quarta-feira, 30 de julho de 2008

Chapa escolar

2ª feira, número de crianças presentes na sala de aulas: 5! 3ª feira, número de crianças presentes na mesma sala de aulas: 9! Bom, este é apenas um exemplo do que se viveu na primeira semana de aulas, após as férias intercalares, numa escola primária pública da Polana Cimento, onde estuda a minha filha. Os motivos da ausência de alunos, numa turma com 48 crianças inscritas não é outro que a falta de um transporte especifico: o chapa escolar.

É por todos sabido que o transporte urbano, e não só, é o calcanhar de Aquiles de muitas famílias. Mas sendo honestos, grande parte da culpa desta situação, sobretudo para com crianças no ensino primário do primeiro e segundo ciclo/grau, é dos próprios pais que preferem enviar seus filhos para escolhas longínquas em detrimento das que existem nas próprias zonas de residência. O exemplo claro disso, está descrito acima.

Na perspectiva de querer minimizar essa preocupação, muitas famílias optaram por entrar na onda do chapa escolar. Chapa escolar sim, porque muitas vezes trata-se de um mini bus licenciado para o transporte semi-colectivo de passageiros e que por conseguinte é desviado de sua rota para o beneficio das crianças e adolescentes estudantes longe de casa e do próprio transportador.

A verdade manda dizer que algumas escolas privadas dispõem de uma rede de transporte para os seus alunos. No entanto, nas escolas públicas, que acolhem grande universo da população escolar, isso nem em sonhos ocorre.

Os pais, cientes de suas responsabilidades de levarem os filhos à escola, entregam-nos a pessoas, algumas vezes sem escrúpulos e que não olham meios para atingir os fins: o mais importante é ganhar dinheiro fácil descurando da segurança das crianças.

Poucos são os transportadores que celebram contratos por escrito, basta apenas a palavra e o que se assiste é que crianças que saem da sala de aula e vão directo a casa-de-banho, por exemplo, são literalmente “esquecidas” pelos transportadores. As vezes a carrinha não aparece ou aparece atrasada com as consequências que disso advém.

Reconheça-se aqui também a culpa dos pais que não exigem a celebração de contratos e logo não podem questionar as atitudes e/ou não cumprimento do acordado com os transportadores! Alias, o facto de não terem celebrado contratos escritos levou a que muitos chapas não se apresentassem à porta das crianças nos primeiros dias de aula e a consequência é o que se viu: salas vazias!

O mais grave, são as deploráveis condições nas quais as crianças são transportadas: sem acompanhamento de uma figura com autoridade dentro do próprio carro (o cobrador, esse, está com o braço na janela no papo com o motorista) e estão empilhadas umas por cima das outras. Felizmente a variada oferta de rotas satisfaz a procura e os preços, esses oscilam entre os 700 a 1000 Mts/mês consoante a zona e/ou o estado do carro: luxo ou reles. Se formos a fazer as contas do mês, os chapas escolares só saem a ganhar pois trabalham menos tempo e tudo é quase lucro.

Se levarmos em conta que cada carro de 15 lugares leva 20 crianças e que existem 3 turnos no fim do mês o transportador tem entre 42.000 e 60.000 Mt. Se, por ventura, incluirmos o curso nocturno o que significará 18 pessoas, a cifra aumentará mais um pouco sabido que a tarifa varia entre 1000 e 1200 Mts/mês, resultará numa renda entre 18.000 e 21.600. Portanto, em cálculos aproximados, estaríamos a falar de qualquer coisa como 42.000 a 75.000Mts, combustível contabilizado, isto só e apenas para os carros de 15 lugares!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Pare e pense !

De longe umas das publicidades nacionais mais bem concebidas, Pare e pense ! é o slogan da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) que em parceria com outras instituiçoes/paises promove uma terapia de choque no combate ao HIV/Sida. Na versão televisiva, a publicidade, que é bem simples e muito bem idealizada, não traz nenhuns artifícios e salamaleques como têm sido hábito.

Quanto ao conteúdo, este está ao alcance de todos, tanto dos que fazem parte de redes, dos que dela pretendem fazer parte e dos que, como Diabo, fogem da doença prevenindo-se e evitando relações promíscuas. Puro exagero, na verdade, pela forma como nos é apresentado o conteúdo, qualquer sensibilidade pode ser abrangida.

A história é representada por um diagrama com diferentes personagens, sugerindo diferentes níveis sociais e faixas etárias e narra uma história do dia-a-dia. A história real dos intricados envolvimentos sexuais que viraram mania neste país, sobretudo no meio urbano.

