quinta-feira, 19 de junho de 2008

VIP's dos chapas

Desde que no sector público o horário de trabalho é das 7h30 às 15h30 curiosos fenómenos ocorrem na nossa sociedade. A hora de ponta, é difícil de determinar pois as vias são inundadas por um mar de gente e pelo fluxo de carros por longos períodos de tempo. Isto se nos lembrarmos que há quem termine a jornada laboral entre as 17 e 18horas, e que o comércio que vai até as 19, e, em alguns lugares até mais tarde.

Tenho o privilégio de poder estar fatalmente na zona nobre e maldita da Polana Cimento, mais conhecida por Museu, por inerência da proximidade com o Museu de História Natural. Sim, na zona da terminal de chapas, das barracas, da (escola) Josina Machel, da (escola) Comercial, das Torres Vermelhas e da emblemática Ponta Vermelha.

Mas não é sobre alguns dos chef d’oeuvre da zona que me quero referir, mas sim ao terrível e penoso trabalho que é “apanhar” um chapa para casa nas horas de ponta ou nesse suposto periodo após um dia cansativo de labuta.

Não sei de quem foi a ideia, mas a iniciativa é de louvar, as terminais de chapa por zona, foram afastadas das fronteiras escolares, por sinal, vizinhas (Josina Machel e Comercial), se bem que a Comercial ressente-se a duplicar desse facto (todos chapas aglomeraram-se nas suas barbas, autocarros dos TPM incluídos).

Feliz ou infelizmente, alguns dos chapas, sobretudo os da rota da Matola, apostaram em instalar-se na avenida 24 de Julho, quase em frente a um restaurante emblemático e de digna referência. Também não é sobre isso que pretendo falar e sim sobre o longo período de espera que se perde na paragem, por sinal a primeira, por ser terminal.

Calma, também não é sobre isso que quero falar, isso é normal, como se diz vulgarmente. Pretendo é chamar atenção para as anormalidades (?) que ocorrem nas paragens. Não é nada sobre carteiristas, “bolsistas”, “celulistas” e outras queixinhas que costuma ver ou ouvir falar, ou que até sentiu na pele: é sobre as estudantes das escolas acima referidas que pretendo questionar.

Os chapas da rota da Matola, famosos Teniesse, de 15 lugares, dão o seu show na hora de ponta. Enquanto que uns batalham por um lugar na parte de trás do chapa, outros há que com agilidade disputam os 2 lugares da frente. Qual não é o espanto dos ágeis “pugilistas chapais” da parte frontal?

Os lugares da frente estão reservados a VIP’s que são nada mais nem nada menos do que as estudantes das escolas das redondezas! Sei que alguns operadores privados envolveram-se em chorudos negócios que consistem no transporte de crianças de e para as escolas. Iniciativa louvável, se fecharmos os olhos para o preço proibitivo e bofetadas para o Governo, que não condiciona o transporte escolar.

Mas, voltando à vaca fria: qual será o preço do privilégio de que gozam algumas das raparigas estudantes nos chapas? O mesmo que um Zé Ninguém desembolsa (7,5 Mt) pela mesma corrida? Se assim é, porque têm elas direito de não suar na luta pelos chapas? Porque os lugares são reservados para jovens com capacidades para viajarem desconfortavelmente em detrimento de mulheres grávidas, deficientes e idosos? E, porque só com as raparigas?

6 comentários:

Jorge Saiete disse...

Elas têem esses previlegios e pagam com os seus corpos e ajudam a propagar SIDA, a prostituição, a nascer meninos da e na rua e sobretudo a promover a pobreza absoluta.

AGRY disse...

Mas são crianças ou quase, não?
Teremos o direito de imputar unilateralmente responsabilidades?
A sociedade demite-se ? Os pais, os educadores, o Estado ficam à margem?
O dedo acusador talvez não seja a melhor solução. Será a mais cómoda. Aquela que nos permite, talvez, dormir em paz com a nossa consciência.
Não Jorge Saiete. Desta não posso concordar contigo
Abraço

Jorge Saiete disse...

Agry,
debate é isso mesmo, concordar e dscordar. Mas o que eu disse é baseado em factos daqui da perola do indico. Há que sublinhar que muitas dessas raparigas não são crianças mas sim, jovens acima dos 17 anos. Aqui há relatos vivos de muitos que se aproveitam do desespero dessas raparigas. Cá entre nós chapa é coisa de luxo e gente sem escrupulo usa-o para caprichos pessoais.

Agry, há coisas que não podemos nos referir aqui com os detalhes necessários, apenas dizer que, muitas dessas raparigas vivem na periferia da cidade de maputo ou na Matola e essas são zonas com problemas sérios de transporte e para ter esse problema minimizado, vários esquemas são montados. eu vivo num bairro novo da cidade de matola (os chamados bairros de expansão) e lá temos problemas gritantes de transporte e ai é que é facil ver o que é relatado neste post.

Abraço

Ximbitane disse...

Obrigado Saiete, por reconheceres e demonstrares que o que apresento é real e muito, apesar de ser triste.

Não duvido muito que as raparigas vendem os seus proprios corpos a troco desses lugares. O que elas nao sabem ou disso não estão conscientes, é que os chapas não são dos motoristas...

Ximbitane disse...

Abaixo dos 18 anos, Agry? São crianças que mal sairam dos cueiros com corpos de femme fatale!

Bom, longe de mim imputar responsabilidades a sicrano ou beltrano, a minha intenção unica era de chamar atenção a este fenomeno na esperança de que se tomem medidas para os evitarem.

Como bem digo no artigo, grande parte de responsabilidade é do Governo. Se houvesse o transporte escolar e/ou escolas nas zonas residencias, sobretudo nos bairros em expansao, isto não aconteceria. A vontade dos seus pais é que os filhos se formem e para tal eles devem ir a escola.

Acredito que muitos dos pais nem sequer sabem do que esta a acontecer com as suas filhas pois da paragem ou terminal de suas casas, são outros quinhentos.

Bayano Valy disse...

interessante mesmo. também notei esse facto (porquê não dizer fenómeno?) agora ocorre-me que em tempos falávamos muito das notas de transmissão sexual nas escolas, onde professores apenas passavam as que aceitavam uns momentos de prazer obrigado. triste a sina da mulher. que arranjos terão elas com os cobradores e motoristas? financeiro ou sexual? se sexual, há protecção?