segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Licenciados

Há alguns anos, ingressar no ensino superior era privilégio para poucos e alguns. A concurrência era muito forte e as vagas para o acesso a esse nível insuficientes para todos. Os felizes contemplados, apesar de todas as vicissitudes (bolsa insignificante, escassez de material, distância familiar, etc.), empenhavam-se para obter, no final de sua formação o diploma de Licenciatura, garante de um futuro risonho, o presente que muitos vivem actualmente.

Alimentados pela perspectiva do mesmo sonho de sucesso, de cariz pessoal ou institucional, muitos afluem às diferentes e contabilizadas 38 academias em Moçambique. O objectivo primeiro e final é licenciar-se na área à escolha, exercer a profissão e, evidentemente, ser sempre bem sucedido profissional e financeiramente, afinal ninguém planta para não colher.

Nesse contexto, em diversas áreas, no país, anualmente avoluma-se o contigente de licenciados saturando, de certa maneira, o possível espaço laboral a oferecer a estes. Por exemplo, no professorado, ao invés de se dar primazia a professores com formação psico-pedagógica completa, o espaço é ocupado por pessoal despreparado para essa tarefa por falta de cabimento orçamental.

Noutras áreas, os licenciados de tanto vaguearem à procura de emprego à altura de sua formação acabam até "fugindo" da sua própria especialização para poderem ter um emprego que ao menos os satisfaça financeiramente. Face a isto que futuro terá o exército de licenciados que anualmente é engrossado (vem mais "chumbo" esta semana) por batalhões com licença para...?

E ainda ha pouco entrou a moda da pos-graduação...

3 comentários:

Jorge Saiete disse...

Ser licenciado é o que está a dar mana. Infelismente os empregos não não são criados na mesma proporção em que os licenciados são graduados. E como bem dizes, poucos conseguem emprego na sua area de formação, havendo casos de Quimicos que trabalham como técnicos de Recursos Humanos,heheheh. Salve-se quem poder.....
Nos proximos anos teremos até licenciados a vender agua nas estradas (como acontece com graduados da 12 classe).

Mzimu wa Akayinga disse...

Licenciados Ximbitane, Licenciados!!!!!!!!!Conheco colegas que ate depois de conseguir o diploma de licenciatura, foram ao IMAP hoje IFP formar-se para conseguir emprego! Outros? Ainda diambulam pela cidade. Nepotismo ao rubro. Filho de Chefe fulano e siclano ocupam as vagas legalmente para filho de Ze ninguem qualificado para a vaga. Conquencias: medico na oficina, mecanico no Hospital. Sociologo na Enginharia, Enginheiro na Sociologia....Esta na moda!

mãos disse...

Ximbitane,

Esta crise de vagas não é apenas do nosso lindo Moçambiquwe, sabe-se que em outros cantos do mundo há jovens a trabalhar na caixa dos supermercados onde o sistema informatico jea facilita o trabalho do mesmo quer em registo, assim como na facturação). Este é apenas um exemplo...o chato para mim esta na questão das vagas que são ocupadas com outrem, este por sua vez não mostra trabalho permanece com a vaga...o que concorreu legalmente está fora a espera de outro concurso, sem apadrinhamento nao há chance...

Para mim o perigo não será os licenciados vender água, mas estes e outros formados estarão a dirigir esquadrões...e será tarde para controla-los...

Não tenho uma proposta de solução a priori, apenas recorri as palavras de Samora Machel- " Podemos estudar muito, ler muito, mas para que servirão essas toneladas de conhecimento se não levarmos as massas, se não produzimos? Se alguém guarda sementes de milho na gaveta, será que vai colher maçaroca?"

(in A Nossa Luta, Samora Moisés Machel, Imprensa Nacional, 1975, Maputo, pags 23,24)

Cumprimentos