quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Votei!

Sim, ja fiz a minha parte.
Exerci o meu dever!
Votei!

Trago na ponta do meu dedo, a marca desse meu feito em prol de um Moçambique melhor e que seja de cada um e de todos os moçambicanos.

Aguardo paciente, mas não eternamente, que a pessoa (Presidente) e os partidos (Assembleia e Provinciais), aos quais votei, correspondam as minhas expectativas e cumpram com promessas recentemente enunciadas sob pena de não reconquistarem o meu voto em 2014.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Estórias em Maputo (8)

Bancas de mercados formais quase às moscas, mercados informais ocupados por pessoas com ofícios que os obrigam a trabalhar num mesmo local (alfaiates, sapateiros, cabelereiras,...) e taxas municipais altas (?) e que, aparentemente, não beneficiam os seus contribuintes, parecem ser os motivos que levam a que muitos informais saiam dos locais pré-estabelecidos para os passeios das ruas de Maputo. Por esse motivo (?), especialmente na Baixa de Maputo, peões, que não encontram espaço nos passeios e automobilistas, que pretendem estacionar ou transitar, disputam as bermas da estrada.

Nas ruas de Maputo, se vende de tudo um pouco: produtos alimentares (arroz, batata, cebola, tomate, alho, couve, alface, óleo de cozinha às tampinhas, carne, peixe...) ou pronto a comer (badjias, mahanti, pão, sandes, arroz com caril, peixe frito...); pronto a vestir (saias, casacos, vestidos, calças, roupa interior...) e calçado (chinelos, sapatos, sapatilhas, sandálias...); para petiscar (amendoim torrado, ovo cozido, espetadas, água e sal...) e para beber (água, sumos, refrigerantes, cerveja, bebidas espirituosas...); artigos de lar (lençois, loiça, toalhas, bacias, panelas) e automóvel (sprays, tapetes...) e até ... enfim, um leque de bens passíveis, claro, de descontos de 5, 10, 15, 20, 30 ou 50%.

Em algumas zonas da Baixa de Maputo, nas avenidas Guerra Popular, Zedequias Manganhela, Filipe S. Magaia, dignos epicentros desta avalanche de vendedores informais, é mais notório. Por isso, calcorrear o passeio é uma verdadeira odisseia pois deve-se estar atento para não arrastar para o chão peneiras com amendoim ou castanha, panelas, garrafas, cadernos, CD’s, etc., sob risco de ter que os pagar ou então, entre uma esquivadela e outra, ser-se roubado por guindzas que não perdem nenhuma oportunidade de facturar com o alheio.

Na zona da Ronil, do muro do Cemitério (guarda-fatos fashion) à zona da Estátua, os passeios estão transformados em vitrines ambulantes. O pudor há muito que caiu no esgoto tanto mais que, para o desespero púdico de muitas mulheres, jovens rapazes ousam esticar, diante do nariz de senhoras e senhoritas, com muito à vontade, ou então negócios não são negócios, calcinhas e soutiens, novos e usados sem problemas. Alguns vão ao exagero de, ao escolher uma peça intima que acham servir a determinada cliente, sobretudo as mais avantajadas, excedem-se andando atrás dessa cliente sob pretexto de que "te vai servir, mana".

No entanto, porque parece que o espaço nos passeios já não chega para todos, ou porque se cansaram das corridas do tipo caça à mercadoria (!), estranhamente não ao homem, por parte da Polícia Municipal, que até ensaiou incursões com alguns espécimes caninos, ou porque o segredo para o sucesso talvez seja ser ir ao encontro dos clientes ou então porque a disputa de clientes entre os próprios vendedores é tanta que há mais prejuízo do que benefício, alguns vendedores tornaram-se ambulantes no verdadeiro sentido da palavra.

Carregados como jumentos, com mercadoria na mão, em cauxas, em cabides por eles mesmo modificados e criados, em sacolas (sujeitas a constantes questionamentos da policia, santa paciência!), carrinhas de mão ou em txovas, os vendedores deambulam de um lado para o outro da cidade. No segundo anel da cidade (entre a periferia e a zona chique), estes vendedores, aos berros anunciam o produto que têm para venda: "ximateeee, ha ximate haleno!; coco, coocooooooo...; co’ve, co’veeeeeeeeee...".

