locais e revendem-nos a metade do preço ou muito menos, seguramente, ao preço no qual gostariam de ser eles mesmo a comprar. Afinal não é essa a razão da confusão ?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Estórias em Maputo (31)

Mulheres de coragem hérculea há que, por receio de explusão dos pais, por recusa de paternidade ou conselho dos parceiros, por adultério ou por mero capricho, não hesitam em perfurar seus próprios úteros com agulha de tricot, engolir substâncias tóxicas, tomar cocktails de medicamentos ou aplicar, nos orgãos genitais, mistelas de raízes, folhas e outras substâncias estranhas com a firme intenção de provocar um aborto.

Número considerável, sobretudo de jovens-adolescentes, dirigi-se às unidades hospitalares que, com o firme propósito de evitar óbitos e outras sequelas de práticas incorrectas, consente esta prática mediante motivação convenientemente justificada. No entanto, há moçoilas que, como modus vivendi, vão "binando" senão mesmo "trinando", pelo que, com tal dossier, não mais podem recorrer às unidades sanitárias.

Aconselhadas por pessoas de má fé, habilitadas em domínios básicos de saúde, e que fazem disso uma fonte de rendimento, dirigem-se as farmácias e adquirem, à porta de cavalo, medicamentos que provocam contrações que levam ao aborto. Alguns desses indivíduos, sequer se dignam em requerer exames prévios para diagnosticar alguma maleita que se possa agravar com a provocação do aborto : vale tudo.

Se antes localizavam-se em zonas recôndidas, depois, com o advento das "maclinicas", na periferia da cidade, actualmente, com o gritante aumento de procura, desse tipo de serviços, as "clínicas" estabelecem-se, sob olhar impávido e sereno de seus moradores, em prédios residenciais da Grande Town. Evidentemente, esse tipo de "clinica" serve a um elitizado grupo de patricinhas que, afinal, também "brinca de mamã e papá".

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Estórias em Maputo (30)

A principio pequenos, insignificantes, quase que invisíveis, com o desenvolvimento da Grande Town, que ao mesmo ritmo se degrada, um contigente de seres nojentos, por todos ignorados, metamorfosea-se e, tal como muitos maputenses, multiplica-se e vive tranquilamente sem cumprir nenhuma postura camarária.

Senhores absolutos do subsolo de Maputo, os ratos ou melhor as ratazanas, alimentados pelo descaso dos legítimos habitantes desta terra, são talvez, nestes tempos de apertar mais um pouco o cinto, os únicos "citadinos" que, sem reclamar, engordam a olhos vistos.

Fossas cépticas rebentadas ou entupidas, dejectos a rolar pela cidade abaixo, lixo por tudo quanto é lado, tanto no interior como no exterior dos edificios e habitações que engalam Maputo, negligência dos citadinos e de "quem de direito", as condições para que esta população reine e impere, estão completamente garantidas.

Eleitos como cobaias, em centros de pesquisa, pela similaridade,em muitos aspectos com o ser humano, a convivência com estes seres asquerosos é prejudicial para a saúde humana pois estes são portadores de doenças transmissíveis ao Homem como, seja o Diabo surdo e mudo, a peste bubônica.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Estórias em Maputo (29)

Policia-ladrão, neca, matocozana, saltar a corda ou elástico, dançar xitsuketa, pimpar, cochê, papa-mamã, futebol, zhoto, cheia, bi-johnson, rolamento, carinhos de arame, nomes-terra, xtrês, berlindes, xinguerenguere, fisgas ou n’diokas … foram intrumentos ou brincadeiras de criança que marcaram gerações que, com nostalgia e pesar, não vêem os putos de hoje a imitarem-lhes brincadeiras tão divertidas, intrutivas e… de crianças.

As crianças de hoje não podem jogar bola nas ruas ou calçadas de Maputo tal como era nos times. Verdade é que jogar a bola na rua é um risco, mas, nem nos passeios nem quintais lá dos bairros é possivel. Se não é porque os passeios estão levantados, é porque a fossa rebentou. Se não é por essa razão, é porque os carros tanto estão no asfalto, no passeio como nos quintais e em números assustadores.

Os campinhos de futebol transformaram-se em dumbas. Os jardins públicos perderam o encanto : os seus parques apresentam esqueletos de baloiços ou de escorregas e transformaram-se em covis de marginais. A Feira, outro espaço de lazer infantil, guardou brinquedos cujos valores tornam-nos acessiveis para meninos com parentes com alguma posse.

As salas de cinema, que não davam espaço para a pirataria, sofreram mutações : templos religiosos ou centros culturais, em nada relembram a época em que todos gritavam, ao som do ruidoso, ritmado e emotivo bater do soalho, "Rússia, Rússia, Rússia…" ou "artista, artista, artista…". Ah, e no intervalo os pirulitos e os noguetes, adoçavam a festa. Ainda há dúvidas ? Já não há crianças à moda antiga !

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Estórias em Maputo (28)

Hoje, para a alegria de muitos, os locais que oferecem refeições, sobretudo a hora do almoço, período em que grande parte das pessoas se encontra distante de suas residências, já não se limitam apenas aos restaurantes que, muitas vezes, cobram valores que correspondem ao rancho de muitos moçambicanos.

Assim, em roulottes, barracas de mercados formais e informais, casas de particulares, bares de classe média e em passeios da Grande Town, para além dos serviços à domicilio, é possível encontrar uma refeição quente, morna ou fria com preço à medida das possibilidades dos diferentes bolsos.

Contudo, muitos aproveitam-se dos inúmeros eventos organizados por entidades várias como seminários, workshops, reuniões ou conselhos coordenadores para garantirem o matabicho, almoço e lanche e se "bobear" organizar uma marmita para a familia "lá em casa".

