sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Banco 1 e os arranjos familiares

Os filhos são a riqueza dos pais, portanto quanto maior for o número, melhor”! Quem não conhece este ditado ou dele nunca ouviu falar como justificação para proles enormes? Bom, cada um é livre de pensar como quer e de fazer o que para si acha elementar.

É paradoxal a forma como os progenitores encaram a vinda dos filhos de sexo determinado. Para uns, uma filha é sinónimo de problemas, a curto prazo, infelizmente desconheço as reais motivações, mas se vivêssemos em sociedades em que os casamentos dependem de dotes, a história poderia ter o seu sentido.

Para outros, ter uma filha é sinónimo de riqueza de seus progenitores pois são elas quem lhes garantem uma velhice tranquila e isso nem sempre ou poucas vezes é pela via da profissão que exercem e dos rendimentos que dela advém, mas sim pelo casamento.

É de conhecimento geral que muitos casamentos são delineados no seio da família e as motivações para isso também são diversificadas. Ora porque não se quer uma filha “encalhada”, ora porque o homem em vista “manda mola”, o Banco 1 (já que também existem Casas), e logo é um potencial genro a não perder sendo que esta prática não é só característica das cidades. Assim sendo, aquele sentimento profundo que povoa os nossos sonhos e que esperamos que dure eternamente, o amor, vai para o ralo.

No campo, não se foge a regra, as motivações para o casamento, principalmente prematuros (entre raparigas e homens adultos) são as mesmas: aliviar-se do peso que a rapariga representa e/ou manter a ideia machista e preconceituosa de que a mulher não precisa formar-se pois para as suas funções de dona-de-casa e mãe não precisa de nenhum canudo.

Outro aspecto que ressalta destes casamentos “arranjados” pela família, ao contrário dos antigos em que os pais prometiam seus filhos ainda crianças à outra família, tem o condão de ser poligâmicos. Ou seja, logo à partida a família da moça aceita/obriga a que esta se case com um homem que já tem outra(s) Casa(s), transformando-a oficialmente numa Casa 2. O mais importante, é o volume dos Mt’s com os quais o homem “bate a mesa” no final de cada mês!

Nesses casamentos poligâmicos, onde o homem, ou Banco 1, “bate a mesa” comme il faut, não há razões de queixa, no entanto, não há bela sem senão. No campo, algumas mulheres para evitarem a convivência com outras esposas, continuam a viver na casa dos seus progenitores mas gerando filhos. Como consequência deste aumento do agregado familiar, aumenta também a despesa e se o marido não colabora há rixas.

Na cidade, talvez porque mais avisadas e experimentadas, as famílias até incentivam que as filhas procurem outro “Banco”, o 2, desde que este comparticipe nas despesas da casa e outros. Aliás, estes genros são tão essenciais na dinâmica familiar que em cerimónias da família nada se faz sem a chegada deste, indo-se, por vezes, ao extremo de não enterrar alguém a tempo e hora porque o Banco pagador está ausente!

8 comentários:

OFICINA PONTO E VIRGULA disse...

HUUUUUUUUUUU, a casa 2!!! quero crer que os filhos em maningue ficam na casa 1, porque na casa 2 e para fins de semana, passatempos e ate sao catorzinhas que sao mulheres da casa 2.

Anónimo disse...

Gostei da tua exposição! Tudo o que escreveste, na minha opinião remete para as desigualdades de género.

Infelizmente, as mulheres ainda são vistas como estorvo para a sociedade. Prova disso, é que quando elas cometem pequeno erro, a justificação é: "são mulheres!"

Alguns pais são os primeiros a dizer para as mães:"essa tua filha"!, esquecendo ou ignorando que a mulher sem sua accção não concebe, a não ser que seja por obra e graça do Espírito Santo.

Ximbitane disse...

Hummm, Ponto e Virgula, nao é bem assim que as coisas correm: catorzinha é so para txilar e mostrar ao proprio ego de que ainda se é capaz.

A casa 2, como diz o proprio nome, é algo fixo. Merecedor de todas e até mais regalias do que a casa 1.

Quanto aos filhos, cada macaco no seu galho: os da casa 1, na sua casa, e idem e aspas para os da casa 2. Nada de mixes!

Ximbitane disse...

Nyikiwa, minha irma de sangue, espero que nao estejas a ver no artigo um espelho da nossa propria e triste infancia! Mas como podes ver, nos, e outras mulheres vingamos sendo filhas das nossas maes.

Se ontem eramos filhas da mae, hoje, justamente por termos sido educadas e criadas por mulheres, somos mulheres com M maiusculo. Prova disso é que quando adultos os pais (homens) veem nas filhas a bengala para a sua velhice.

