segunda-feira, 31 de março de 2008

Musas prostituidas

Nos últimos debates, na blogosfera, nos escritórios, cafés e lugares afins, muito se tem falado do Ziquismo, Fenómeno Ziqo ou seja da nova vaga de músicos moçambicanos pandza-dzukuteiros. Alguns, os defensores, dizem que ao menos a batida é boa (e é mesmo!) e outros, evidentemente os do contra, vão pela ladainha que já conhecemos e muito discutimos, por exemplo, na Oficina Ponto e Virgula e no Meu Mundo.

Tendo notado que nos debates acima citados pouco ou quase nada se falou doutros aspectos que circulam na esfera deste Fenómeno, refiro-me concretamente as donzelas (?) de curvas harmoniosas que se bamboleiam lascivamente nos
video-clips, encobertas por minúsculos retalhos de tecido onde quanto maior é o bambolear maior é a exposição ao “xilhamalisso”.

Paradoxalmente, os músicos não raras vezes, em fabulosos cenários de verão (digno das estrelas de Hollywood, afinal “Moçambique está sempre a subir”!) , na beira-mar ou mesmo em alto-mar (com direito a iates de sonho), apresentam-se vestidos com traje de Inverno: botas, casacos de cabedal, gorros e até cachecol. Um contraste verdadeiro à la mozambicaine!

Estas imaturas raparigas, que se alegram por terem (ainda) “tudo no devido lugar”, deixam-se aliciar por 1 minuto de fama ou por um punhado de meticais suficientes apenas para comprar um par de jeans txuna-baby, são musas prostituídas.

Corrompidas pelo piscar das luzes da ribalta, pelos sonhos de hoje (certamente pesadelos do amanhã), estas damas, não tem noção do quanto se expõe e que nada e nem ninguém salvaguarda(ra) seus direitos (períodos longos de exposição da sua imagem) pois não há contratos, tudo é na base da vontade e do momento.

Quo vadis jovem mulher moçambicana?

sexta-feira, 28 de março de 2008

Fora da mira

Rios de dinheiro são gastos em campanhas visando combater a doença do século, mas aparentemente os efeitos só se fazem sentir nos bolsos fundos dos que estão a frente de tais campanhas. Os números falam por si:

- Taxa de prevalência do HIV/Sida na província de Maputo: 2001: 16%, 2002: 18%, 2004: 20.7%, 2007: 26%!

- Taxa de prevalência por zonas a nível do país: Zona Sul: 21%, Zona Centro: 18%, Zona Norte: 9% e a Nível Nacional: 16%!

- Até ao ano de 2006 estimava-se em 500 novas infecções por dia em todo o país. Em 2007 estimou-se que cerca de 1.6 milhões de pessoas viviam com o vírus HIV, podendo em 2010 aumentar para 1.9 milhões de pessoas!!!

Dentro desta estatística, estão certamente incluídos alguns excluidos das campanhas de publicidade, que no entanto tem uma vida sexual activa ou expõem-se a infecções por desconhecimento, os portadores de deficiência (invisuais e surdos/mudos) e idosos, pois a sua vida não acaba com a reforma no trabalho e/ou na menopausa.

Pelo que noto, até ao presente, as campanhas tem sido a favor da prevenção entre jovens “normais” onde se promove o uso do preservativo e/ou à abstinência sexual. De prevenção inclusiva (que abrange todos grupos sociais) e prevenção positiva (para os infectados, sobretudo nesta altura em que os hospitais-dia, que promoviam palestras nesse sentido encerram às catadupas) pouco ou nada se vê.

Urgem, portanto, campanhas de sensibilização e combate a pandemia do século que incluam toda uma Nação sem exclusão de pessoas que aos olhos da lei estão cobertas pelos mesmos direitos e deveres de qualquer cidadão moçambicano.


Fonte: Relatório do Núcleo Provincial de Prevenção e Combate ao Sida de Maputo e Relatório das Nações Unidas sobre HIV/Sida, Sessão Especial de Janeiro de 2008

terça-feira, 25 de março de 2008

Unhas lascadas

Temos assistido, no nosso país, a um evoluir impressionante da jovem mulher moçambicana na melhoria das suas condições de vida. Um certo número evolui pela via da conquista do canudo nos bancos das escolas e de universidades que florescem a olhos vistos. Outras há que, na labuta diária, também melhoram a qualidade de vida. Refiro-me as mukheristas, mamanas dos mercados e demais mulheres que com dignidade procuram sair do marasmo que é as suas vidas.

No entanto, não há bela sem senão, há muitas mulheres que fazem dos seus corpos verdadeiros instrumentos de trabalho. A esse propósito, bem na véspera da celebração do Dia Internacional da Mulher, o
Jornal Noticias publicou uma reportagem sobre a prostituição na segunda maior cidade do país, de deixar qualquer de queixo caído.