Tudo começa com o senhor Sitoe, casado e director de uma empresa e que está sempre ocupado com várias reuniões (no caso jovens raparigas). Uma das raparigas, envolve-se, por sua vez, com outros tantos homens e assim a teia (vários parceiros) se vai esticando e a rede se instalando (o HIV/Sida).

Mas, eis a transcrição (incompleta e, talvez, infiel pois uma e outra palavra podera ter escapado) da publicidade, que com muito sentido de humor e ironia à mistura, relata a nossa realidade social (onde todos os grupos sociais e idades mais propensos à infecção saltam à vista) e mostra que o sucesso e a progressão na vida provém da explosiva equação = sexo + dinheiro, onde homens maduros e de posses, (...)
envolvem-se com mulheres, as vezes, bem mais novas do que eles.

Os jovens acreditam que são mais homens quando tem a namorada, a pita de sacar cenas, a coroa que banca... Yeah, são uns players!

Diz-se também que as moças, essas, para além do namorado, têm vários ministérios (homens com posses) que ajudam nas diferentes despesas. Enfim, vamos lá ver como isto funciona, afinal!

Este é o director Sitoe, casado com a dona Amélia. Ele é uma pessoa muito ocupada: são reuniões (jovens raparigas) para aqui, reuniões (outras jovens raparigas) pra lá. Para a Kátia e para a Nati, o director Sitoe é um ministério: o das Finanças!

Mas não chega! A vida tá difícil e porque a universidade esta muito cara... a Nati, que namora com o Nuno, precisa de um ministério da Educação: o senhor Namwaka, que é casado. A Kátia tem um
swing com o Jango que também namora a Nina.

O Jango é um player! Faz manutenção a dona Débora, coroa, que é o seu ATM. E que é esposa do senhor Smith, dono dum lodge, que põe pressão na Bia (e não beer) que trabalha no caixa do restaurante e que também solicita os préstimos da Terezinha.

Mas, paremos um pouco! Se todos estes relacionamentos implicam relações sexuais, isso significa que todos têm relações sexuais uns com os outros!

Imaginem se o Jango tiver HIV! Então, pode ter passado pra Nina, pra Kátia e pra Débora. Portanto, todos correm o risco de ser infectados pelo vírus já que fazem parte da mesma rede de relações sexuais.
E você? Pertence a alguma rede? Pare e pense!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Mitos da amamentação

No último fim de semana, estava num supermercado, bem na fronteira entre a Malhangalene e a Mafalala, quando percebi que uma jovem mulher de trajes humildes e com um bebé às costas estava desnorteada, completamente perdida, saliente-se.

Aproximei-me dela e perguntei-lhe o que se estava a passar e ela, em língua local (ronga), explicou-me que procurava por yogurt. Orientando-me pelas placas que se encontram no supermercado, indiquei a jovem as prateleiras onde ela poderia encontrar yogurt.

Timidamente e talvez encorajada pela minha preocupação para com ela, a jovem pediu-me que lá fosse com ela pois na verdade ela nem sequer sabia o que era um yogurt. Não fiquei muito surpreendida, creio que isso é normal, sobretudo porque a nossa indústria de produtos lácteos não é visível.

Atenciosamente, acompanhei-a à zona pretendida, mas nesse entretanto, a minha curiosidade foi aguçada e a perguntei: “Para que queres o yogurt se nem sequer sabes o que é”? Ela prontamente respondeu que era para o bebé. “Para o bebé”? Perguntei eu ao que ela respondeu positivamente.

Dei uma espreitada ao bebé, que estava adormecido e repliquei: “mas este bebé nem sequer come papa”!? Timidamente explicou-me que tinha sido recomendação de um enfermeiro (?) após a hospitalização numa “maclinica” pois o bebé estava com baixo peso. Céus, quase subi as paredes! O bebé era tão pequeno (3 meses) e estava tão raquítico que tal alimentação só poderia acabar por piorar o seu caso.

Perguntei-lhe se ela não tinha leite de peito suficiente para alimentar o bebé ao que ela respondeu que este era abundante. Prontamente dei-lhe uma lição sobre a importância e a riqueza do leite materno na vida dos nossos pequenos e a jovem Catarina saiu segura do centro comercial com a nota de 50Mt que estava apertada na palma suada da sua mão...


