sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Standlândia

Que Maputo se transformou, sobretudo para quem vive e passa frequentemente por esta cidade, não há sombra de dúvidas. Para bem dizer, na cidade de Maputo, em termos de número, parece haver mais stands de venda de carros do que escolas. Isso talvez justifique os 35 000 veiculos que atravessam diariamente a Portagem de Maputo e só nas horas de ponta.

Por exemplo, na Av. Marien N’Guabi, Av. De Angola, Av. Guerra Popular e Av. 24 de Julho, há entre 4 e 7 stands de vendas de viaturas. Na Av. 25 de Setembro, na Av. Amilcar Cabral, na Av. Vladimir Lenine, há outros tantos (entre 2 e 4). Nessas mesmas avenidas há, na Av. Marien N’Guabi 2 escolas, na Av. De Angola também 2, na Guerra Popular idem e aspas e 4 na Av. 24 de Julho (escolas ou centros de formaçäo de referencia).

Pode-se constatar, portanto, que em Maputo vende-se carro como se vendem tangerinas em Julho, amendoim torrado todos os dias e badjias frias à porta da padaria. O mais engraçado é que esses stands, tal como cogumelos selvagens ou cacana, que melhor germina em meio inapropriado para algo que se consome (latrinas), nascem e crescem em espaços täo microscópicos que as manobras säo feitas, seguramente, com uma fita métrica.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Estórias de Maputo (5)

Diz, quem está atento, que tudo se complicou quando Moçambique foi abalado pela guerra civil (?) que em nome da democracia (?) devastou todo o país. Com essa guerra, a procura de locais seguros levou a que muita gente se preocupasse em procurar segurança em casa de familiares que viviam nas grandes cidades.

As consequências dessa procura, não se fizeram tardar: superpovoada a cidade rebentou as costuras! Ao saltarem as linhas dessa costura, rebentaram-se fossas e as casas, preparadas para acolher determinado número de habitantes, começaram a acolher o dobro, o triplo e até o quadrúplo de habitantes no mesmo espaço.

Algumas pessoas, que não tinham familiares ou cujos familiares não os podiam acolher, construíram casas "à rasca" em locais inadequados para a contrução e habitação por não reunirem condições adequadas de saneamento como, por exemplo, nas duas margens do troço entre a antiga Maquinag (hoje ISDB) e a portagem de Maputo.

Na cidade de pedra, posto que algumas casas dispunham de cómodos extras para arrumos (dependências e caves) estes serviram de local de habitação. Felizmente, com o advento da paz, criaram-se condições para que cada um retornasse ao seu local de origem e alguns assim o fizeram mas, um número significativo persistiu e insistiu em viver na town.

Alguns, mais moralizados com a paz, enveredaram pela auto-construção e com isso nasceram novos bairros residenciais, alargando o território da Grande Maputo. Outros houve também que, com espirito empreendedor, enveredaram pelo mesmo caminho, deixando as suas casas da town arrendadas ou fazendo o inverso.

Na town, a bulha por um tecto continua. Visto que muitas dependências, conhecidas como "depes", são microscópicas, pois albergam famílias inteiras, os citadinos começaram a transformá-las aumentando cómodos. Mesmo em terraços, onde as depes formam-se pelo caimento do tecto, sob risco de desabarem, ocorrem transformações que as tornam flats e as valorizam no mercado imobiliário.

Também nos bairros da periferia, as depes são um negócio em alta! Se antigamente casas com quintais enormes eram admirados, hoje admiram-se as casas com maior número de dependências nos seus fundos. Bem feitas as contas, depe ou flat, humanamente modificada, o mais importante mesmo é viver na Grande town!