quarta-feira, 23 de abril de 2008

Tráfico em "Roda Viva"

O programa Roda Viva, da TVM, direccionado para um público infanto-juvenil, abordou, sábado último, a questão do tráfico de crianças. É de louvar a iniciativa da direcção deste canal por levar ao seu público alvo uma questão que a todos toca e que muitas vezes as potenciais vitimas não são ouvidas ou não tem campo de expressão,as crianças e os adolescentes.

O debate foi interessante na medida em que as crianças (citadinas) mostraram estar a par da situação. Eis alguns dos depoimentos de reportagens efectuadas nas ruas da capital de Maputo:

Vagner, 13 anos, estudante da Francisco Manyanga: “as crianças aceitam ser aliciadas por terem falta de algo na família ou porque a família esta em crise ou porque preferem ter a vida fácil. A solução é obedecer aos pais”. Sonho do futuro? “Não sei”. Se um titio aparecer e prometer Mercedes, aceitas ou não? “Não”! E se quiser te dar muitas pitas bonitas? “Também não, porque acho que posso conquistar tudo isso sozinho estudando”.

Lenice, 10 anos: “Já ouvi falar de tráfico de menores, é quando levam as crianças para sítios, não sei para quê”.

Bianca, “tráfico de crianças é quando levam as crianças sem o consentimento dos pais para outros fins”. Medida de prevenção: “Não devemos falar com estranhos”.

Hanifa, 9 anos: Medida de prevenção: “Não devemos falar com estranhos”.

Samuel, 12 anos: “Para melhor combater o tráfico de crianças, não devemos aceitar rebuçados e nem falar com estranhos”.

E as crianças do meio rural? E as crianças que mesmo sendo citadinas passam por carências e não tem acesso a informação? Como prevenir-se-ão elas de tal crime?

No estúdio, a titia Nelly, convidada a debruçar-se sobre o assunto, duma organização que combate o tráfico de pessoas e que deu acompanhamento as meninas traficadas do caso Diana, chamou a atenção das crianças para o facto de que “ existem redes de tráfico e que quem recruta pode não ser a mesma pessoa que transporta e explora as crianças”.

Sobre as propostas de emprego que muitas vezes são usadas como meio de aliciamento, a titia Nelly disse que “as crianças nem sequer devem aceitar propostas/promessas de emprego pois não tem idade para trabalhar mas sim estudar”.

Para finalizar a sua alocução, a convidada disse que “quando uma vitima de tráfico é identificada, por exemplo, na Africa do Sul, procuramos pela família em Moçambique. Apoiamos o regresso da vitima e a sua reinserção na família e temos ajudado a muitas crianças”. Este comentário faz-me repor a questão da existência ou não de pedofilia em Moçambique ou com crianças moçambicanas que se pode ver no artigo Inocência roubada.

3 comentários:

Bayano Valy disse...

olá,
estou a descobrir uma nova casa. posso assim chamá-la? obrigado pelo comentário.

bem, não vi o programa mas acho que começa a ser fundamental dar vozes a outras pessoas. seria importante entender ou perceber que percepção tem uma criança das zonas rurais do fenómeno - me parece que as crianças das zonas rurais são as que mais sofrem do fenómeno.

até breve

Ximbitane disse...

Ola, Bayano!

Olha, em tempos idos critiquei o programa por estar vazio em termos de conteudo. Mas ultimamente tem havido debates interessantes e é muito mais interessante ver como as crianças/adolescentes encaram os seus proprios problemas.

Aproveito o programa para incentivar a minha filhota de 6 anos e em muito ajuda-me a po-la ao corrente dos riscos, deveres e direitos da criança.

O aspecto que realmente lamento, é que nem todas as crianças tem acesso a este tipo de informaçoes. Espero que as radios comunitarias, que pululam em alguns lugares, estejama a fazer algo nesse sentido.

Sei que a UNICEF tem estado a dar uma maozinha, mas se dessemos mais um dedinho...

Ximbitane disse...

Opsss, saltei logo para o fulcro da questao... sinta-se em casa, Bayano!