É por muito sabidos que muitas mulheres optam por não alimentar os seus bebés com o leito de peito com o receio de ficar com os seios em “sapatilhas” e verdade seja dita, alguns maridos incentivam e apoiam essa ideia descabida. Esta concepção errada, e que apenas leva em conta o aspecto estético, põe em causa a integridade dos bebés e das próprias mães, algo que muitas desconhecem.

Como forma de alimentar os pequenos, recorre-se ao leite artificial ou em pó que tem as suas vantagens, reconheça-se, mas também muitas desvantagens que podem ser evitadas pelo simples levantar da blusa ou pela extracção e conservação do leite materno.

Nesse entretanto, a “lâmpada das questões” que em mim habita, acendeu-se: o que é feito nas consultas de SMI (saúde materno e infantil)? Será que aquelas palestras, que se davam nos centros de saúde, sobre higiene, cuidados e alimentação adequada do bebé já não têm lugar?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Maclinica

Tempo de espera? Tipo de atendimento? Terapia satisfatória? Desfecho esperado? Alguns destes e outros motivos podem justificar porque ir a clínica, é muito mais salutar do que ir ao centro de saúde ou outra unidade hospitalar, bom, isto pelo menos na cidade de Maputo e na sua periferia. Será isso sintomático da desgraça hospitalar pública?

Nas clínicas, é possível ter acesso a um variado leque de médicos especialistas, atendimento personalizado, um laboratório que não condiciona o horário de recepção de amostras e de entrega dos resultados, equipamentos e materiais aos chutos e pontapés [pelo menos é o que parece se bem que para cada paracetamol se paga o preço duma embalagem] e ainda oferecem Planos de Saúde que podem ser assegurados pelo local de trabalho [quanta sorte!] ou por si próprio. Mas, essas clínicas, não são acessíveis A profundidade dos bolsos de todos!

O pessoal da periferia, também se vê na obrigação de recorrer às clínicas privadas [ou a lugares com essa etiqueta] sobretudo no período nocturno ou na hora do Diabo, momento em que, estranhamente, as doenças mais atacam [os cientistas por certo têm uma explicação para o fenómeno].

As maclínica da periferia, ao contrário das que bem conhecemos [mesmo que seja do lado de fora] resumem-se em quartos minúsculos ou garagens, se bem que ultimamente estão em franca expansão [parecem até os móteis que proliferam nessas bandas], tal é a procura [já até há internamento!].

O prefixo ma-, em línguas do grupo Bantu, indica o plural de substâncias ou coisas incontáveis (Ngunga, 2004: 109), logo, maclínica designada clínicas em Ronga.

Compostos por uma mesa de atendimento, duas ou três cadeiras, um armário onde se guardam os medicamentos e uma cama para observação, as maclínica são asseguradas por enfermeiros, que desempenham o papel de médicos, nos períodos de folga ou de descanso, e por serventes, que fazem o papel de enfermeiros [no caso, será a esposa do enfermeiro a servente?].

Na maior parte das vezes, nenhuma análise laboratorial é efectuada, bastando o testemunho do doente e/ou do seu acompanhante para se fazer o diagnóstico da doença, para a qual é sempre fornecida uma terapia. Engane-se quem pensa que logo a primeira é passada uma receita: os medicamentos são vendidos mesmo ali, e não em farmácias, como nas clínicas licenciadas [não é esse, para além dos mercados informais, o real mercado dos medicamentos roubados?].

No caso da não existência da terapia adequada, nas maclínica, recomenda-se que se volte no dia seguinte [o tempo suficiente para se “procurar” nos armazéns e ou em farmácias do hospital, não é? Basta uma chamada a alguém da rede e...] ou é passada uma receita, mas com o carimbo duma unidade sanitária de referência e assinada por alguém com poderes para tal.

Outro atractivo das maclínica, é a tabela de preços que a todos satisfaz, sendo que para adultos e crianças o valor é diferenciado. Nas maclínica, como noutras unidades sanitárias tudo se trata desde malária, diarreia, infecções, etc. e se fazem abortos (havendo até maclínica ginecológicas exclusivas para tal) e de lá muitos saem satisfeitos, se olharmos para o movimento desusado do vai e vem.

Como se pode depreender, o sucesso das maclinica é tal que raramente alguma é denunciada. Acredito que se o ginecologista mecânico (o Nelson Bata) não tivesse sido muito ambicioso, no sentido de se inserir no seio da classe médica, na periferia ele teria uma clientela fiel.

Que o enfermeiro em muito têm contribuído para a minimização dos problemas de saúde no país, isso é sabido, pois é esta classe que tem segurado as seringas, nas zonas rurais, devido a falta de médicos. Mas, ... há sempre um mas!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Meu eu poetico?!

