terça-feira, 1 de março de 2011

Estórias em Maputo (39)

Decidamente os guindzas estão por todo o lado e já nem aguardam a oportunidade: fazem-na! Como consequência, grades de ferro preenchem varandas do primeiro ao mais elevado andar de grande parte dos edificios da Grande Town. Barracas, quiosques e até as pequenas bancas, existentes nas ruas, são blindadas com a intenção de complicar a tarefa dos temidos visitantes do alheio. Hoje, prevenção é palavra de ordem mesmo que isso signifique bloquear acessos secundários tão necessários em momentos de aflição como os incêndios.

Contudo, a necessidade de segurança ultrapassa o âmbito domiciliar e/ou empresarial. Estar na rua, é um risco. Quer seja em viatura própria ou em transportes públicos ou privados : guindza pode ser o dissimulado mendigo, que no semáforo, pede esmola ou o moço que, na gentileza da cedência duma cadeira, subtrai a carteira ou qualquer outro objecto que a sua mão sorrateira consegue alcançar. Em momento algum o cidadão se pode distrair pois o inimigo já não se veste de lobo, muito pelo contrário.

Vestidos adequadamente ao meio em que actuam, por exemplo, clássico, para o golpe em ambientes de negócios ou com fardamento, para o ambiente escolar, para além das habilidades de subtração do alheio, os guindzas de hoje têm tacto e destreza na língua. Muitas vezes, as suas vitimas são vitimadas mais pela lábia do que pelo gesto de subtração apesar de que tudo vai dar ao mesmo.

Os guindzas de hoje são tão elegantes quanto gentis : aconselham no acto de compra, ajudam a carregar as compras e acompanham o encantado cliente por tamanha prestatividade a preço duns miseros trocados. Ainda sob efeito do encantamento, na porta da viatura, nas escadas ou à porta de casa, revelam o seu verdadeiro Eu e, lamentavelmente, apenas eles saiem no lucro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ao que chegamos, minha amiga...
Este panorama é mesmo assustador; pode pagar o justo pelo pecador.
Maria Helena

Ximbitane disse...

Pois é, Maria Helena, minha amiga