Tal facto é notório pois, nas plenárias, nos debate e nos trabalhos em grupo, grande parte dos participantes se encontra ausente. Mas, tendo estes conhecimento prévio do programa de actividades e, consequentemente, dos períodos das refeições ninguém se atrasa na hora do "tacho".

Se por um lado estão os convidados ao evento, que se ausentam da plenária e se fazem presentes a "hora do rango", a sala de refeições apresenta-se um outro grupo : o dos não-convidados que, para variar, é o primeiro a servir-se, o que obviamente deixa em prejuízo aqueles que efectivamente participam nos eventos.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Estórias em Maputo (27)

Na cidade das acácias rubras, em irreversível decadência, o adágio quem não deve não teme parece ter evoluído para outro significado pois ocorre um fenómeno curioso: os cidadãos pacatos por não terem meios para "se desculpar", entenda-se de subornar, receam a polícia, seja ela de protecção ou de trânsito, mesmo estando em situação regular.

Suspeitos, geralmente pelo aspecto que apresentam e pelo que consigo trazem (sacolas, caixas, etc.), muitos maputenses e, eventualmente muitos outros moçambicanos e estrangeiros, em outras paragens, são preferencais alvos à abater. Com ou sem a mão na massa, rarissímas vezes os suspeitos são encaminhados à esquadra. O assunto é "julgado" nesse mesmo local ou a poucos metros do mesmo se houver curiosos mirones.

O mais evidente é o beat entre chapeiros e policia municipal que só não é desmantelado por má vontade do tal de "quem de direito"! Os municipalitos, que usa a mesma técnica que os policias de trânsito, mandam os chapeiros pararem e solicitam a apresentação da documentação. Como sistematicamente os chapeiros estão em falta, zás, logo logo "prendem os documentos".

Como os chapeiros há muito alimentam esse círculo, quando indicados a parar, num road block, estacionam a alguns metros dos policias e a eles dirigem-se com os documentos, no meio dos quais há sempre um cash. Caso contrário, deixam os documentos e, na viagem de volta, "mimam" o policia que fecha os olhos a um número assustador de irregularidades.

O que mais enerva é assistir a esse espectáculo gratuito, de categoria inqualificável, no qual os tipoliça, achando-se as últimas bolachas do pacote, sujeitam-se a uns míseros 50 paus "porque só entramos agora na praça, chefe" e são alvo de chacota geral dos passageiros e da team do chapa que se vangloria de ter pago umas quinhentas. Epa, policias pah !

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Golpe das batatas ?

Recentemente, na companhia de uma colega de trabalho, decidimo-nos pelo que habitualmente fazemos questão de manter certa distância : o fast-food.

Decisão tomada, sem nenhum remorso, empolgadas encaminhamo-nos ao espaço defronte da clinica ao Banco de Socorros da maior unidade sanitária do país. Chegadas ao local, pouco concorrido pela hora, 15 e picos, escolhemos o que nos se afigurava a melhor opção. Para o nosso espanto, para além da dose habitual de dois pedaços de frango foi-nos servido conjuntamente, para cada uma, sete (7) tiras de batata frita.

Antigas habituées do espaço, por inerência das funções maternalistas, em que viamos um embutimento de batatas fritas, solicitamos que nos fosse servido uma porção maior de batata, ao menos como se apresenta nos menus colados às paredes do espaço. O servente respondeu-nos que só podia servir essa quantidade (7 finas tiras de batata) por ordem do patrão e/ou gerente.

Prontamente, mas a jeito de brincadeira, manifestamos o nosso desacordo e reivindicamos uma refeição digna de pessoas adultas e famintas. O servente recusou alegando que mensalmente lhes era cortado o ordenado por servirem grandes porções de batata. De seguida, aproximou-se uma outra servente e prôpos que comprassemos uma dose extra de batata frita.

Imediatamente questionamos se essa porção extra também era composta por 7 magras tiras de batata frita… Nem esperamos pela resposta, alvitradas, batemos em retirada por acharmos injusto que se cobre por um serviço que não é condignamente honesto e nos questionamos se de facto essa directriz é válida ou se os serventes armaram o golpe das batatas para sairem a lucrar mais algum.

Na nossa perspectiva, o golpe seria simples : coloca-se pouca batata nas refeições acompanhadas com batata e, com o remanescente, criam-se pacotes extras cujo valor, seguramente, não dá entrada na caixa…

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Estórias em Maputo (26)

Um dos adágios populares, que melhor caracteriza um número considerável de maputenses, é “cabrito come onde está amarrado”. Não se engane pensando que o adágio é somente estampa dos corruptos ! Não corruptos, que se servem da máxima ao pé da letra, também ganham dividendos com a apropriação desse dito popular.

Aliado a isso, o impacto do slogan que mostra e demonstra que, para se sair da pobreza, que graça muitos compatriotas, o empreendedorismo "é a ferramenta", o enlance com o ditado cabrital é quase perfeito. Esse casamento vinga em repartições públicas que acolhem um número significativo de utentes, como centros de saúde e conservatórias de registo diverso.

Nesses e em outros locais de serviço público, funcionários com tarefas específicas, como por exemplo, de secretária ou de limpeza, trazem de suas casas bens de consumo imediato (bolinhos, pão com manteiga, sumos diluídos, água engarrafada, etc.) e, ao invés de executarem as suas tarefas primeiras, dedicam-se, em primeiro plano à venda desses produtos.

Subtilmente, percebe-se que quem não compra não é proporcionalmente atendido, criando assim um círculo vicioso. Como consequência, todo o trabalho atrasa-se e, no que tange particularmente aos sanitários, estes apresentam-se inadequados para o seu uso e o cheiro exalado é deveras incómodo para todos.