Visite meu outro recanto, o das emocoes a flor da pele.
Uma homenagem poetica a Lady capulana e aos sentimentos da alma que ela guarda, no Nó da capulana.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Populacao versus Planeamento Familiar

"Com mais de seis biliões de pessoas, a população do mundo aumenta anualmente em 75 milhões, sendo que metade tem menos de 25 anos de idade. Jovens entre 15 e 24 anos somam um bilião, o que significa dizer que existem 17 jovens em cada grupo de 100.
Mas o número de pessoas com mais de 60 anos, por sua vez, chega a 646 milhões, numa proporção de uma em cada dez. Esse número ainda é acrescido todo ano em mais de 11 milhões, o que caracteriza um envelhecimento da população mundial.
Conforme estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) para o ano de 2050, a percentagem de jovens com menos de 15 anos de idade deve diminuir de 30 para 20%, enquanto a quantidade de idosos deve crescer 22%.
Nos países pobres, 96 milhões de mulheres jovens são analfabetas, 14 milhões de raparigas dos 15 aos 19 anos tornam-se mães anualmente e diariamente seis mil jovens são infectados pelo HIV."*
O dia Mundial da Populacao, no nosso país, é celebrado sob o lema é "Planeamento Familiar é um direito: Vamos torná-lo real" numa altura em que sao despoletados casos, no país e além fronteiras, pelo nao acesso a todos deste direito humano básico.
A nível mundial, a celebracao deste dia tem como mote varios objectivos onde se pode destacar a procurar soluções para o problema que representa o crescimento "desordenado" da populacao.
Esta mais do que claro que a solução não se encontra apenas no controlo da natalidade, pela via do planeamento familiar, mas passa também pela melhoria de vida das pessoas, particularmente das mulheres. Também contribui para a resolução deste problema a melhoria das condições de saúde, educação, habitação e oportunidades de emprego, algo que esta aquém de muitos de nós.
* Dados da AngolaPress

terça-feira, 8 de julho de 2008

Urgência adiada

Ter acesso aos cuidados básicos de saúde, a qualquer momento, é uma necessidade que deve ser respondida pelo Governo, mas ir a uma unidade sanitária e ser atendido por um médico, que seja de clínica geral, é um verdadeiro luxo!

No Hospital Central, sem a famosa guia de transferência, até é possível ser-se atendido sem stress, basta pagar a tal taxa moderadora. Lá dentro, muita coisa mudou, parabenize-se: é limpo, o cheiro é neutro e até os lavabos dispõe de papel higiénico, sabão para as mãos e, o mais importante, água.

Mas nas Urgências de Pediatria, que também tem um aspecto impecável, a porca torce o rabo: só mesmo com a guia de transferência duma outra unidade sanitária e mesmo com febres altas, vómitos e diarreia (algo que no papel colado na vitrine da recepção é indicado como prioritário) há o risco de o mandarem dar uma curva.

O procedimento é simples: uma vez no guichet da recepção [não sei porque dão esse nome, devia ser guichet de reenvio] tem de se deslocar, sob indicação aos berros da recepcionista que está lá num canto da recepção [que possui, a olho nu, 2m quadrados] à um corredor logo a esquerda. Nos bancos desse corredor, aguarda-se que uma enfermeira venha saber o que o leva a procurar tais serviços.
Se você diz que a criança está com vómitos, ela deve fazer uma demonstração (?) comprovativa in loco disso, entenda-se, vomitar diante da enfermeira.


Se você diz que a criança está com febres altas, o termómetro que à criança é colocado, deve logo indicar 40ºC! Isto sabendo-se que quando uma criança está com febres tudo se deve fazer para baixar a temperatura, sob o risco de provocar convulsões, como deixá-la mais fresca ou mesmo enfiando um supositório para tal goela acima.

E se a alegação é de que a criança está com diarreia, no momento, deve apresentar a papa fecal!!! Portanto, ai de si se a criança não o faz in pressentia ou se antecipadamente mudou a fralda! E agora com as descartáveis...

O veredicto é ir ao hospital geral ou procurar o posto de saúde no dia seguinte e, nesse entretanto, a criança desidrata-se e stressa-se, agravando o seu estado, e a você, que paga imperativamente os impostos, também. Se bobear, como dizem os brasileiros, depois da sua ida a outra unidade sanitária, na escala inferior às Urgências de Pediatria, corre o risco de lá ser insultado por negligencia maternal/paternal e “chimbam-lhe” com uma guia de transferência que lhe garante outro lote de palavras insultuosas nas Urgências de Pediatria.

