sexta-feira, 4 de abril de 2008

Mamana Josina

Sou Josina, heroína do dia-a-dia
Cedo desperto da esteira aconchegante
Mal rompeu o dia, busco a capulana estirada no ralador
Silenciosamente, abro a porta da minha cubata
Pego na lata e vou ao fontanário da zona
Carto agua, uma, duas, três vezes
Putz, perco a conta das idas e vindas
No canto do quintal, junto a lenha
Sopro as cinzas do lume, reavivo a chama da esperança
Puxo pela xicandarinha queimada e encho-a de água
São cinco horas! O galo canta!
Apressadamente varro o quintal
Recolho a roupa suja e ponho de molho no balde
Oiço o arrastar dos chinelos do meu homem
Corro pra latrina, pego no balde e deito a água fumegante
_ Papai, papaye! Já tem água di banho.
Procuro um xiguema de pão para o chá madrugador
Na tigela de plástico arrumo o xiquento do jantar
Embrulho tudo delicadamente, com muito amor
_ Antoninho? Antoninhou? Acorda, mane, vais trazar na scola!
_ Maria? Mariazinha?
_ Mamã!


Ouve-se a voz melosa da minha pequena
_ Pega na mbenga, vamos moer timbawene pra mabadjias!
Feito barata tonta, corro dum lado para o outro
O tempo, esse corre velozmente
Cedo tenho que chegar a contrução onde vendo pão com badjia
Antes passo pela padaria para gwevar o pão
As sete e picos, quando os portões da obra fecham, volto a casa
Minha filha pila o amendoim
Panelas pra que te quero
Faço xima, frito o carapau 10, hungelo o amendoim
Doze em ponto tenho que estar de volta a construção
Num cesto arrumo as panelas, as tigelas e colheres
Uff! A sirene toca, estou diante da obra
Trabalhadores suados e famintos aproximam-se
_ Mamane, tem o qué hoje?
_ Xima com caril de mandoinha com peixe, papaye.
_ Dá lá uma doze!
E recomeça a correria, tigela pra aqui tigela pra lá
É assim que ganho o pão!
Felizmente hoje consegui vender toda comida
Faço as compras do dia seguinte no dumba nengue
Cansada, retorno a casa a meio da tarde
_ Estou com fome, mamã.


Queixa-se o Antoninho, meu filho traquina
_ Come aquele xiquento que guardei debaixo do armário.
Pego no balde de roupa e começo a lavar
Corto a nhangana fresca e preparo a refeição da família
Enquanto isso, engomo a roupa do homem
Não tenho dia de descanso e nem feriado
Sábado vou ao canto coral e no domingo à igreja
E a noite tenho que estar quente e disposta
Sou ou não sou uma heroína?
Eu sou Josina, heroína do dia-a-dia!

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