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Estórias em Maputo (7)

A título póstumo, dedico este post ao zeloso e fiel empregado Luís, que dedicou, por mais de 10 anos, todas as suas forças e energias ao serviço do meu padrinho, em particular, e de minha familia, em geral, e que foi covarde e brutalmente assassinado e enterrado no seu local de trabalho. Paz a tua alma, Lulu!

Mal o sol despontou, um cortejo de mulheres, das zonas suburbanas, se dirige apressada à paragem de chapa ou machimbombo mais próxima: o objectivo é "apanhar" os primeiros carros. Se for o autocarro, melhor, assim terão direito ao bilhete de ir e vir, que se compra imperativamente antes das 7 horas. Este exército, de jovens e mulheres maduras, tem como destino a zona de cimento e betão. São as nossas empregadas domésticas.

Conforme o contrato, fatalmente verbal, excepto raríssimas excepções por parte de estrangeiros e de alguns nacionais, os horários de entrada variam entre 6h e 7h30, de modo a que estas possam preparar o pequeno-almoço e endireitar a roupa dos patrões, preparar e acompanhar os petizes à escola ou creche ou então ficar com eles em casa visto que os pápás vão trabalhar.

Logo, logo, estas mulheres entram na roda viva que é o seu trabalho laboral: lavar, varrer, escovar, limpar, comprar, arranjar, organizar, pagar, cozinhar, engomar, coser, levar, buscar, levantar, sacudir, ... initerruptamente até, no minímo, 17h, sem pausa, sem sequer uma folga tranquila até para comer algo! Sim, senhor, não restam dúvidas, estas mulheres trabalham que se farta.

Em algumas casas, para que os patrões não se chateiem com os atrasos "por causa dos chapas ou do tráfego que era grande, sinhora", as empregadas tanto das rendodezas como lá da terra dormem no local de trabalho, não vá o Diabo tecê-las. Para esse grupo, o dia começa mais cedo ainda e só termina quando todo o mundo vai dormir. Imagine-se se a "sinhora" estuda à noite ou se o patrão, professor algures, em biscatos e tricatos, exige comida quente ao jantar!

As empregadas domésticas, por força de sua actividade, são melhor conhecedoras do lar do que as próprias donas de casa. Frases como "Dona manhane*, onde está a minha blusa bege?". Bege? Se deve questionar a empregada doméstica, é prova disso. Há também empregadas que pelo seu ganha-pão acabam chocando com as suas tradições culturais pois são literalmente obrigadas a lavar as roupas intímas da senhora, mesmo as que dona madame suja com as regras mensais, sublinhe-se, numa total falta de respeito para com estas.

Noutras casas, de uma certa casta da sociedade, os empregados, para além de lá dormirem, só labutam entre a hora de levantar dos patrões (supomos 6h) e a hora de abrir a loja (imagine-se que abram às 8h30, então até às 8h). O segundo período de trabalho ocorre entre o fechar da loja (para a ida à mesquita e a pausa do almoço) e o regresso para a reabertura, no período da tarde. O terceiro e último período ocorre a partir do fecho da loja (entre 18h e 20h) até a hora em que os patrões se vão deitar (sabe-se lá a que horas!!!).

Durante esse entretanto, de ciclos de trabalho diário, os empregados por serem considerados, sem motivo comprovado, ladrões, ficam confinados à espaços limitados, geralmente varandas traseiras, vão de escadas ou na parte traseira das carrinhas dos patrões, muitas vezes sem condições para satisfazer as suas necessidades fisiológicas básicas, quer sejam as necessidades menores ou maiores como beber um copo de água. Já agora, em que dimensão fica esta última necessidade vital?

Como se não bastasse actos poucos desabonatórios para com os hábitos culturais desta gente e para além de labutar mais do que o tempo que é humanamente possível e aceitável, esta classe de trabalhadores (nem vale a pena aludir aos salários, que são uma vergonha), quando adoence, mesmo que justifique convenientemente (ainda que seja verdade que um atestado médico se compra nos hospitais), lhe é cortado o magrérrimo salário e não usufrui dos direitos morais de uma licença de parto e de férias com vencimento e de um subsídio de nojo, em caso de falecimento de familiar directo.