Se você cai nas graças da enfermeira, em serviço na triagem, volta a recepção, passa pelos trâmites habituais, põe o petiz a pesar, é (re) medida a temperatura e vai à fila esperar pela sua vez de ser atendido. Uf!!!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Do armário para os palcos

Sair do armário”, é uma expressão usada para designar pessoas que assumem publicamente a sua homossexualidade ou bissexualidade. No entanto, na nossa sociedade, essa “saída”, não é pacifica e nem reúne consensos: há claramente muita gente contra e pouquíssimos a favor [talvez eles mesmos e quem, conformado, tem na sua família alguém com essa inclinação sexual].

No nosso país, muitas dessas pessoas têm capacidades para, por exemplo, adoptar crianças e muita vontade de se casar, mas não podem. Se namoram na rua, ou são alvos de chacota ou de olhares condenatórios: a sua “liberdade” amorosa tem que se enclausurar entre quatro paredes e que dela nada transpire.

Corre pela boca do povo e tive a oportunidade de testemunhar pela telinha, na 2ª edição do programa de entretenimento “Show de Talentos”, da STV, com o patrocínio da “Tudo Bom”, a performance da curiosa dupla que se auto intitula La Biba e La Santa.

El fenómeno La Biba e La Santa concorre na categoria DragQueen, uma verdadeira inovação no entretenimento moçambicano, que designa homem que se este com roupa de mulher (que também se pode designar DragKing ou Genderqueer) é um verdadeiro caso de sucesso.

Na edição em referência, para além dos rasgados elogios do júri (composto por Garrido Jr., Maria José Sacur e Jorge Vaz) e das notas elevadas (9-9-9, sobre 10), arrancaram, pela sua performance, efusivos aplausos da multidão presente na Catedral das Artes, vulgo Cine África. Consta-me que, na 3ª edição, a pontuação também foi conveniente ao espectáculo apresentado (8-9-9).

Os DragQueen são conhecidos pelos seus exageros no vestir, nos modos, na maquilhagem e no estilo cómico de se apresentar e geralmente se mascaram como sendo do sexo oposto, fantasiando-se com o intuito geralmente profissional de fazer shows ou apresentações, geralmente no meio GLBT, de que fazem parte.

Embora na maioria das vezes os DragQueens ou DragKings sejam homossexuais (gays ou lésbicas), essa orientação sexual nem sempre é a norma: podem ser bissexuais, assexuais e até mesmo heterossexuais.

O ascendente sucesso de La Biba e La Santa é invulgar, tendo em conta que, em geral, a homossexualidade é mal vista na nossa sociedade, sendo portanto alvo de preconceito e de discriminação, isto se nos guiarmos pelo que a dupla nos mostra: que são realmente gays [pelo menos o nickname Biba é claramente sugestivo dessa tendência].

Uma forma tão expressiva de manifestar tendências sexuais, contrárias ao “aceitável”, nunca foi tão visível, se pusermos de lado o Caso Engrácia/o que deu a cara em jornal, em debate televisivo sobre a sua tendência sexual e, recentemente, foi indicada/o como a pessoa que roubou e divulgou o famoso video do Caso Ziqo.

Não se trata apenas da “saída” de duas pessoas, outrossim, La Biba e La Santa, mesmo antes do “Show de Talentos” já manifestavam publicamente a sua forma de ser e de estar. Subentenda-se portanto que, pelo menos, no seio da família, amigos e vizinhos, a dupla (em conjunto ou individualmente) assim tem vivido e se imposto pela sua opção.

La Biba e La Santa, mesmo que não vençam o concurso, “saem” pela porta grande porque a vontade do povo, manifestada pela ditadura do voto, assim manda. Ganha a STV e a “Tudo Bom” pois a dupla está a fazer furor, o que aumenta e em muito os níveis de audiência, e acima de tudo ganham os gays, lésbicas, bissexuais e travestis/transexuais moçambicanos pois a sua saída do armário já não será por uma fresta.
Vai votar? O voto é secreto e ganha-se uma pipa de massa!

Sentença (in)esperada

Numa velocidade sem precedentes, o Caso das 17 crianças foi julgado e os réus turcos condenados a pena de 1 ano de prisão devendo pagar, a cada uma das suas vitimas, 75.000Mt e logo que cumprida a pena, deverão ser imediatamente explusos do país.