Alguns poderão dizer que os meios justificam os fins, sobretudo no que se refere às jovens estudantes universitárias, citadas na referida reportagem, que vendem-se pelo pagamento de propinas. Outros poderão estar contra, estão no seu pleno direito.

Sou da corrente do contra, as propinas não são caras a ponto de se enveredar por essa via para poder paga-las! Há muitas formas de ganhar dinheiro honesto, como baby sitter, como explicadoras de crianças e adolescentes, garçonetes, etc, só que nós nunca queremos aprender de outras culturas, aliás o que é digno e conquistado pelo suor do trabalho, na nossa terra, é inglório.

A questão não é pura e simplesmente o pagamento das propinas, isso é conversa para boi dormir. As nossas jovens, consumistas e obcecadas por futilidades da moda, ditada por elas mesmas, (unhas de gel, extensões, griffes piratas, quinquilharia e outros), não olham meios para serem vistas pelos outros como as tais, as “txunadas” de 1 à 30!

É esse tipo de “dra” que a sociedade precisa? Com as unhas lascadas de podridão?

sexta-feira, 21 de março de 2008

Lady capulana

Capulana, mukhume,
Xivite xa vovo, Minhembeti wa Maria, Xirozana
Tantos apelidos pra ti, Lady capulana!
Um pano rectangular de algodão ou de fibras sintéticas
Rica em cores vibrantes, motivos florais, animais, abstractos, reais
És rainha na vida da mulher
Desde tenra idade, meninice, adolescência, juventude, a acompanhas
Com ela vais crescendo, aprendendo, vivendo e sofrendo

Cingida a cintura, és testemunha impávida e serena
Do despontar dos seios da pequena Elisa
Serves de penso higiénico das suas regras
Cobres o sorriso envergonhado e tímido da jovem adolescente
Observas, como só tu sabes
O abraço ladrão do jovem Romão
Os beijos molhados
As carícias ousadas e atrevidas
Enxugas o sangue do romper do seu virgem hímen

Soberana, acompanhas a mulher pela caminhada da vida
Ao longe ouvem-se nkulungwanas!
_ É a família Zitha chegando! Vem roubar a nossa Elisa!
As mamanas cantando rebolam e remexem as bundas ao som de cânticos alegres
Vermelho, rosa, amarelo, um arco-íris amarrado nas cinturas esbeltas e rechonchudas
Lá estas tu, lady capulana!
_ Que venha a mamana Teresa!
Enrolada no corpo roliço da comadre desfilas e todas outras comadres invejam
És bênção que reconforta o coração da mãe que sua menina vai perder.

_ Hululululu! Lililililliiiiii…
Mais nkulungwanas ecoam pelo quintal!
As mamanas da cozinha suadas e sorridentes vem espreitar curiosas
No muro de espinhosa, aglomeram-se outros tantos curiosos
Raparigas de capulana desbotadas pelo sabão bingo, rapazes de barba incipiente
As fofoqueiras da zona, todos, todos querem ver o cortejo da boda
Aos ombros da família Zitha sai o baú da recém-casada repleto de capulanas
_ Hululululu! Lililililliiiiii…
A família rodeia Elisa que cabisbaixa, parte para seu novo lar
Seu vestido de batik rosa arranca elogios, que galante estás, lady capulana!

Esticas-te para albergares o ventre redondo de Elisa que amadurece lentamente
Logo no parto, acolhes o recém-nascido
Serves de fralda, de toalha, de lençol do novo rebento dos Zitha’s
Feita insingo, seguras firme o pequeno traquina no regaço da nova mamã
Proteges o petiz adormecido da orvalhada fresca da manhã
Cobres-o dos raios do sol picante do meio-dia
No regresso a casa, escondes seus olhos inocentes dos segredos da noite escura
Suada e cansada, enxugas suas lágrimas de dor, de alegria de ser mulher
Com ela embalas o primeiro filho e todos os demais que ela pare.

_ Nhandayeyo! Faleceu o cunhado Siza, irmão do papá!
As correrias, mala para que te quero
Aos prantos, Elisa arranca-te do baú Xivite xa uthomi que ajusta bem a cintura
Num zás trás, o pequeno Félix é arrancado do chão e amarrado pelo insingo
O xidjumba arrumado as pressas é posto na cabeça, a cubata fechada violentamente
_ Vamos mamã Celina!
No quintal do tio Siza, lá estas tu capulana
Apagada e lúgubre, enxugas as lágrimas teimosas que rolam pelas faces
Uma tia atenta cobre o defunto com uma capulana ancestral
Oh lady, viraste mortalha!

Capulana, capulana
És nobre, és rainha, és linda
Na mala, no baú, na carteira, amarrada à cintura
Na alegria, na saúde, na doença, na morte
Majestosa, sempre dizes presente
És objecto de juras de amor eterno
Das grandes damas da sociedade
Das mamanas dos dumba-nengues
Tu és e sempre serás uma lady, a lady capulana!