*fulana

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Estórias em Maputo (6)

Compras! Há quem não goste de fazer, sobretudo se isso implica procurar pela melhor oferta em vários lugares, por melhores preços. Há quem deteste ter que cheirar, pesar, repesar e penchichar mas, de forma geral, no final das compras, todos querem é encher a despensa ou guarda-fatos gastando pouco e não comprar gato por lebre.

Actualmente, fazer compras é um risco. Quer seja em grandes, médias ou pequenas superficies (supermercados, bancas na rua, mercados, mercearias e armazéns de venda à retalho), as trapaças nas compras, dependendo da sorte, subtileza e atenção do comprador, tanto podem levar ao prejuízo... como ao benefício.

Já se sabe que maior parte das balanças dos mercados está viciada. Ao invés de se pagar pela medida solicitada, paga-se o dobro e quase o triplo do produto solicitado. No Mercado do Peixe, por exemplo, os clientes se não querem comprar tripas no lugar de escamas, devem levar suas próprias balanças. No entanto, no Mercado Central não se aceitam balanças de fora: "ou compra ou deixa", como dizem as mamanas.

Outro risco, que a cada dia se amplia, ocorre nas grandes e médias superficies. Se for pagamento via cartão, debitam valores acima do que realmente comprou e no final do expediente, simulando que o cliente pagou a mais e que lhe deve ser restituido o dinheiro, no caso vivo, retiram o dinheiro da caixa para a tal compensação e este "compensa" no bolso do caixa.

Por outro lado, se se escapa da "compensa", há que estar atento aos carregadores no itinerário loja-carro, sobretudo se se tratar de muitas compras. Como defronte de quase todos estabelecimentos comerciais há vendedores ambulantes (?) e guardas de carros (?), nesse vai-e-vem, se o comprador não estiver suficientemente atento, alguns sacos correm o risco de ficar retidos pelas pessoas anteriormente citadas.

Longe de alguns dos perigos descritos, ir às compras algumas vezes é salutar para quem entra em connections bastam os passos à seguir: ir a loja, identificar o produto que lhe interessa, informa-se sobre o preço, fazer cara de escandalizado, informar ao vendedor que tem metade do valor, aceitar a infalível (?) proposta do vendedor, esperar um pouco e... comprar o produto fora da loja.

Engane-se quem pense que o connection só serve para compras pequenas, banais ou fúteis de blusas, capulanas, tecidos, carteiras e sapatos. Leitores de DVD, telemóveis, fogões com 6 bocas, geleiras, arca frigorífica de 1500l, com direito a entrega ao domicilio, fazem parte do leque de bens e produtos que podem ser adquiridos via connection...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Dia-a-dia na escola

Em nossas escolas, acontecem muitas coisas. Algumas delas testemunhamos quando o facto é narrado nos media ou então por alguém ou um familiar que vivenciou uma situação, geralmente triste. Verdade seja dita, dentro dos limites da escola vive-se muita coisa boa... má.

É de conhecimento geral que as escolas existentes, em particular na zona de pedra, foram construídas no tempo colonial. Também se sabe que essas escolas foram construídas para albergar determinado número de pessoas (estudantes, alunos e outros autores)... pois, aí a porca torce o rabo!

O superpovoamento da cidade de Maputo e consequentemente das escolas obriga a que sejam estabelecidos vários turnos para que todo mundo possa beber da fonte da sabedoria. Acrescenta-se a isso o facto de vários alunos não conseguirem lugar no período diurno o que cria condições para que existam 4 turnos.

A título de exemplo, uma escola pode englobar aproximadamente 3000 alunos, distribuídos em diferentes turnos. Entretanto, essa escola dispõe de 3 espaços sanitários: 1 para os professores (homens e mulheres), 1 para as meninas e outro para os meninos, havendo em cada um 4 cabines.

