sexta-feira, 21 de março de 2008

Lady capulana

Capulana, mukhume,
Xivite xa vovo, Minhembeti wa Maria, Xirozana
Tantos apelidos pra ti, Lady capulana!
Um pano rectangular de algodão ou de fibras sintéticas
Rica em cores vibrantes, motivos florais, animais, abstractos, reais
És rainha na vida da mulher
Desde tenra idade, meninice, adolescência, juventude, a acompanhas
Com ela vais crescendo, aprendendo, vivendo e sofrendo

Cingida a cintura, és testemunha impávida e serena
Do despontar dos seios da pequena Elisa
Serves de penso higiénico das suas regras
Cobres o sorriso envergonhado e tímido da jovem adolescente
Observas, como só tu sabes
O abraço ladrão do jovem Romão
Os beijos molhados
As carícias ousadas e atrevidas
Enxugas o sangue do romper do seu virgem hímen

Soberana, acompanhas a mulher pela caminhada da vida
Ao longe ouvem-se nkulungwanas!
_ É a família Zitha chegando! Vem roubar a nossa Elisa!
As mamanas cantando rebolam e remexem as bundas ao som de cânticos alegres
Vermelho, rosa, amarelo, um arco-íris amarrado nas cinturas esbeltas e rechonchudas
Lá estas tu, lady capulana!
_ Que venha a mamana Teresa!
Enrolada no corpo roliço da comadre desfilas e todas outras comadres invejam
És bênção que reconforta o coração da mãe que sua menina vai perder.

_ Hululululu! Lililililliiiiii…
Mais nkulungwanas ecoam pelo quintal!
As mamanas da cozinha suadas e sorridentes vem espreitar curiosas
No muro de espinhosa, aglomeram-se outros tantos curiosos
Raparigas de capulana desbotadas pelo sabão bingo, rapazes de barba incipiente
As fofoqueiras da zona, todos, todos querem ver o cortejo da boda
Aos ombros da família Zitha sai o baú da recém-casada repleto de capulanas
_ Hululululu! Lililililliiiiii…
A família rodeia Elisa que cabisbaixa, parte para seu novo lar
Seu vestido de batik rosa arranca elogios, que galante estás, lady capulana!

Esticas-te para albergares o ventre redondo de Elisa que amadurece lentamente
Logo no parto, acolhes o recém-nascido
Serves de fralda, de toalha, de lençol do novo rebento dos Zitha’s
Feita insingo, seguras firme o pequeno traquina no regaço da nova mamã
Proteges o petiz adormecido da orvalhada fresca da manhã
Cobres-o dos raios do sol picante do meio-dia
No regresso a casa, escondes seus olhos inocentes dos segredos da noite escura
Suada e cansada, enxugas suas lágrimas de dor, de alegria de ser mulher
Com ela embalas o primeiro filho e todos os demais que ela pare.

_ Nhandayeyo! Faleceu o cunhado Siza, irmão do papá!
As correrias, mala para que te quero
Aos prantos, Elisa arranca-te do baú Xivite xa uthomi que ajusta bem a cintura
Num zás trás, o pequeno Félix é arrancado do chão e amarrado pelo insingo
O xidjumba arrumado as pressas é posto na cabeça, a cubata fechada violentamente
_ Vamos mamã Celina!
No quintal do tio Siza, lá estas tu capulana
Apagada e lúgubre, enxugas as lágrimas teimosas que rolam pelas faces
Uma tia atenta cobre o defunto com uma capulana ancestral
Oh lady, viraste mortalha!

Capulana, capulana
És nobre, és rainha, és linda
Na mala, no baú, na carteira, amarrada à cintura
Na alegria, na saúde, na doença, na morte
Majestosa, sempre dizes presente
És objecto de juras de amor eterno
Das grandes damas da sociedade
Das mamanas dos dumba-nengues
Tu és e sempre serás uma lady, a lady capulana!

2 comentários:

OFICINA PONTO E VIRGULA disse...

Aqui passei, mas voltarei.
Interessante.

Ximbitane disse...

Agradeço o calor da sua visita!