segunda-feira, 26 de julho de 2010

Estórias em Maputo (28)

Hoje, para a alegria de muitos, os locais que oferecem refeições, sobretudo a hora do almoço, período em que grande parte das pessoas se encontra distante de suas residências, já não se limitam apenas aos restaurantes que, muitas vezes, cobram valores que correspondem ao rancho de muitos moçambicanos.

Assim, em roulottes, barracas de mercados formais e informais, casas de particulares, bares de classe média e em passeios da Grande Town, para além dos serviços à domicilio, é possível encontrar uma refeição quente, morna ou fria com preço à medida das possibilidades dos diferentes bolsos.

Contudo, muitos aproveitam-se dos inúmeros eventos organizados por entidades várias como seminários, workshops, reuniões ou conselhos coordenadores para garantirem o matabicho, almoço e lanche e se "bobear" organizar uma marmita para a familia "lá em casa".

Tal facto é notório pois, nas plenárias, nos debate e nos trabalhos em grupo, grande parte dos participantes se encontra ausente. Mas, tendo estes conhecimento prévio do programa de actividades e, consequentemente, dos períodos das refeições ninguém se atrasa na hora do "tacho".

Se por um lado estão os convidados ao evento, que se ausentam da plenária e se fazem presentes a "hora do rango", a sala de refeições apresenta-se um outro grupo : o dos não-convidados que, para variar, é o primeiro a servir-se, o que obviamente deixa em prejuízo aqueles que efectivamente participam nos eventos.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Estórias em Maputo (27)

Na cidade das acácias rubras, em irreversível decadência, o adágio quem não deve não teme parece ter evoluído para outro significado pois ocorre um fenómeno curioso: os cidadãos pacatos por não terem meios para "se desculpar", entenda-se de subornar, receam a polícia, seja ela de protecção ou de trânsito, mesmo estando em situação regular.

Suspeitos, geralmente pelo aspecto que apresentam e pelo que consigo trazem (sacolas, caixas, etc.), muitos maputenses e, eventualmente muitos outros moçambicanos e estrangeiros, em outras paragens, são preferencais alvos à abater. Com ou sem a mão na massa, rarissímas vezes os suspeitos são encaminhados à esquadra. O assunto é "julgado" nesse mesmo local ou a poucos metros do mesmo se houver curiosos mirones.

O mais evidente é o beat entre chapeiros e policia municipal que só não é desmantelado por má vontade do tal de "quem de direito"! Os municipalitos, que usa a mesma técnica que os policias de trânsito, mandam os chapeiros pararem e solicitam a apresentação da documentação. Como sistematicamente os chapeiros estão em falta, zás, logo logo "prendem os documentos".

Como os chapeiros há muito alimentam esse círculo, quando indicados a parar, num road block, estacionam a alguns metros dos policias e a eles dirigem-se com os documentos, no meio dos quais há sempre um cash. Caso contrário, deixam os documentos e, na viagem de volta, "mimam" o policia que fecha os olhos a um número assustador de irregularidades.

O que mais enerva é assistir a esse espectáculo gratuito, de categoria inqualificável, no qual os tipoliça, achando-se as últimas bolachas do pacote, sujeitam-se a uns míseros 50 paus "porque só entramos agora na praça, chefe" e são alvo de chacota geral dos passageiros e da team do chapa que se vangloria de ter pago umas quinhentas. Epa, policias pah !

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Golpe das batatas ?

Recentemente, na companhia de uma colega de trabalho, decidimo-nos pelo que habitualmente fazemos questão de manter certa distância : o fast-food.

Decisão tomada, sem nenhum remorso, empolgadas encaminhamo-nos ao espaço defronte da clinica ao Banco de Socorros da maior unidade sanitária do país. Chegadas ao local, pouco concorrido pela hora, 15 e picos, escolhemos o que nos se afigurava a melhor opção. Para o nosso espanto, para além da dose habitual de dois pedaços de frango foi-nos servido conjuntamente, para cada uma, sete (7) tiras de batata frita.

Antigas habituées do espaço, por inerência das funções maternalistas, em que viamos um embutimento de batatas fritas, solicitamos que nos fosse servido uma porção maior de batata, ao menos como se apresenta nos menus colados às paredes do espaço. O servente respondeu-nos que só podia servir essa quantidade (7 finas tiras de batata) por ordem do patrão e/ou gerente.

Prontamente, mas a jeito de brincadeira, manifestamos o nosso desacordo e reivindicamos uma refeição digna de pessoas adultas e famintas. O servente recusou alegando que mensalmente lhes era cortado o ordenado por servirem grandes porções de batata. De seguida, aproximou-se uma outra servente e prôpos que comprassemos uma dose extra de batata frita.

Imediatamente questionamos se essa porção extra também era composta por 7 magras tiras de batata frita… Nem esperamos pela resposta, alvitradas, batemos em retirada por acharmos injusto que se cobre por um serviço que não é condignamente honesto e nos questionamos se de facto essa directriz é válida ou se os serventes armaram o golpe das batatas para sairem a lucrar mais algum.

Na nossa perspectiva, o golpe seria simples : coloca-se pouca batata nas refeições acompanhadas com batata e, com o remanescente, criam-se pacotes extras cujo valor, seguramente, não dá entrada na caixa…

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Estórias em Maputo (26)

Um dos adágios populares, que melhor caracteriza um número considerável de maputenses, é “cabrito come onde está amarrado”. Não se engane pensando que o adágio é somente estampa dos corruptos ! Não corruptos, que se servem da máxima ao pé da letra, também ganham dividendos com a apropriação desse dito popular.

Aliado a isso, o impacto do slogan que mostra e demonstra que, para se sair da pobreza, que graça muitos compatriotas, o empreendedorismo "é a ferramenta", o enlance com o ditado cabrital é quase perfeito. Esse casamento vinga em repartições públicas que acolhem um número significativo de utentes, como centros de saúde e conservatórias de registo diverso.

Nesses e em outros locais de serviço público, funcionários com tarefas específicas, como por exemplo, de secretária ou de limpeza, trazem de suas casas bens de consumo imediato (bolinhos, pão com manteiga, sumos diluídos, água engarrafada, etc.) e, ao invés de executarem as suas tarefas primeiras, dedicam-se, em primeiro plano à venda desses produtos.

Subtilmente, percebe-se que quem não compra não é proporcionalmente atendido, criando assim um círculo vicioso. Como consequência, todo o trabalho atrasa-se e, no que tange particularmente aos sanitários, estes apresentam-se inadequados para o seu uso e o cheiro exalado é deveras incómodo para todos.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Estórias em Maputo (25)

Durante muito tempo, os cânticos da igreja foram entoados com o apoio de livros de cântico. Por força da frequência das repetições, muitos desses cânticos foram decorados. Com o passar do tempo, por força do uso, muitos desses livros foram-se desfazendo e, verdade seja dita, alguns roubados.

Com o evoluir da tecnologia, para cada missa, em função do repertório escolhido, faziam-se fotocópias. A estratégia parece não ter funcionado a contento, para muitas igrejas, posto que exigia número elevado de exemplares, logo valores, para o número de cantantes que nos dias de culto em massa se dirige às igrejas.

Na procura de soluções, algumas igrejas preferiram investir forte e feio e preferiram dotar-se de meios tecnológicos para resolver a questão das letras dos cânticos. Ora, apetrechadas com data show, algumas igrejas não só resolveram o primeiro problema como tornaram a missa num show de talentos gospel com a adoptação do karaoke!