Fazendo as contas, por cada turno há uma média de 750 meninos e imaginemos que metade disso seja dividido igualmente pelos sexos. Dividindo esses meninos pelas 8 cabines, teremos uma média de 93.75 indivíduos a fazer uso das casas-de-banho em 4 horas (um turno).

Puxando de novo pela calculadora, num único dia, uma cabine sanitária recebe em média 375 alunos! Ah, sublinhe-se também que a distribuição da água, da rede geral, ocorre das 4h às 9h da manhã. Em que estado ficam os sanitários algumas horas depois? Evidentemente, por maiores e melhores que sejam as intenções, o factor higiene entra em crise.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Standlândia

Que Maputo se transformou, sobretudo para quem vive e passa frequentemente por esta cidade, não há sombra de dúvidas. Para bem dizer, na cidade de Maputo, em termos de número, parece haver mais stands de venda de carros do que escolas. Isso talvez justifique os 35 000 veiculos que atravessam diariamente a Portagem de Maputo e só nas horas de ponta.

Por exemplo, na Av. Marien N’Guabi, Av. De Angola, Av. Guerra Popular e Av. 24 de Julho, há entre 4 e 7 stands de vendas de viaturas. Na Av. 25 de Setembro, na Av. Amilcar Cabral, na Av. Vladimir Lenine, há outros tantos (entre 2 e 4). Nessas mesmas avenidas há, na Av. Marien N’Guabi 2 escolas, na Av. De Angola também 2, na Guerra Popular idem e aspas e 4 na Av. 24 de Julho (escolas ou centros de formaçäo de referencia).

Pode-se constatar, portanto, que em Maputo vende-se carro como se vendem tangerinas em Julho, amendoim torrado todos os dias e badjias frias à porta da padaria. O mais engraçado é que esses stands, tal como cogumelos selvagens ou cacana, que melhor germina em meio inapropriado para algo que se consome (latrinas), nascem e crescem em espaços täo microscópicos que as manobras säo feitas, seguramente, com uma fita métrica.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Estórias de Maputo (5)

Diz, quem está atento, que tudo se complicou quando Moçambique foi abalado pela guerra civil (?) que em nome da democracia (?) devastou todo o país. Com essa guerra, a procura de locais seguros levou a que muita gente se preocupasse em procurar segurança em casa de familiares que viviam nas grandes cidades.

As consequências dessa procura, não se fizeram tardar: superpovoada a cidade rebentou as costuras! Ao saltarem as linhas dessa costura, rebentaram-se fossas e as casas, preparadas para acolher determinado número de habitantes, começaram a acolher o dobro, o triplo e até o quadrúplo de habitantes no mesmo espaço.

Algumas pessoas, que não tinham familiares ou cujos familiares não os podiam acolher, construíram casas "à rasca" em locais inadequados para a contrução e habitação por não reunirem condições adequadas de saneamento como, por exemplo, nas duas margens do troço entre a antiga Maquinag (hoje ISDB) e a portagem de Maputo.

Na cidade de pedra, posto que algumas casas dispunham de cómodos extras para arrumos (dependências e caves) estes serviram de local de habitação. Felizmente, com o advento da paz, criaram-se condições para que cada um retornasse ao seu local de origem e alguns assim o fizeram mas, um número significativo persistiu e insistiu em viver na town.

Alguns, mais moralizados com a paz, enveredaram pela auto-construção e com isso nasceram novos bairros residenciais, alargando o território da Grande Maputo. Outros houve também que, com espirito empreendedor, enveredaram pelo mesmo caminho, deixando as suas casas da town arrendadas ou fazendo o inverso.

Na town, a bulha por um tecto continua. Visto que muitas dependências, conhecidas como "depes", são microscópicas, pois albergam famílias inteiras, os citadinos começaram a transformá-las aumentando cómodos. Mesmo em terraços, onde as depes formam-se pelo caimento do tecto, sob risco de desabarem, ocorrem transformações que as tornam flats e as valorizam no mercado imobiliário.

Também nos bairros da periferia, as depes são um negócio em alta! Se antigamente casas com quintais enormes eram admirados, hoje admiram-se as casas com maior número de dependências nos seus fundos. Bem feitas as contas, depe ou flat, humanamente modificada, o mais importante mesmo é viver na Grande town!