Puxa um pouco pela memoria e vais ver que esta historia tem traços comuns connosco e eu nem me tinha dado conta. Mas, rogo-te, nao guardes magoas desse episodio que ja enterramos.

Anónimo disse...

Olá Ximbita!

"Cada um sabe a dor e delícia de ser o que é." (Caetano Veloso).

Com esta de Veloso como é um Paí ou Mãe vai esperar um futuro promissor quando não o prepara treinando e dando os trunfos necessários para os filhos ganharem a vida?

É assim Ximbita! nas sociedades Moçambicana uma Mulher que não tem marido é mal vista mesmo com o déficet de homens que temos.

A poligamia não é para pobres, que depois esperam suas filhas para casarem para ter alguns troquinhos a maioria dos polígamos que eu conheço são gente rica (rei de gado, Farmeiros até empresários.

Agora, essa de ter muitos filhos e descontroladamente já não conseguir dar conta do recado até a sua descendéncia ficar para parte materna faz parte do nível de desenvolvimento sócio-cultural há dados que mostram que a Europa passou por isso.

Portanto, Ximbita ponderem

Ximbitane disse...

Obrigada, Chacate! Creio que ponderei e bem, pois o poder de ter filhos esta no regaço das mulheres e nao pendurados em passeatas pelos homens.

Tive o numero de filhos que acredito que o meu bolso pode alimentar e, o mais importante, luto para inculcar neles valores morais e materiais.

O facto de mulheres criarem seus filhos sozinhas é por culpa e conta dos homens que se isentam de uma das suas tarefas, na criaçao de condiçoes para os filhos.

Esses fugitivos, pensam que as maes de seus filhos querem lucrar com esse facto. Verdade é que as mulheres precisam de apoio na educaçao, mas essa nao é simplesmente financeira: os valores e sentimentos devem ser também transmitidos pelos pais.

Jorge Saiete disse...

"O facto de mulheres criarem seus filhos sozinhas é por culpa e conta dos homens que se isentam de uma das suas tarefas, na criaçao de condiçoes para os filhos"

Amiga, amiga! essa doi. Será sempre verdadeira esta afirmação. Conheço mulheres que preferem ser elas a cuidar dos filhos e não deixam os ex-maridos se aproximar dos filhos. Temos muito disso aqui na cidade de maputo,sobretudo entre maes solteiras com algumas posses. conheço um pobre sujeito que nem é permitido visitar o filho pura e simplesmente porque a mãe (ex-namorada) acha que é capaz de cuidar do seu filho e que não precisa de "trocos" do sujeito.

Claro que temos casos de homens que fogem das suas responsabilidades, como tambem temos mulheres que abandonam o marido com filhos e vão se juntar a um outro macho.

No fim do dia, eu acho que a problematica dos filhos desamparados não encontra solução na identificação e apedrejamento de culpados mas sim na análise profunda do fenomeno da instabilidade familiar e adopção de medidas que nos ajudem a reciperar o respeito e o lugar que a familia tinha no passado.

Aquele abraço

Ximbitane disse...

"O facto de mulheres criarem seus filhos sozinhas é por culpa e conta dos homens que se isentam de uma das suas tarefas, na criaçao de condiçoes para os filhos"

Saiete, entendo perfeitamente que essa afirmação doa. O meu erro foi ter generalizado, as mulheres nao estao isentas de culpa. Estamos quites?

Sei que existem mulheres que, por terem posses, preferem omiscuir o pai da vida de seus filhos. Isso é errado! É verdade que a alimentação e roupa são importantes, mas nenhum carinho de pai poderá ser substituido por playstations.

Se, nós mulheres, proibimos aos nossos filhos de verem o pai que tipo de pais/mães estaremos a fazer de nossos filhos? Os grandes exemplos levam-se de casa ou de seus membros.

A intenção também não é a de lançar pedras para ninguem, mas os numeros falam por si: muitas vezes sao as mulheres que ficam com os filhos. Esse ficar nao significa posse, os direitos e deveres para com os filhos deve ser dividido entre os progenitores.

Lamentavelmente as leis por cá sao muito permissivas quanto a isso. No Brasil, por exemplo, soluções para que os filhos possam viver com a mae e o pai estao em vigor através da guarda compartilhada e isso é bom para todos.

"Claro que temos casos de homens que fogem das suas responsabilidades, como tambem temos mulheres que abandonam o marido com filhos e vão se juntar a um outro macho."

Humm, macho? Amigo Saiete, convido-o a ver o artigo "Os nomes dos bois" no Vasikate!